A diplomação como enunciação de eficácia de um indivíduo, é um rito demonstrativo-futuro: o quê o diplomado pode produzir quando no exercício do cargo designado peal diplomação. Conhecimento das temáticas, ser detentor desses saberes específicos do cargo, dominar um conjunto de técnicas para que esses saberes sejam transformados em realidades práticas, e, por fim, serem reconhecidos pelo meio ao qual foram encaminhados. Temos, então, a confirmação social da diplomação.

A NOSTÁLGICA DIPLOMAÇÃO MUNICIPAL

Ontem, dia 18, foram realizadas as diplomações do prefeito, seu vice e dos vereadores eleitos para os mandatos 2009-2012. Todavia, nem o rito em seu espaço perceptivo de simulação, metamorfoseado em signos que criam a ilusão do poder, pôde ocultar a espectral nostalgia da diplomação municipal. Personificada na maioria dos diplomandos ineficazes para a práxis do demonstrativo-futuro, a democracia, e a ameaça de cassação de muitos, mais a pública cassação do prefeito Amazonino (PTB) e seu vice (PP) Carlos Sousa, pedido pela ilustre juíza Maria Eunice Torres Nascimento, a nostalgia regeu o baile dos vencidos. Foi a mais dolorosa cerimônia de diplomação ocorrida na história da chamada política amazonense, versão manauara. Não era para menos. O pêndulo do afastamento da vida parlamentar elevado sobre as cabeças de edis erguidos pela compra de votos, contas recusadas, recursos escusos para ludibriar o eleitor, onde um candidato-oculto foi eleito simulado na pessoa manifesta do pai: eleitores votaram no filho acreditando estarem votando no pai, que fora cassado na eleição passada.

A NOSTALGIA DO PREFEITO ELEITO

O prefeito eleito Amzanonino pode não ser um intelectual nos graus de um Nietzsche, Marx, Sartre, Barthes, Adorno, Foucault, Toni Negri, Deleuze, Baudrillard, ou outros menos intensivos, mas de qualquer sorte, é o intelectual que afirmou em entrevista ao jornal A Crítica. Por tal, em sua própria auto-classificada intelectualidade, que, segundo ele, o povo desconhece, pois só o tem como “Negão”, sabia muito bem que não havia motivo para festa, por isso não iria rir à toa. Com uma cassação já publicada em primeira instância, uma ação jurídica-eleitoral por multa não paga, e mais contas não aprovadas na íntegra, elementos jurídicos suficientes para tramitar pelo Ministério Público, com endereço ao Tribunal Superior Eleitoral – TSE, tribunal com poderes decisórios definitivos, como entrar na folia natalina-passagem de ano? Amazonino sabe o Brasil que está vivendo, assim como a maioria da população. Daí encontrar-se comedido. Daí nem a euforia de seus eleitores dissipados do real político que lhe ronda, nem a subserviência de seus aduladores mais próximos, como diria o filósofo Spinoza, não lhes causarem frenesi, nem, como poderia bradar o colunista social Alex Deneriaz, “borbulhanças mil”.

O DÉJÀ VU DA POSSE

Dia primeiro de janeiro tem posse, também garantida pela medida cautelar do juiz federal Agliberto. O já visto se fará. Ninguém precisa ser Deus para afirmar o teológico clichê, “O futuro a Deus pertence”. Amazonino, por enquanto, conhece o seu próprio futuro eleitoral. Assim como a população de Manaus. Na passagem de ano pode vestir-se a caráter, tomar uma boa champanha, brindar, quem sabe ensaiar um passos, mas seu futuro estará implicando seu presente. Pode sentar no trono, ser bajulado, mas o futuro estará lhe espreitando em vigília, ou talvez em sonhos.

Talvez um leitor de Kafka afirme: “É um pesadelo kafkiano”. Não, não é. É real. É o novo Brasil se fazendo. Emergindo como uma criança alegre. É um Brasil De Sanctis, Protógenes, “vitorioso”, Eunice! Bem, pode ser que tenha Kafka, ao inverso. Na democracia tudo é possível pela jus.

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