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De todos os adereços que homem criou para compor seu artifício/vestuário, como apresenta o filósofo Gilles Lipovetsky criador da obra “O Império do Efêmero”, o sapato é a única peça que não foi inscrita no corpo-humano pelos signos da moral/nudez. Enquanto as outras, com suas funcionalidades corporais, contribuíram para a invenção da nudez-pecado, desencarnação da matéria/desejo, ocultação do sexo como investimento metafísico, o sapato, peça tardia para o corpo, chega ao corpo como um objeto funcional. Uma proteção utilitarista.

Entretanto, os percursos históricos com suas enunciações econômica, social, estética e religiosa, o sapato passou a ser inscrito no corpo como uma peça classificadora do portador ou não portador.

Mas é exatamente nos estágios históricos da nobreza e da burguesia que o sapato passou a representar um signo de posse, de classe, ou de desvalia. Há sapatos para reis, rainhas, religiosos, comerciantes, capitalistas, camponeses e operários. Há sapatos rurais e urbanos. Há sapatos de modas, de estações, de ocasiões. E nesse carrossel imaginário, onde a futilidade leva de roldão a utilidade, o sapato passou a carregar um signo moral, discriminador, ou policial, como nos mostra o filósofo Roland Barthes. Alguém de sapatos em uma praia para turistas, não é turista. No mínimo, um ladrão. Ainda mais, quando os sapatos se apresentam em excessivo uso.

O famoso dramaturgo do teatro “das quebradas do mundaréu, lá onde o sol se esconde, o vento faz a curva, e a chuva encosta o lixo”, Plínio Marcos, nos mostra, com maestria, em sua peça “Dois Perdidos Em Uma Noite”, a função social do sapato na sociedade burguesa. Para conseguir um emprego o sapato é o cartão primeiro para o contratar, ou não. O olhar do patrão vai direto aos sapatos. Eis a angustia do personagem que procura um emprego. Daí que, quando não se tem, é preciso pedir emprestado. Mesmo quando o empréstimo é uma violência.

O SAPATO RELIGIOSO-POLÍTICO

Dizem que foram os árabes quem inventaram o capacho: o tapete que se põe na porta de entrada da casa para se limpar os sapatos, ou os pés. Não importa. O que conta é limpar a sujeira que ambos podem trazer das ruas e sujar a morada sagrada. Os japoneses não cultuam tanto o tapete, mas pedem que tirem os sapatos na entrada do recinto convencional.

Na sala onde Bush encontrava-se em Bagdá, o hábito não era nipônico, era árabe, “azar o seu, Bush”. Prazer do mundo: gargalhada geral. O jornalista, com seu seus sapatos investidos do sagrado, lançou no ianque para limpar a sujeira que carrega como exterminador de povos.

O certo é que no mundo com uma tecnologia globalizada com rastros-virtuais internetizados, os sapatos voaram atingindo até quem já nem lembrava que eles existiam. Transformou-se no maior evento coletivo do momento. Se fosse possível assemelhar a posição do eminente jurista Dalmo Dallari, referindo-se aos Diretos Humanos, não como globalizado, mais como universal, o jornalista mandou para todo o planeta terra, o maior gesto de manifestação dos Diretos Humanos. Um protesto contra aqueles que mais desrespeitam os Diretos Humanos. Não acertou o alvo Bush, mas acertou o alvo mais amado por ele, e mais rejeitado pela comunidade internacional: a bandeira norte-americana que encontra-se no fundo, atrás de Bush.

Mas como para o capitalismo tudo é lucro, transformou ‘o sapato voador’ em moda. Mas não importa. O que importa mesmo é que nesse natal você dê presente para quem você ama, admira, ou respeita, um par de sapatos, dois três, ou mesmo só um lado, pois assim estará se solidarizando como o jornalista, e duplamente com os dois maiores representantes das religiões universais: Alá e Jesus. O segundo, o aniversariante do momento. O socialismo de Cristo agradece. Mas cuidado, dependendo de quem você presenteia, o sapato pode se voltar contra você mesmo. Você já sabe: um sapato também é uma arma. Aqui em Manaus tem um ex-governador que já provou de seu poder.

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