DÉJÀ VU “MANAUS, MEU CIÚME”: SE HOUVER AMANHÃ

Em 1994, a direita mais reacionária da história ajuricabana dominava (continua) o maior estado do Brasil. O atual governador do Amazonas, Eduardo Braga, era prefeito de Manaus, e alegorizava sua gestão com o clichê “Manaus, Meu Ciúme”, enquanto Amazonino Mendes, hoje, eleito prefeito, governava o estado. Eduardo, empolgado, crente de uma missão familiar para governar o Amazonas, acreditava e aceitava as determinações do já escolado Amazonino, a “lenda”, que um dia, sem saber de Marx, e que ele nunca tergiversou com a direita, e se querendo intelectual, imaginava ser comunista. Eis que os dois “heróis”, desmaquiavelizados, resolveram formar uma frente, versão latina americana bufa, além de Molière. Concatenaram, juntos, com sábios outros, uma operação paródica administrativa, pretendendo fazer acreditar à população que a capital e o resto do estado trabalhavam unidos para a soberba telúrica e as invejas circunvizinhas.

Como soe acontecer em empreendimentos tão imaginativos e intelectivos, os dois “heróicos” governantes batizaram a paródica administrativa de “Ação Conjunta”. Sabe-se, não tinha nada de imaginativo: estados outros já haviam recorrido ao mesmo chavão demagógico. Hoje, novembro de 2008, Amazonino está eleito prefeito de Manaus. Entretanto, corre um processo por crime eleitoral nessas eleições. Uns esperam o resultado da sentença, desesperados de dor, enquanto outros, desesperados de alegria. Em campanha, Amazonino já havia declarado em reeditar a “Ação Conjunta”. Semana que passou, Eduardo afirmou que também. Se houver amanhã, para Amazonino, haverá também para Eduardo, mas Manaus encontra-se 12 anos à frente.

NOS BALANÇOS DO ROCK CABOCÃO

Na década de 80, entrando em 90, e chegando até nesta não modernidade atual (Manaus nunca moderna), remanescentes do GRUTA – Grupo Universitário de Teatro do Amazonas, da década de 70, criaram um vetor comunicacional com a cidade, principalmente com os bairros mais pobres, chamado de Rock Cabocão. Esse Rock apanha, examina e mostra os percalços sem calços da cidade de Manaus, impostos como dor por seus governantes. Foi então, que na época da risível “Ação Conjunta”, eles compuseram “A Mais Linda Cidade da América do Sul”, ou, “Para Não Dizer Que Não Tenho Ciúmes”. Então, este bloguinho, em ação conjuntamente com os space-blogueiros, envia a letra.

A Mais Linda Cidade da América do Sul

Olha eu chegando

Na mais linda cidade da América do Sul

Modelo do progresso

Que o concreto in-verso

Cortou a rima leve do horizonte azul.

.

Manaus, Meu Ciúme”

Eu sinto o teu perfume

No vôo do urubu

Na periferia

Do povo a alergia

De quem deixou a tribo pra viver mais nu.

Ô,Ô,Ô, mais que azar

Vim aqui pra me ferrar.

.

Já foste Paris

Mas o sucesso quis

Te ver Fortaleza.

Desinfestaste o chulé

Do jaraqui teu piché

Terror de tua beleza

.

Jóia da floresta

Todo dia é festa

Soberana do norte

Da nação bananeira

Fizeste maneira

A independência na morte.

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Oh, “Terceiro Ciclo”

Com a minha Olympus clico

Tua progressão

No bloco do distrito

Dos gringos um agito

Que vão à Ponta Negra

Fazer a revolução.

Ô,Ô,Ô, Manô!

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GLOSSÁRIO PARA QUEM NÃO SABE MANAUS

Já foste Paris – Manaus carrega uma maldição: nunca ser. No fim do século XIX, e começo do XX, a queriam Paris, depois Guanabara; com Arthur Neto prefeito, Curitiba; com Amazonino, Fortaleza…

Desinfestaste o piche – Piché, odor aversivo para alguns.

Jaraqui – Peixe de escama da água doce. Socialmente considerado comida de pobre, mas intelectualmente, um bom prato para fazer gênero, glamour. No tempo da ditadura era o bicho comê-lo bem frito com farinha, pimenta murupi e cachaça. Serviu até para eleger parlamentar e executivo reacionário.

Todo dia é festa – Com os governos retrógrados, como de Amazonino, foi institucionalizada a festa do boi (nada de Bumba-Meu-Boi do Maranhão), para vender a mercadoria “Manaus é uma festa”. E os guetos se proliferando.

Terceiro Ciclo – Projeto de Amazonino com fabulação para o desenvolvimento do interior: como era fábula, não deu em nada. Hoje, Eduardo Braga ostenta sua versão: Zona Franca Verde, mas nunca amadurece.

Olympus – Todos conhecem: máquina fotográfica muito vendida em Manaus no começo da Zona Franca, o que era o luxo ter uma.

Bloco do Distrito – As vantagens financeiras das empresas estrangeiras que só lucravam e se davam (continuam) bem na ‘cite’ muito bem promovidas pelos calunistas sociais, aqueles que atribuem virtudes a quem não as têm. Uma suave calúnia.

Ponta Negra – Praia, antes do Zé povão, hoje transformada em espaço “nobre” imobiliário concretizada (de concreto: cimento) pelo “novo rico” da consciência antiga: inebriamento.

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