GOVERNO DO ESTADO CENSURA A INTELIGÊNCIA COLETIVA
DO VETOR AFINADO: TEATRO MAQUÍNICO
A AFIN – Associação Filosofia Itinerante, da qual este bloguinho é um vetor, dentre outros, trabalha também com o Teatro Maquínico, que propõe um encontro com a platéia-ativa na produção de dizeres e saberes sobre a sua condição social, animando e enriquecendo a inteligência coletiva. Para tal, “carrega” estes temas através de vetores do Teatro Maquínico, que são encenações criadas pela própria AFIN sobre temáticas do cotidiano a partir de uma análise da condição social da cidade, do Estado, do país. O mais importante não é a encenação, mas a conversa que se produz a partir do encontro teatral com a platéia. Há mais de dez anos, em tempo de eleição, a AFIN produz vetores a partir dos enunciados que se evidenciam no contexto social de Manaus e do Brasil.
Este ano, desde o início de maio, o Teatro Maquínico apresenta o vetor “À Procura de Um Candidato”, onde convida a platéia-ativa a discutir sobre a situação política da cidade, e a dificuldade em se produzir uma candidatura que venha de uma semiótica diferente das candidaturas que se apresentaram nas últimas décadas, responsáveis pelos problemas enfrentados todos os dias pelos moradores da cidade de Manaus.
Sem falar especificamente de nenhuma candidatura atual, o vetor apresenta situações cotidianas da cidade, em quadros: “A Parada de Ônibus”, “Sem Água é Fogo”, “O Buraco”, “Tempo de Eleição” e “Pleito Geral”. Embora o vetor apresente personagens, incluindo personagens-candidatos, interessa à AFIN evidenciar os discursos que se apresentam na atual eleição, seus elementos corporais e incorporais, seus nós e imobilizações. Daí, como afirma o filósofo Nietzsche, ser possível apenas falar de acontecimentos, não de pessoas. Mas às vezes, como diz a sabedoria popular, a carapuça serve.
DA CENSURA DA SEDUC/CDH À INTELIGÊNCIA COLETIVA
Pois bem, o vetor “À Procura de Um Candidato”, desde maio, já realizou mais de 60 apresentações em centros comunitários, religiosos, ruas, praças, escolas públicas e particulares, sempre onde as linhas intensivas desejantes são ativadas através de pessoas disponíveis para composições alegres: os bons encontros.
Cerca de três semanas atrás, o Teatro Maquínico se apresentou na Escola Estadual Dom Mário Monacelli, no bairro Alfredo Nascimento, zona Leste de Manaus, no horário vespertino, a convite de uma professora, e com a anuência e participação ativa da direção da escola, esta democrática. No entanto, na última terça-feira, quando novamente a professora contactou o diretor para uma outra apresentação, no horário noturno, a permissão – à contragosto do diretor, que gostaria de que o evento ocorresse – foi negada. A alegação foi a de que ele foi “orientado” pela SEDUC – Secretaria Estadual de Educação a não mais permitir apresentações do vetor e/ou do referido grupo na escola. A reprimenda ocorreu porque uma funcionária do CDH – Conselho de Desenvolvimento Humano, presidido pela primeira-dama, Sandra Braga, assistiu um trecho da apresentação vespertina, e imediatamente comunicou o ato “subversivo” aos seus superiores.
Uma semana antes, na Escola Estadual Dom João, na Cidade Nova II, zona Norte, o diretor também impediu que fosse realizada a apresentação, alegando não querer se “queimar” com a secretaria. A alegação dele era de que a “peça teatral” tem muita crítica ao governo, mostrando muitas situações “negativas” da cidade.
Nesta quarta-feira, foi a vez de um professor da Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós, do bairro Redenção, zona Centro-Oeste, convidar a AFIN para uma apresentação, com a condição de que “cortasse” a aparição de um determinado personagem. A razão seria a de que, no entendimento dos dois, o tal personagem, um dos “candidatos” que se apresentam no enredo do vetor, carregaria elementos alusivos a um outro candidato, este na disputa oficial pela prefeitura de Manaus, legítimo representante da direita da Direita manoniquim. A proposta, claro, não foi aceita.
A TIRANIA E A IMAGEM DO PENSAMENTO DO ESTADO
Um governo é tirânico quando as suas ações não são causa de si – potência-comunalidade como produção ativa de uma sociedade de homens livres – mas efeito do acaso, uma insuportável conseqüência dos encontros com entes fantasmáticos, produzidos por governantes que não conseguiram superar o primeiro grau de conhecimento, aquele onde os enganos são freqüentes, e a superstição supera a razão.
Nascida de um engano, de uma idéia inadequada, a noção de cidade que estes governantes tirânicos carregam é reproduzida em suas ações à sua imagem e semelhança. Logo, de um governo tirânico só se pode esperar a dor e o ressentimento contra tudo o que negue o seu estado de coisas, ainda que este seja produtor de dores sociais (fome, violência, passividade, estupidez, repressão, entre muitas).
A ação do governo – cujo secretário de educação, Gedeão Amorim, é formado em Filosofia – revela a predominância de elementos discursivos e práticas censoras à inteligência coletiva, já que tenta impedir pela força institucional a possibilidade de trabalhar no âmbito escolar conteúdos diversos dos saberes instituídos no conteúdo programático. A nova forma de fazer política do governo Braga considera moderno subestimar a consciência política dos professores, mas não aceita práticas filo-pedagógicas que enfraqueçam a imagem do pensamento do Estado, automatismo intelectivo onde predomina a aridez epistemológica e tem pavor do saber que liberta e que permite o movimento intensivo do Ser. Este aniquila a tirania.
À PROCURA DE UM CANDIDATO
PRÓLOGO
Respeitável Público!
Vamos contar uma história
Que foge à razão
Que nem o melhor artista
Teria tanta imaginação
Pois sua realidade
Não é para admiração.
De acordo com a democracia
Toda eleição é plural
Composta de vários partidos
Cada um com seu ideal
Para que o eleitor com seu voto
Construa um governo real.
Acontece que nessa eleição
Para prefeito da cidade
Embora com muitos candidatos
Ocorre uma triste verdade
Nenhum deles para a população
Representa uma novidade.
Alguns são velhos governantes
Que nada fizeram de novo
Outros se disseram diferentes
Mas não governaram com o povo
Outros falam em mudança
Mas nasceram do velho ovo.
Portanto, respeitável Público!
Esta é a triste situação
De uma cidade sem candidato
Que represente renovação
Por isso, neste teatro
Pedimos sua atenção
Para analisar todos fatos
Que negam o cidadão
Pois na democracia
É do povo a opinião.