É na tentativa de construirmos novos conceitos, pertinentes ao modo de reprodução de nossas condições materiais, que este bloguinho intempestivo passará a tratar de algumas questões da ordem econômica para além desta ordem, procurando tecer novas cartografias para além dos dizeres já constituídos como saber econômico instrumental, tecendo uma nova rede de relações entre os elementos materiais e imateriais que esses saberes carregam, na tentativa de construção de uma outra subjetividade capaz de carregar elementos que potencializem nosso existir democrático no mundo.

ECONOMIA, POBREZA E MUDANÇA SOCIAL

Neste post levantaremos algumas questões referentes às primeiras análises elaboradas pelo Ipea, com os dados levantados pela PNAD 2007, em relação à pobreza e à mudança social. Neste estudo, pôde-se perceber uma profunda mudança da estrutura social brasileira ao longo da série de anos estudada pelo Ipea, 2001 – 2007. Em relação ao grau de desigualdade de renda, apresentamos uma queda acelerada e contínua ao longo da série, registrando um declínio de 7%, sendo esta a queda mais acentuada e duradoura já ocorrida nas últimas três décadas.

A RENDA NA MÃO DO POBRE

Outro ponto destacado pela pesquisa diz respeito ao crescimento da renda. A que se destacar, no entanto, dois momentos bastante distintos do crescimento da renda dos vários grupos, em particular do grupo dos 10% mais pobres. Entre 2001-2003, a renda dos 10% mais pobres cresceu a uma taxa média de 2,9% ao ano com a renda familiar média per capita decrescendo a uma taxa de 3% ao ano. Entre o período 2003-2007 (coincidência?) a renda dos 10% mais pobres cresceu acima de 9% ao ano com crescimento da renda familiar per capita em torno de 5,4%. Isso fez com que o Brasil apresentasse taxas de redução na pobreza e na extrema pobreza bem superiores às apresentadas para a América Latina como um todo. Conforme mostra o estudo, entre 1990 e 2005 a pobreza na América Latina caiu 8,5 pontos percentuais ao passo que somente entre 2002 e 2007 a pobreza no Brasil caiu 10,2 pontos percentuais. Ou seja, de acordo com o texto do Ipea, em termos de redução na pobreza, o Brasil fez em cinco anos mais do que o restante da América Latina levou 15 para fazer. Ou como diria o Sapo Barbudo, apresentamos taxas de redução da pobreza “nunca antes vistas na história deste país”, tanto, que o declínio recente na extrema pobreza foi três vezes mais rápido do que o necessário para o país atingir a primeira Meta de Desenvolvimento do Milênio em 2015, meta que foi atingida ainda em 2006.

DE MAIS A MENOS POBRES

Outro ponto de destaque na pesquisa diz respeito à metodologia utilizada para detectar as mudanças sociais ocorridas durante o período, principalmente mudanças relacionadas aos grupos de renda. De acordo com a metodologia adotada pela pesquisa, a qual, em 2001, dividiu a população brasileira, por ordem crescente de renda, em três grupos com igual número de pessoas, a pesquisa de 2007, com os limites superiores de renda de cada um dos três grupos atualizados a fim de capturar um crescimento real do Produto Interno e da renda per capita durante o período, permitiu avaliar as mudanças sociais ocorridas no período. Em relação aos grupos de renda, os limites aplicados foram:

Grupo 1 (de menor renda): de R$ 0,00 a R$ 545,66 de renda familiar por mês;

Grupo 2 (de renda intermediária): de R$ 545,66 a R$ 1350,82 de renda familiar por mês;

Grupo 3 (de maior renda): de R$ 1.350,82 e mais de renda familiar por mês.

Os resultados apresentados demonstraram que 13,8 milhões de pessoas subiram de faixa social, com 10,2 milhões passando do Grupo 1 para o Grupo 2 e 3,6 milhões do Grupo 2 para o Grupo 3.

DA ECONOMIA DEMOCRATIZANTE

Disto, algumas implicações podem ser destacadas por conta destas mudanças constatadas pela pesquisa. Primeiro, as explicações dadas, a esses fenômenos, pela teoria econômica, relacionando-os ao dinamismo econômico, ao crescimento da produção, à transferência de renda pelos programas sociais e previdência, etc. Segundo, ao que escapa às essas explicações, ao incapturável, produto de uma outra política pública, mais afeita às demandas sociais e à construção democrática da sociedade, à construção de uma sociedade de amigos com os mesmos propósitos: o Bem-Comum, pois, como diria o companheiro filosofante Toni Negri, “não se tem que passar pela privação, a privação não é uma condição da vida, e todo governante que faz seu povo passar por privação não é governante e muito menos humano”.

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