UM CASO DE HOMOFOBIA EM MANAUS

Escola Estadual Cleomenes do Carmo Chaves, Jorge Teixeira IV, Zona Leste de Manaus, 4º tempo de aula. Por volta de 22h, a pedagoga da escola entra no 3º Ano “6” e fala para um aluno homoerótico, de nome Alex mas que gosta, e é seu direito constitucional segundo decreto presidencial, de ser chamado pelo “nome social”, Paola Bracho , para que amanhã, conforme lhe avisou, ele não venha mais com maquiagem.

Todos ficam indignados com a postura da pedagoga. Começa uma discussão na sala e, por unanimidade, a sala apóia a posição de Paola. Ela acrescenta que a pedagoga afirmou que ela tinha tal postura de se maquiar porque “faltava Jesus em seu coração”. Começa uma discussão sobre os crimes envolvidos naquela postura da pedagoga; são enumerados pelo menos cinco: “coação”, “preconceito”, “discriminação sexual e religiosa”, “homofobia” e “abuso de poder”.

Paola afirma que no outro dia virá com a maquiagem e que comunicará o caso a AAGLT – Associação de Gays, Lésbicas e Travestis. No outro dia os alunos saem de sala em sala pedindo a assinatura dos alunos num abaixo-assinado contra a postura da pedagoga. A grande maioria dos alunos assina. Um dos alunos que puxou o abaixo assinado explica que o ato é apenas para que os alunos das outras turmas saibam do ocorrido e para contar com a posição dos colegas das outras turmas, uma vez que até já entraram com uma ação no Ministério Público.

Provavelmente intimidada, a pedagoga, segundo Paola, conversou com ela e disse que não impediria ela de adentrar às dependências da escola e que só pedia que ela diminuísse a maquiagem. Os professores, em unanimidade, também apoiaram a posição de Paola e dos alunos que se envolveram em sua defesa, mas alguns argumentaram que como a pedagoga não ia mais impedi-la de adentrar, era melhor esquecer o ocorrido. Os alunos afirmam que não têm mais como deixar para lá, pois o caso já está no Ministério Público, que deu um prazo de duas semanas para avaliar o caso.

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O caso aconteceu esta semana, e é apenas mais um entre zil episódios de homofobia que acontecem nas escolas Manaus afora. Mas saltitam algumas linhas de entendimento que chamam a atenção.

Primeiro, o grau de entendimento da pedagoga, que não passa nem perto de uma práxis educadora. O que é comum, infelizmente, em uma rede de escolas que é menos resultado de uma política pública democrática que um instrumento eleitoral de coação da comunidade em favor de interesses escusos. A aparente “calma” da pedagoga em entrar na sala, e diante do professor e dos alunos, coagir Paola é prova de que ela entende a instituição escolar – e a governamental, que lhe é superior hierarquicamente – como uma instância que valida e fortalece o seu próprio preconceito. Palavra aqui entendida como uma idéia-saber que foi tomada para si como uma verdade sem ter passado pelo exame da razão: uma superstição, diria o filosofante Spinoza. A escola é extensão de uma sociedade hierarquizadora, classificadora, voltada para o consumo, e que não suporta a diversidade.

No entanto, um corpo-idéia criado na superstição não resiste ao encontro com outro corpo, cuja potência de agir é ativada por saberes saídos da Razão. Mesmo num arremedo de democracia, certas relações só subsistem se escamoteadas da visibilidade pública, donde podem ser facilmente eliminadas. Principalmente, para a sordidez de certas práticas políticas antidemocráticas, no período das eleições.

Quando sentiu que os alunos e até alguns professores reacionários, que carregam elementos imobilizados em comum com ela, se posicionaram contra a sua ação homofóbica, a pedagoga imediatamente recuou. E nem recuou pra valer, já que apenas pediu para Paola “diminuir” a maquiagem.

Terá a feminilidade de Paola, produto da sua ação estética de Si, tocado na pedagoga a ponto de incomodar o “mulherismo” que ela carrega? Os elementos culturais de submissão que a sociedade falocrática usa para clivar um território bem definido para a mulher?

De qualquer sorte, o que emerge do fato é a homofobia diária a que estão submetidos aqueles que acreditam não possuir como aliados na potência democrática pessoas engajadas, como a companheira Paola tem. É preciso engendrar a rede intensiva para que se possa enfraquecer essa subjetividade castradora da diversidade de expressão erótico-afetiva.

Portanto, esta coluna se coloca também como linha sem nó desta rede, e vai acompanhar o caso da companheira Paola, bem como outros que pintarem por aí, pois somente desta maneira é que se pode combater a homofobia da forma mais eficaz. Eliminando suas certezas e verdades instituídas culturalmente.

E você, meu lindo, minha linda, opine sobre o ocorrido com a bela Paola Bracho. Vamos encarar com humor, alegria, ternura, enfraquecendo a brutalidade e a estupidez da homofobia, institucional ou de qualquer outra categoria.

Ui! E agora vamos ver outros sopros gayzísticos (ou não) que passaram no nosso Mundico!

Φ MAIS UM CRIME CONTRA A DIVERSIDADE NO BRASIL. Na madrugada do dia 31 de agosto, em Teresina, Piauí, o travesti Cristiano foi esfaqueado e violentado sexualmente. Seu corpo foi abandonado numa horta. O grupo Matizes entrou com uma solicitação junto à secretaria estadual de segurança para que o inquérito seja instaurado e os culpados encontrados. Para o grupo, o crime, infelizmente, é padrão de ação homofóbica. Possivelmente, Cristiano foi morto após um programa. Geralmente, os assassinos são homens casados, retos, moralistas, acima de qualquer suspeita, que não suportam a rebordosa de saber que colocaram para fora o “sujo segredinho” do desejo pelo pênis alheio: matam no outro o desejo que só admitem em si como segredo pecaminoso. Ranço da subjetividade moralista-paulina, a mesma que ainda faz vítimas mundo afora pela propriedade do outro através da relação de posse: o chifre. Ai, Rubeolnita, nessa sociedade homofóbica, os amores que não se deixam dizer são patologizados, e “normais” são os que reprimem o desejo! Tamos fora dessa! Sentiu a brisa, Neném?

Φ ITÁLIA TEM ASSOCIAÇÃO DE MILITARES GAYS. Nem tudo é discriminação e homofobia institucional na terra que elegeu Berlusconi. Será fundada oficialmente no dia 26 de setembro a Polis Aperta (Cidade Aberta), associação de homoeróticos que atuam na polícia militar, civil e nas forças armadas italianas. O objetivo é criar um estatuto que dê proteção civil para que eles possam sair da clandestinidade. A idéia foi bem recebida pelas outras entidades pró-movimento do país. Até lá, Gervasinha, onde a gente encontra até associação direitista de gays, os militares se movimentam para compor com o mundo gay. Os milicos daqui, no entanto, preferem o enrustimento… ai ai… Sentiu a brisa, Neném?

Φ STJ ABRE PRECEDENTE PARA UNIÃO CIVIL HOMOAFETIVA. O Supremo Tribunal Federal determinou que a justiça do Rio de Janeiro aprecie em primeira instância uma ação que reconheça a união civil entre um agrônomo brasileiro e um professor de inglês canadense. A ação havia sido extinta na justiça fluminense, mas o STF ordenou que a 4a Vara da Família aprecie a ação. Os casal, que vive junto desde 1988, quer a efetivação da união para que o canadense possa se estabelecer no Brasil. Embora não seja uma vitória permanente, já é um avanço, pois permitirá que outros casos possam ser resolvidos em primeira instância, sem que todos os casos do tipo tenham que terminar no STF. O caso deve forçar uma mudança na lei, que atualmente determina a união entre um homem e uma mulher, segundo o advogado Álvaro Villaça, da USP. Então, que todos aqueles que querem oficializar sua união, lutem juridicamente por este direito, e que a lei seja mudada a favor da democracia da diversidade! Sentiu a brisa, Neném?

Φ NA COLÔMBIA DE URIBE, OS GAYS SÃO PERSEGUIDOS. Enquanto o ex-dirigente das FARC, Manuel “Tirofijo” Marulanda, falecido, não se importava com os rumores de que era homoerótico (não confirmava nem desconfirmava), o governo de Uribe e os paramilitares colombianos são responsáveis, direta ou indiretamente pela morte de 67 homoeróticos de 2007 pra cá. Diretamente, os grupos de ultra-direita paramilitares que ocupam parte do território colombiano, e indiretamente o governo, que não atua no sentido de coibir e desvendar os crimes, segundo a ONG Colômbia Diversa. A situação se agravou após se colocar em pauta a união civil homoafetiva no parlamento. Embora aprovado nas comissões, as pressões da igreja e dos paramilitares devem impedir a aprovação do assunto. Desse jeito, Frankernilda, o Uribe só ganha com os votos da direitaça e da população socialmente ameaçada e que vota pelo desespero. Mas sem as FARC´s na jogada como algoz fantasioso, como Uribe, o garoto de ouro dos cartéis e do FBI vai se manter no poder? Sentiu a brisa, Neném?

Φ GILBERTO RINCÓN GALLARDO, LINHA INTENSIVA DA DIVERSIDADE. É possível falar em morte quando a existência ultrapassou a banalidade do cotidiano, quando se recusou a ser uma insuportável consequência, para ser causa de si mesmo e produzir enunciações a partir de uma oralidade maquínica e não da redundância do significante despótico? Se a morte é um boato da Vida, então só podemos afirmar que, no caso de Gilberto Rincón Gallardo, houve o cumprimento de uma pendência existencial, mas que, para o mundo, fica a sua biografia e as linhas intensivas que ele animou. Nascido no México, foi o ativista do desvio, da desrazão, da a-normalidade, da diversidade. Fundador de partidos que coadunavam o desejo das esquerdas, Gallardo lutou contra a intolerância, a homofobia, a xenofobia, racismo e qualquer discriminação nascida da irracionalidade e que é produtora de sofrimento e privação. Publicou um livro intitulado Contracorrente, e foi preso político. Cumpriu sua pendência existencial aos 65 anos, ativo, fazendo a leitura do hiper-real e dos microfascismos que tomam a Europa e o mundo, posicionando-se lucidamente conta a estupidificação massiva. Leia aqui um de seus últimos artigos. Sentiu a brisa, Neném?

Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:

FAÇA O MUNDO GAY!

11 thoughts on “!!!!! O MUNDO É GAY !!!!!

  1. Uau, que análise da situaçao la em Manaus com a Paola, que legal a reação de alunos/as e professores/as.
    Quem é autor do texto?

  2. Queridíiiiiiisssssssimo André,
    Translumbrante a sua participação, engendrando a rede da inteligência coletiva com o seu dizer. É importante que estes casos tenham divulgação para que se possa cada vez mais enfraquecer a institucionalidade embrutecedora, produtora da homofobia.
    Quanto ao texto, houve vários autores, e nenhum. Explicamos: como a Inteligência coletiva não tem pontuação burocrática, o texto jamais tem um início e um fim. Quanto à textualização, é uma composição do caso da linda Paola, com uma análise a partir de saberes que compôem a própria inteligência coletiva, a partir de um entendimento de educação que não passa pela escola, e pela dificuldade de leitura de mundo por parte da pedagoga.
    Portanto, com a tua contrinuição, também te tornaste um autor da textualização!
    Abraços intempestivos, e venha sempre por aqui!

  3. Ola tudo bom?
    Achei Otimo a atitudes dos alunos em relação a Paola.
    Gostei bastante da materia e gostaria de receber mais informações a respeito de caso como esse que acontece infelizmente diariamente nas escolas não só de Manaus, mas como em todo Brasil.
    Desde já agradeço sua colaboração.
    Um abraço

  4. Olá…
    Muito legal o texto sobre o caso da Paola. É importante a divulgação de atos de resistência e enfrentamento da homofobia. Só gostaria de saber uma coisa: existe um decreto presidencial que permite a utilização do nome social? Aqui no Paraná não estamos sabendo disso. Somente sabemos da iniciativa da Secretaria de Estado da Educação do Pará – Portaria 016/08 que obriga as escolas públicas até 2009 cadastrarem os nomes sociais de travestis e transexuais. Então, se existe um decreto que garante isso, por gentileza, nos informem. Sou militante LGBTT e trabalho na Secretaria de Estado da Educação do Paraná e terei o maior prazer em apresentar esse decreto para a Secretária de Educação.
    Por favor, enviem o número e a data deste decreto maravilhoso. Parabéns mais uma vez pelo texto. Aguardamos ansiosas a resposta. Um grande abraço. Saudações Lésbicas Feministas. Dayana.

  5. Lindíssima Dayana,
    Ao que sabemos, na rede pública de saúde, em todo o Brasil, é direito do usuário ser tratado pelo nome social. Infelizmente, não há – ao que nos parece – nenhuma lei federal que obrigue as pessoas a usarem o nome social em outro ambiente que não seja o da saúde.
    O que não nos impede de usá-lo, não é, maninha!
    Beijucas! Mande notícias!

  6. A situação da Paola é apenas mais uma página dos crimes de homofobia em manaus.
    Urge que tenhamos políticas públicas efetivas que ofereçam suporte a devida criminalização da Homofobia, a qual encontra-se no senado com a PLC 122.
    Vale a pena lembrar também que em Manaus já temos o CRCH (Centro de Referência de Combate a Homofobia Adamor Guedes), onde situações como essas podem ser denunciadas.
    Não podemos calar, precisamos reescrever essa história com a certeza de encontrar um final diferente, onde a sociedade tenha tolerância com a diversidade.

  7. Olá! Bom Dia…
    Meu amigo estuda com a Paola, e me informou do caso e pediu ajuda, no que eu pudesse ajudar. Então enviei um e-mail para waydman, que ja estavam sabendo do caso. É eu fiz minha parte e gostaria de agradecer a todos os alunos da escola Cleomenes que estão apoiando Paola, não a conheço, mas tbm luto pelo direito que as pessoas possuem de serem tratadas igualmente, independente de sua opção sexual.
    Mande notícias sobre o caso…
    Abraços, John Santos.

  8. Boa Noite sou eu Phablo Dantas, o denunciante do caso junto a secretaria dejustiça . tenho apenas a agradeçer tão somente a participação efetiva de meus colegas neste empreitada e que o caso paola bracho foi apenas um canal para abertura de novas queixas , manaus estar fervendo como um caudeurão cheio de preconceitos , mais uma coisa é certa , enquanto Phablo estiver por perto não deixaremos que este ato volte a se repetir.
    E tenho apenas a agradecer estes alunos que foram grande espoentes nesta jornada, segue os nomes:
    Ricardo silva, Kessia sampaio,lady,keite,sulla ,daira,soraia,ana karla,Alexander(mais prefere ser chamado de irmã patricia) adria taiane ,daiane , deusivane,e aos 160 alunos deste escola que participaram desta caminhada, Há não poderia esquecer , dos nossos colaboradores das ECT( diretoria dos Amazonas) da Gerencia Financeira(cristina,Raiones,Roberta) da Gerencia de RH(Fernanda,Sabrina,Elaine)da Comissão de Licitação,da Gerencia de Inspessão e entre outros que não me recordo mais já agradeço. e lembre-se O AMOR NÃO TEM SEXO.

  9. Daqui a 2 anos teremos uma nova campanha politica , entre outros fatores que vão de encontro com as nessecidades do povo ademais politicos promentem e não cumpre dar para contar no dedo quais parecem ser cumpridores de suas promessas.
    Então , por esta circustancia e que nos iremos lançar um cadidato na Camara Municipal de Manaus (seu nome não pode ser revelado) este mesmo defederá os direitos humanos garantidos pela constituição, entre esses direitos que se enquadram os dos homossexuais, então a todos os leitores aguardem , e verão……
    Assinado: Phablo Dantas

  10. Olá Prof° Mauricio , sabe estamos progredindo no caso Paola Bracho , sabe esta situação foi um pontapé inicial para nossa campnha , temos agora até fones para serem efetuadas denuncias,,, a toda a Manaus c/ a permissão da AFIN la vai (092) 8119-5671/8404-2722/3644-8081/3637-3839
    ou via E-mail( phablo_deputado_estadual&pv@hotmail.com)
    ate mais professor e valeu a todos da afin pela ajuda no caso e que DEus vos Abençoe!!!!
    Phablo DAntas Oliveira

  11. Acho assim que em varias escolas tem muitos homosexuais mas eles tambem exageram na palhaçada,devia ter uma lei por que eles nao estam so dentro da escola deviam se dar o respeito e a dignidade concordo com a professora nao sou a favor que bata ou que mate nenhum deles por que perante deus elesja estam condenados mais antes nao pensava assim fui um ex skinhades mas alguem tem que botar morao neles mesmo nao com violencia

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