O SUPREMO GRAMPO DA VEJA
A revista Veja saiu com mais um grande furo de reportagem: conseguiu, supostamente por um agente da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), que “preferiu” ficar no anonimato, comprovações de grampos no Supremo Tribunal Federal (STF) e na alta cúpula do Governo Federal e do Senado. A concretíssima prova é um minúsculo trecho de uma conversa entre o ministro Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), no qual Demóstenes pede a interferência do presidente do STF sobre uma decisão de um juiz de primeira instância de Roraima, que não autorizaria uma testemunha de ser ouvida pela CPI da Pedofilia, da qual o senador dempflista é relator, antes do juiz. Mas tudo está mais para uma grande patacoada travestida em reportagem investigativa:
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O anonimato da fonte pode ser a prova de sua existência fictícia. Até já existem indícios (no blog do Nassif) de que no momento da suposta conversa Gilmar Mendes estava no Palácio do Planalto, enquanto a conversa ocorreu pelo telefone do gabinete do ministro. As cópias, não somente essa, mas todas, que a Veja usa em suas reportagens não são mais que simulacros.
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Ao contrário da maioria das denúncias envolvendo grampos, quando eles servem para expor alguma maracutaia, algum sortilégio de poder, neste caso serviu para enaltecer as figuras de Demóstenes e Mendes como paladinos da Justiça. As vítimas são elas próprias os heróis. Se a revista fosse de ficção, não haveria problema, mas, querendo-se de notícias, tenta, parcialmente, fundar uma realidade favorável aos seus: um senador de direita e um ministro à direita, por exemplo.
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Já o presidente Lula é ao mesmo tempo assassino e vítima. A revista Veja, ao mesmo tempo que afirma a escuta a vários ministros e ao próprio Lula, sugere que as escutas ilegais chegavam até ele e depois eram destruídas, enquanto o senador Demóstenes Torres diz não ver o “dedo do governo” e que o presidente não pode ficar à mercê de um grupo de “bandoleiros”.
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O assassinato de Paulo Lacerda — aquilo que o jornalista Luís Nassif chama de “assassinato de reputação” — é um dos principais alvos do furo da Veja. Em um artigo chamado O Assassinato do Intocável, Nassif analisou de como as relações da revista com o delegado e diretor-geral da Abin “azedaram” depois da Operação Chacal, realizada pela Polícia Federal, e que foi de encontro aos interesses dela e do banqueiro Daniel Dantas.
Parece que o furo de reportagem da Veja está furado. Fosse um conto policial, essa lambança toda de Veja seria apenas péssima literatura, mas tratando-se de uma suposta reportagem investigativa, é crime e deve ser investigado como tal.
Hoje pela manhã reuniram-se o presidente Lula, o presidente e o vice-presidente do STF, Gilmar Mendes e Cezar Peluso, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Ayres Britto, e o diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda. Todos, segundo a Agência Brasil, saíram sem dar entrevistas. Talvez a Veja já tenha a cópia da gravação da conversa.
Para quem, não lê a Veja pós-Mino Carta, pode conhecer melhor como funciona seu des-serviço jornalístico acompanhado as análises que Nassif faz n’O Caso de Veja.