Lula estava lá na cerimônia de passagem de Gil, ex-ministro da cultura, para o próximo, Jucá. Lula, envolvido com os cotidianos das chamadas políticas de ocupações de cargos, fazia analogia de indicar ou não indicar alguém de seu partido, o PT. Ele, adepto de que o que vale são as alianças e os talentos, mostrava o quanto é angustiante para alguém ser indicado para um cargo quando não pertence a um determinado partido com força de decisão.

Comentou o que poderia acontecer com Chico Buarque indicado a um cargo em relação ao PT. Então, aconteceu o hilário que fez a platéia ir ao delírio: Lula falou o que seria de Caetano no PSDB. Lula, que falara sem nenhuma nesga de ironia, ao ouvir a reação da platéia, sorriu. Nada de Lula contra Caetano, mas uma grande parte da sociedade brasileira tem Caetano como um eterno colegial. O colegial que se recusa a esquecer o diretor do colégio ou, quem sabe, a madre superiora, se for um colégio teológico.

Esta parte da sociedade brasileira sabe, sem nenhuma malevolência, que Caetano, apesar de seu talento semelhante a muitos, é produto de uma fálica “crítica” que desde que ele se carmemirandizou, o elegeu como um gênio, embora se saiba que só há gênio onde existem estúpidos. Os gênios da afetação burguesa. O alimento invisível do capitalismo efusiante. Gravar Roberto Carlos como elemento disjuntor da esquerda “canina”. A policromia do “viva e deixe viver”. O “cada um é o que é”. Sim, cada um é o que é, e pode não ser o que é? Que truque para a insegurança moral.

Verdade: Caetano é seu próprio caetanismo. Por isso, ao fazer 60 anos, afirmar que, agora, não mais lhe interessava ser fotografado: medo da velhice. Perguntamos: O que é a velhice? E mais: há velhice? É verdade: há velhice: para os que sabotaram suas existências e a busca do glamour é a forma desesperada de se tornar sabotador de si mesmo pelo reflexo desnarcisado da imago do capitalismo.

Lula, no viés de Gil, caetanizou Caetano sem nenhuma intenção de indispor os dois baianos. Lula apenas, como alguém que se move por entre os sedimentos-imóveis, encontrou Caetano e o PSDB e os apresentou em suas semelhanças. Nada de mais. Caetano, como Mainnard, já se mostrou, em cima e em baixo de seus caracóis, um rebelde Adam Smith: o princípio do prazer é uma gigantesca ameba capitalista, e, queiramos ou não, como tudo, vai dar em nada. O que conta é essa molécula replicante do nada. O resto são beicinhos contraídos. E Caetano como tem beicinhos!

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