Ontem, há quatro dias da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a questão envolvendo a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol em área contínua, o principal opositor a sua efetivação, o prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero, que já foi duas vezes preso por atos violentos em relação aos índios, agora parece ter resolvido tentar intimidar até a Polícia Federal, em entrevista à Agência Brasil, compara-a à Gestapo alemã:

Eu me sinto orgulhoso de estar sendo processado e investigado pela Gestapo [polícia secreta alemã ligada ao nazismo] tupiniquim que é a Polícia Federal.”

E arremeteu na mesma leva também o Ministério da Justiça:

“Junto com o Ministério da Justiça, ela [Polícia Federal] está vendida ao interesse internacional e eu diria que atenta contra os interesses diretos da nação brasileira.”

Pelas ações violentas protagonizadas por Quartiero e seus jagunços contra os índios e para retardar a demarcação, desde a homologação das terras pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, em 2005, pode-se inferir pelo enunciado de violência do arrozeiro que ele gostaria que a Polícia Federal, republicana como tem sido, passasse a agir como a Gestapo, ou seja, a seu favor, e pela aniquilação dos índios da Raposa Serra do Sol. Só que Quartiero está alguns séculos atrás, pela sua prática em tratar com os índios, ele gostaria de estar protegido, como bom “patriota”, por um Marquês de Pombal, que, com seus descimentos e guerras justas, garantisse-lhe a posse das terras, da força de trabalho, da religião, dos costumes, de toda a cultura indígena, paralisada pela civilização.

E os arrozeiros de Roraima parecem estar à vontade para enunciar violentamente. Perguntado se iria a Brasília, Quartiero respondeu que precisa ficar defendendo sua fazenda dos “invasores”, mas que lá contará com a defesa, por “sentimento patriótico” do advogado e ex-ministro do STF Ilmar Galvão. Na semana passada, o jurista Dalmo Dallari afirmou que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, é um dos “principais articuladores do processo de resistência à demarcação em área contínua da terra indígena Raposa/Serra do Sol” e que o presidente do STF, Gilmar Mendes, não deveria participar do julgamento dessa questão, pois “não será um juiz isento”. Ambos, segundo o jurista, já participaram de disputas judiciais contra demarcações de reservas indígenas.

É a linha contínua que passa pela inscrição do código “índio” pelo branco-europeu e segue, mantendo sua serialidade e sua regularidade, até os dias atuais sempre ao lado da linha dura de poder. Entre as guerras justas, o nazismo e os arrozeiros de Roraima há uma repetição: o aniquilamento étnico total a partir do enunciado de violência.

A decisão da próxima quarta, como aponta o professor José Geraldo Souza, é fundamental, pois poderá consolidar esse processo, abrindo definitivamente o precedente de impedimento judicial de demarcação de reservas indígenas, ou, ao contrário, afirmará linhas democráticas em favor da atuação política das minorias.

Sabe-se que para os índios-antes-de-serem-índios não existia demarcação circunscrita, eram nômades, viviam em um espaço liso (Deleuze/Guattari). Depois de toda a demarcação em espaço estriado, é necessário flexibilizar as linhas desse espaço. Assim como o colonizador europeu chegou dizendo que a terra era sua, Quartiero fala em “meu município”. É o arremetimento da propriedade privada capitalística contra as comunalidades democráticas. Para o STF, a decisão mostrará duas coisas: uma, se o judiciário brasileiro acompanha a linha democrática do governo Lula; e, duas, se atua para confirmar a Justiça ou o Etnocídio.

3 thoughts on “NAZISMO E GUERRA JUSTA NA RAPOSA SERRA DO SOL

  1. VOCÊS VIRAM ?!?!? >>
    http://osamigosdopresidentelula…./isso- pode.html >>
    SÃO SEMPRE OS MESMOS…>>
    PARA E LL ES/E LL AS, TUDO !!!>>
    SEMPRE MAMANDO NAS “TETAS” DA VIÚVA E DEPOIS VÊM COM FALSOS MORALISMOS …>>
    É POR ISSO QUE TÊM QUE PROIBIR AS ALGEMAS, CASO CONTRÁRIO, OS PRÓXIMOS SERIAM E LL ES. >>
    É UM ESCÁRNIO !

  2. Pe. Alberto,
    Você é dos “Lugos” paraguaios da vida, que não ficam esperando por Deus enquanto permanecem alheios, ou melhor, muito bem situados nos governos de momento. Como cantoria o cantador Xangai: “Quero vida aqui na terra e não no reino dos céus”. Não são meros comentários os que você fez; são enunciações que deixam transparecer seu desejo ético por justiça. E são filosofantes, uma vez que pega a questão pela rostidade (“a foto”). Mostra muito que tipos de agenciamento passam por esse rosto: linhas duras, rigidez, blocos de afetos tristes, tentando impedir o movimento ético-criador (justiça) no mundo…
    Valeu!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.