A CARAVANA LITERÁRIA DOS ARTISTAS AMAZONENSES NÃO PASSA…

A arte anódina da alcunhada classe artística manoniquim em companhia da educação gastrológica dos governos estadual e municipal. Assim se pode definir a “Caravana Literária”, idéia de artistas locais em parceria com os governos para apresentações nas escolas públicas.
Poesia, música “amazônica”, literatura “amazonense”. Tudo ao alcance dos alunos, que se deleitam (na visão deles) com as composições dos artistas locais. Sempre à míngua econômica, os artistas (alcunhados) caboquinhos reclamam que faltam recursos para ir a todas as escolas espalhar o bálsamo da boa arte para os a-lunus (sem luz, sem conhecimento). Daí surgir, aos olhos de qualquer aluno que se quer estudante, a ausência da potência ativa da educação no referido projeto.
Primeiro, porque os códigos que estes artistas carregam são os mesmos que eles já ouvem nas rádios e nos programas musicais de entretenimento, da Globo à Globo. O mote “amazonense” é apenas uma armadilha semiótica usada para tentar capturar algumas consciências, a partir do estabelecimento de um território existencial que nada tem a ver com a arte. Um artista cria seus códigos, que só podem ser decodificados a partir do território existencial que a própria arte cria. Daí entender-se no primeiro verso, no primeiro acorde, que os artistas “amazonenses” não tem nada de amazonenses muito menos de artistas. Neste caso, vale uma adaptação máxima atribuída a Mark Twain, Tolstói e Samuel Johnson: o regionalismo é o refúgio dos impotentes.
Segundo, porque esta arte anódina só interessa a governos que se pretendem proprietários da Inteligência Coletiva, e se auto-intitulam fonte de toda a criação comum. Como a arte é uma produção coletiva criadora de novos códigos e territórios existenciais, é perigosa para governos autoritários e imóveis. Daí secretarias, do município ao Estado, estarem mais para Paulo Coelho do que para Paulo Freire, no sentido de que produzem uma educação gastrológica: aquela que serve apenas aos interesses de consumo. Daí outra armadilha semiótica: levar a arte às escolas.
Se é necessário levar a arte às escolas, é porque lá ela não existe. Como fazer educação sem arte? Os governos estadual e municipal assumem sem o menor laivo de vergonha (a cólera contra si mesmo) que em seu currículo pedagógico a arte é acessória e cosmética. Um objeto para se ver, contemplar e consumir. Não são, portanto, democráticos.