!!!!! O MUNDO É GAY !!!!!
A AIDS COMO DOENÇA DA SOCIEDADE
Foi encerrada ontem a XVII Conferência Internacional de AIDS, realizada pela UNAIDS, na Cidade do México. Dentre diversas discussões, o resultado final foi de que, embora tenha havido diminuição do contágio e do adoecimento no mundo em geral, ainda não se pode falar em arrefecimento da epidemia.
Vivem hoje no mundo cerca de 33 milhões de pessoas infectadas com o HIV, sendo 2,7 milhões infectadas em 2007, tendo sido registrados cerca de 2 milhões de óbitos decorrentes da doença. A perspectiva oficial é de que 7500 sejam infectadas a cada dia. No segmento de homens que fazem sexo com outros homens, o risco de contágio, estatisticamente, é 19 vezes maior. Ainda não há, na maioria dos países, pesquisas confiáveis sobre a incidência de contaminação em segmentos sociais. Os dados são do relatório da UNAIDS.
No últimos anos, a doença tem avançado, sobretudo em mulheres casadas, infectadas pelos maridos. Mas do ano passado para cá, a incidência de contágio em trabalhadores sexuais, homens que fazem sexo com outros homens e usuários de drogas injetáveis, que antes era estável, começou novamente a preocupar.
No Brasil, junto com as políticas de valorização e de visibilidade social do segmento LGBT, o governo federal criou uma CAMPANHA ANTI-AIDS para atingir o público gay, que tem ao seu dispor um dos mais eficientes sistemas públicos de tratamento da doença, mas que assiste mesmo assim um crescimento do contágio nessas pessoas. O assunto já foi tratado nesta colunéeeesima (leia mais nos links aqui disponibilizados, se informa, maninha!)
A tendência dos organismos internacionais é de tratar a epidemia global como um problema de saúde pública, não restrito a grupos sociais. Mesmo assim, vez por outra, alguém retorna ao tema dos chamados “grupos de risco”.
Mesmo com este entendimento da maior parte das entidade em tratar a AIDS como um caso de saúde pública, é preciso entender que seu ciclo de contágio não se reduz à biologia do vírus. A AIDS não é uma doença como as outras. O seu contágio, desenvolvimento e letalidade estão intimamente ligados com as contradições e estratificações sociais dos sistema capitalista.
Vejamos um exemplo: a pesquisa da UNAIDS diz que a chance de um homem que faça sexo com outro homem contrair o vírus é 19 vezes maior do que a de um homem que faz sexo com uma mulher. Um enunciado que silogisticamente leva à conclusão de que homoeróticos são mais propensos a se contaminar. Uma armadilha da linguagem, que encobre o fato de que a maior parte dos contaminados ainda é de homens, independente da orientação erótica/sexual.
As produções das estratificações sociais (os rótulos, os padrões, as “verdades” instituídas, o que é ou não socialmente aceitável) são resultado do modo de produção capitalista, na medida em que a produção social condiciona a existência. Quem veio primeiro? O homoerótico ou o comportamento de risco? O comportamento é de risco, mas qual é este risco, e para quem é este risco?
Há um discurso da sexualidade que procura enquadrar o sexo no plano da sociedade de consumo, como bem colocou o filo-homo-eroticus Michel Foucault. O objetivo de uma tecnologia da sexualidade é um maior controle e o estabelecimento de um poder sobre o corpo e a existência do outro. Daí a conclusão de Roland Barthes, quando afirma que há sexualidade em tudo, menos no sexo.
Com os comportamentos bem localizados, esquadrinhados, definidos e rotulados dentro da moralidade, o “dentro” e o “fora” se complementam no jogo do não-jogar da sociedade burguesa. É assim que homens casados e pais de família são infectados “na rua” e voltam pra casa para contaminar as esposas. É preciso retirar do sexo seus dois elementos revolucionários, capazes de abalar as estruturas da sociedade de controle/consumo: o seu aspecto libertador, o orgasmo que desestabiliza o existir, o êxtase dionisíaco que desterritorializa o humano da sua humanidade demasiado humana, inclusive política, o a sua característica de gratuidade, afinal, se o sexo é uma relação, que seja ao menos uma relação entre consumidor e produtor, um mercado do sexo. Assim ele se torna sexualidade: inodoro, insípido, incolor.
O que desvia da norma social deve ser tolerado, a não ser que ameace a própria norma. Assim, um pouco de pornografia em ditaduras é permitido, desde que envolvidas numa embalagem de “proibição”. Assim, a prostituição, mesmo sendo contra a lei, é tolerada pela norma. A prostituta moralmente condenada a ser a palmatória do mundo, inclusive do sexo mal resolvido. São elas/eles também consideradas um grupo de risco. Entendimento equivocado da boa moralidade cristã-paulina, do qual Elena Reynaga, do grupo RedTraSex (Rede Latinoamericana e Caribenha de Trabalhadoras Sexuais), que defende o trabalho sexual livre de estigmas e exploração daninha, não faz parte. Esta argentina lindíssima mostrou em seu discurso na conferência, aplaudido efusivamente, que enquanto os homens incentivam o comportamento de risco, não usando camisinhas e procurando prostitutas na clandestinidade, a parte da discriminação e da responsabilização fica todo para elas. Na Conferência, ela diz que indigno não é o trabalho da prostituta, mas sim as condições a que são expostas. Para a entidade, as políticas de repressão ao trabalho sexual (sem exploração ou coação) são prejudiciais às trabalhadoras e leva à estigmatização e violentação por agentes governamentais. Ela critica ainda a política estadunidense para a prevenção, intitulada ABC (Abstinência, Fidelidade, e – em último caso – camisinha), mostrando que ela só vale (e nem isso!) para os “normatizados”.
Todas estas estratificações sociais, cujos sintomas são a prevalência de grupos sociais que precisam existir sob o julgo da discriminação e da repressão, são um produto do modo de produção do capital. Assim, a AIDS vem evidenciar que o verdadeiro foco da epidemia não está no chamado comportamento de risco, mas num (des)entendimento de mundo que faz com que seja possível existir estes comportamentos.
Enquanto não se compreender isto, estaremos longe de debelar esta epidemia, que é social, no sentido em que expõe de forma clara as contradições em que vivemos.
Ui! E agora vamos ver outros sopros gayzísticos (ou não) que passaram no nosso Mundico!
Φ JUSTIÇA CONCEDE PENSÃO A EX-COMPANHEIRO DE SOLDADO. A justiça do Distrito Federal concedeu esta semana ao pintor Jubton César Alves de Melo, 41 anos, o direito a receber pensão pelo falecimento do seu ex-companheiro, José Roberto Silva, que era praça do Batalhão da Guarda Presidencial. José Roberto faleceu em 2006, e era soro positivo. A juíza Luciana Maria Pimentel Garcia aceitou o pedido da defensoria pública e deferiu o pagamento da pensão. Jubton e José viveram juntos por 13 anos. Quando há bom senso, Jildirlane, não há necessidade de lei específica para os homoeróticos. É esta a diferença entre ser tolerante e desejante, sacou? Sentiu a brisa, Neném?
Φ ALGUMAS LINHAS DA 13a GAY PRIDE DE AMSTERDAM. Podemos nós, aqui do Brasil e da Manô, achar que na Holanda não há mais o que reivindicar em termos de políticas LGBT. Ledo engano, fofucha! A 13a Parada Gay de Amsterdam ferveu nas ruas e nos bastidores. Das críticas de Edgar Bonte, adepto do sex, drugs and tecnopop, ao estilo mais politizado da festa até o desfile de abertura feito pela polícia, esta parada foi uma verdadeira parada para os oranges. Frank van Dalen, atual organizador, envolveu o patrocínio e o engajamento de empresas, além da participação de políticos da esfera nacional na parada. Com foco mais midiático e com um tema que critica o modo normatizador de tolerar o homoerotismo no país, o fundador da ProGay, entidade que organiza a parada da cidade, mexeu com os ânimos, de Norte a Sul. Houve guerra de egos entre os políticos presentes (mais preocupados com a imagem eleitoral que com as lutas – mas isso tem aqui também, né, Braz, né Glória?), homenagem à polícia, que faz um trabalho belíssimo no combate à homofobia, e um público estimado em meio milhão de pessoas. Festa com engajamento, é o mote de van Dalen, para desespero dos adversários. Um engajamento, na realidade, não muito diferente das paradas nacionais, onde o interesse político e da iniciativa privada é mais midiático/mercadológico do que propriamente de envolvimento nas questões homoafetivas. Ao menos nisso a gente tá em pé de igualdade com eles, né Consuelo? Sentiu a brisa, Neném?
Φ LEI PUNE HOMOFOBIA NO EXÉRCITO… ARGENTINO. E ainda tem quem não goste dos argentinos. A ministra da defesa Nilda Garré apresentou um projeto de lei que cria punições para discriminações e assédio sexual nas forças armadas argentinas. O projeto substitui e revoga o Código de Justiça Militar, que previa pena de morte e outras punições a soldados homoeróticos. Cruuuzes! A nova lei foi aprovada por unanimidade no senado portenho, e entra em vigor daqui a seis meses. Não por acaso, Argentina e Uruguai, os irmãos do Rio da Prata, são referência em avanços nas políticas LGBT. Neste quesito, los hermanos ganham do Brasil brincando. E olha que lá também tem Assembléia de Deus e IURD! Então, minha nêga, vamos “se” nos movimentar pra argentinizar/uruguainizar esse Brasil! Sentiu a brisa, Neném?
Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:
FAÇA O MUNDO GAY!