“E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a dor da tua conceição; em dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.”

Estudando Pagode por você.

Imagem da capa do CD Estudando o Pagode, de Tom Zé.

A História é formação molar produzida pela maioria sempre numa tentativa de perpetuação da linha dura macho-branco-heterossexual-adulto. Dos santos nos livros sagrados, passando por eminentes “filósofos”, chegando a Freud, o Pai da Psicanálise, e continuando nos microfascismos cotidianos segredados, mas visíveis na pele, nos olhos, na psiqué, a mulher é segregada como apêndice e anátema do masculino. É toda a carga discursiva da palavra de ordem histórica milenar firmada na redundância do signo significante que garante a força do caprichoso enunciado de violência em subjugar, submeter, eliminar o sexo-cosmos, o trabalho-criação, o afecto, a micropolítica que a mulher pode produzir quando livre em seu desejo, em sua ação. Mulher-Minoria.

NÚMEROS E NUMERANTES DA LEI MARIA DA PENHA

Dois anos após ser sancionada a Lei Maria da Penha, “a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 – registrou aumento de 107,9% no número de ligações em relação ao mesmo período do ano passado” (da Agência Brasil). Fossem apenas números, quantitatividade ôntica, não haveria modificação no estado de coisas constituído, e o mito do “eterno feminino” (Simone de Beauvoir) iria prosseguir com/sem disfarces, sempre na simbiose opressor/oprimido, como dizia o educador Paulo Freire. Mas, apesar das estratégias de poder estarem sempre preparando suas armadilhas de devir (Deleuze/Guattari) em forma de preconceitos, controles, cada caso de agressão física e emocional carrega um numerante, enquanto alteração ontológica, capaz de fazer esse número diminuir-se não apenas depois que os segredos de alcova deixaram de ser aceitáveis por temor dos homens maus aos rigores da lei, mas por modificação política e social na totalidade da existência das pessoas para além de classificações biológicas tradicionais hierarquizantes. Liberação da linha de fuga Devir-Mulher.

NA OPERETA SEGREGA MULHER E AMOR”

O desmusicado Tom Zé que agora compartilha site e blog tem um trabalho chamado Estudando o Pagode na Opereta Segrega Mulher e Amor (de onde tiramos a imagem que inicia esse texto), no qual contribuiu, a partir de cortes musicais desterritorializantes, para mostrar o ridículo moral da violência contra o feminino-devir, fundado nas segmentações territoriais de espaços sitiados, gestos bruscos, gritos possessivos, subjetividades castradoras…

Para quem quiser baixar o CD, clique aqui. Deixamos abaixo uma das desconstruções poietizantes do Zénial, como diriam os franceses.

Mulher Navio Negreiro

Tom Zé

Mulher – Divino Luxo – Navio Negreiro

…………………………………………

O macho pela vida
Se valida
A molestar a mulher
Se diverte.

Apavorada,
Ela, que se péla,
Pouco pára de pé,
E padece.
Quando ele pia, pia, pia,
Pra inibir na mulher o animal,
Talvez eu ria, ria, ria,
Vendo ele transar uma boneca de pau,
Com seu incubado,
Calado, colado, pirado pavor
Do segredo sagrado.

Por isto existe no mundo
Um escravo chamado
Mulher – Divino Luxo – Navio Negreiro
Graal – Puro Cristal – Desespero
Rosa-robô – Cachorrinho – Tesouro,
Ninguém suspeita dor neste ideal,
A dor ninguém suspeita imperial.
Eucaristia – Ascensão – Desgraça,
Filé-mignon – Púbis, Traseiro – Alcatra,
Banca de Revista – Açougue Informal – Plena Praça,
Ninguém suspeita dor neste ideal,
A dor ninguém suspeita imperial.

1 thought on “A LEI MARIA DA PENHA E A FRAGMENTAÇÃO DO ETERNO FEMININO

  1. gostaria de receber informações sobre eventos de mulheres ou relacionados a elas.Sou uma pastora e gostaria de invetir no ministério com mulheres carentes e desamparadas, gostaria de fazer algo por elas, Pra. Janice

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