MAROCAGEM ELEITORAL
Qualquer semelhança de tipos vivos com as marocas não é mera coincidência
Antigas e novas, reais e virtuais, mas marocagens reais. O que você está esperando? É festa democrática! É tempo de eleição! Quem não tem uma maroca ou um maroco para marocar não é democrata. Mande suas marocagens, a gente publica. Se preferir anonimato, não tem problema: sujeito oculto.
Os candidatos têm vivências, percursos, tropeços, trapaças, trambolhos, trambiques, chiliques, despistes, vigarices, calhordices, criações, produções, realizações, distorções, malversações, perseguições, muitos os, es e ões, pouco verbo e muitos cifrões, mas a democracia é pública e não dos espertalhões.
O Voto não tem preço
Não é mercadoria
É uma potência
Da democracia
O Gol e o Voto
— Tu ouviu o que aquela mulher tava falando perto da banca do peixe?
— Ouvi. “O Voto não tem preço. Não é mercadoria”. E não é mesmo.
— Cumo já num é, se a vizinha trocou o voto dela por uma dentadura nova?
— Ela não trocou, porque o Voto, como não é mercadoria, também não se troca.
— Trocou sim, mulher!
— Não trocou! Fez um acordo de no dia das eleições votar no candidato denturador. E como é acordo, ela pode quebrar. Além do mais, voto é como gol: só acontece no momento da votação. Quando o jogador chuta a bola pros fundo da rede, e quando o eleitor aperta a tecla. Aí acontece o Voto. Antes não é Voto, é só imaginação.
O Candidato e a Dentadura
— Meu, essa eu não entendi. O cara é candidato, distribui dentadura, mas ele mesmo não tem dente.
— É que a fome dele de comer o dinheiro público é maior que a fome de encher o estômago.
O Candidato Metademocrata
— Pai Lumilam, aquele vereador que nas eleições passadas veio pedir sua proteção, tá aí fora querendo falar com ocê.
— Ocê, diga pra ele que nenhuma entidade se permite ser enganada duas vezes. E diga também que o terreiro está muito bem e os santos mais ainda. E a comunidade já tem seus candidatos pra prefeito e vereador.
— E se ele insistir?
— Diga que, para o bem dele, desistir de concorrer, porque falei com os santos e eles disseram que ele vai perder feio, feio.
O Candidato Santo
— Tu já viu o livrinho que aquele candidato tá distribuindo nos bairros? Menina, não sei como deixam um cara desses se candidatar.
— Por quê?
— O cara é um santo. Tudo que o livrinho conta é como se o cara fosse “assim” com Deus.
— Será que ele não fez o livrinho para oferecer pra Deus e ganhar um cargo no céu, e não pros eleitores?
— Acho que não. Se nós, que é simples mortal, sabe da vida suja dele, imagine Deus, que é um simples imortal.
Balançando a Bandeira
— Ê, cara, levantando bandeira pra este candidato pilantra? Tu não tem vergonha?
— Vergonha? Tô aqui recebendo uma parte do que ele já roubou de nós. Na hora do vamos ver. Na hora do aperta a tecla do som, tu vai ver quem vai aparecer cantando.
— É, mas os eleitores que passam por aqui podem ser influenciados pelas tuas bandeiradas.
— Qual é, meu irmão!? Tu acha que os eleitores ainda acreditam neste candidato?
— Porra, e como eu faço pra arrumar uma boca dessa e resgatar a parte que ele me roubou?
— Tá vendo aquele gordo ali com a camisa do flamengo, conversando com aquela lourinha?
— Tô!
— Vai lá com ele que o cara é gente fina. É dos nossos. Empresta a mão de obra, mas não empresta a consciência.
Ajeitando a rua e o voto
— Tu viu aquele candidato que veio aqui e disse que vai ajeitar a rua se a gente votar nele?
— E ele é pedreiro por acaso?
— Bem que a nossa rua precisa ser ajeitada.
— Mas tu é abestada como este candidato? Onde já se viu, há 300 anos que a nossa rua tá desse jeito e só agora ele vem aqui querendo nos ajudar. Ele quer é comprar o nosso voto. E isto é crime eleitoral.
Novíssima dentadura
— Vizinha, tu tá de dentadura nova?
— Tô sim. Bonita, né?
— Vixe! Bem grande, né? Comprou onde?
— Eu não comprei. Aquele candidato que passou aqui que me deu. Vai lá pegar uma.
— Vou nada! Vizinha, não aceite essas coisas. A senhora nem sabe de quem era isso, e esse candidato só deu pra senhora votar nele.
— Este não. Este é bom. Ele dá durante todos os anos. Não é só no tempo da eleição não.
— Bom, nada. Se ele fosse bom mesmo, como ele já deu durante vários anos, agora que ele é candidato, no período eleitoral ele parava.
A Bola e o Voto
— Se o cara vier e oferecer eu pego mesmo. Vendo o meu voto e não tô nem aí.
— É por isso que todo mundo já sabe em quem tu votas.
— Qual é? O voto tem sim preço, porque é meu. Então eu faço o que quiser com ele.
— Nada disso! O voto é como jogar bola: tem que ser em conjunto. O voto é coletivo, porque tem que modificar toda a cidade. O voto não tem preço, porque ele não é uma mercadoria. O voto é uma potência democrática. Mas tu é delega mesmo, não toca a bola pros cumpanheiro, então não entende nada disso.