CRISTÓVAM BUARQUE O EDUCADOR
Quando o filósofo Lucrécio dizia que as perturbações do homem são da ordem da mistificação e da mitificação, e não da natureza, ele só mostrava o sofrimento que homem constrói para si acreditando demais em algo que foge à natureza ou no outro que pode consigná-lo como importante ou não. Uma espécie de juiz detentor das verdades necessárias àqueles que o ouvem. Para o filósofo Nietzsche, o reativo. O homem que, ao negar a vida, se tomou como o carregador dos valores morais que todos têm que também carregar.
Cristóvam Buarque, um homem cuja vida vivida é mais importante que sua biografia, como disse o filósofo Sartre, caiu em alguns tempos trapaceiros, nesta armadilha do juiz reativo. Homem de denodada atuação política, tendo a educação como potência movimentadora desta práxis. Homem, cujos percursos históricos construíram dizeres socialistas capazes de diminuírem as perturbações místicas e míticas, depois que foi demitido, tiranicamente, do cargo de ministro do primeiro governo Lula, permitiu-se ser possuído pelas enunciações lucrecianas: incorporou o ressentimento das perturbações. Passou, nietzscheanamente, a negar a vida. Adotou o niilismo apocalíptico da direita a ponto de compor-se, no Senado, com figuras dolorosas como Arthur Neto, Mão Santa, Agripino Maia, Efraim, Heráclito Fortes, tudo que há de mal no pensamento do senatorial. Assim, absolvido pelas afecções da dor, educastrou-se. Amnésico de si mesmo, comungou com a biografia, negando a sua vida vivida sartreanamente, além de obstruir a vontade de saber nietzscheana. O que lhe fazia Educador.
O EDUCADOR E A NACIONALIDADE DO SALÁRIO DOS PROFESSORES
Então, aconteceu. Cristóvam Buarque começou a discursar para todo o Brasil, diante de uma platéia comprometida com a educação nacional (que é também do mundo), construída com presença de educadores, sindicalistas, deputados, senadores, presidentes da Câmara, do Senado, Ministro da Educação, e, seu amigo, Lula. Lindo, notável, superior… o Educador. Desvaneceu-se o ressentido. Alethéia: brotou o Educador. Desfilavam Sartre com a vida vivida, Nietsche com a vida ativando o pensamento e o pensamento afirmando a vida. Atributos singulares do Educador. Falou da importante atuação da Câmara e do Senado para aprovação da lei que estabelecia o piso salarial dos professores para todo o Brasil. Elogiou a generosidade (termo usado por ele) do ministro Haddad, e, principalmente, a generosidade de Lula. Todavia, o Educador se mostrou mais atuante quando cunhou a lei como um ato revolucionário (termo deste bloguinho) que criava uma realidade nacional. O salário dos professores não era mais do município, do estado, era do Brasil! Generosidade que atingiria principalmente as crianças.
Daí que nós, deste bloguinho intempestivo, que conhecemos a vida vivida de Cristóvam, que sabemos como foi demitido por telefone de seu cargo de ministro, que sabemos que a singularidade de um Educador não pode compactuar com a dor dos infelizes, e que muitas vezes escrevemos contra seu comportamento de um triste ressentido, hoje estamos felizes em vê-lo assumindo sua cátedra de Educador, que como disse o filósofo George Gusdorf, nenhum rito de passagem pode ontologicamente outorgar.
Mas com sua vênia, Cristóvam. Considerando as crianças do mundo, sua intuição nacionalidade, para nós é transnacionalidade global.
Sinto-me orgulhosa de ter escolhido a educação como parãmetro norteador das minhas ações como profissional.
Ser professora num país marcado pela desigualdade é um desafio descomunal, mas ao mesmo tempo, alenta-me ter neste mesmo país um filho islustre, honrado e sobretudo comprmetido com uma das causas mais nobres de uma sociedade, que é a Educação.
Tento nutrir-me de sua veia de comprometimento.
Saudações educacionais,
Márcia Lima (nordestina, baiana e movida pelas causas da educação)
Email : limarsouza@uol.com.br