A PATOLOGIA SOCIAL E SEUS SINTOMAS: DANIEL “ORELHUDO” E GILMAR “PARANÓICO”

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A subjetividade patológica orelhal DD é uma manifestação da patologia social. Gilmar Mendes, rábula de DD, é também uma manifestação. Ao passar por cima de todos os ritos, disposições legais, provas, bom senso e percepção do real, o ministro do STF indicado por FHC, não guarda escrúpulos em defender sua ligação essencial com o esquema de DD, e confirma a sentença do jurista Dalmo Dallari, em 2002, quando da indicação do rábula de DD ao STF: “falta-lhe a necessária reputação ilibada”.

A patologia social, da qual DD e Gilmar Mendes são manifestações, é a patologia de uma sociedade decadente. De uma sociedade cuja segmentarização é fruto do desaparecimento do Real como referencial ético-estético, inteligível e até mesmo perceptivo.

PONTUAÇÕES DA PATOLOGIA SOCIAL: a infância de um ressentido.

Na chamada temporalidade da existência, a patologia social se manifesta antes do nascimento: os signos (valores, referenciais, saberes, dizeres, certezas) que compõem o enunciado da sociedade de consumo já estavam aí antes de DD e de Gilmar Mendes nascerem. Uma criança já nasce carregando zil elementos patogênicos: expectativas, esperanças, desejos natimortos, frustrações, complexos. A maldição familiar. Todos júniores, netos e bisnetos. Moutinhos, Virgílios, Josués, todos júniores, capturados pela dívida familiarista que exige o sacrifício da individuação pela sobrevivência da reputação.

Aí se aprendem os primeiros conchavos, as primeiras chantagens, os clichês para sobreviver. Engalfinhar-se nas trincheiras familiares, nos interstícios de ódio entre pai e mãe, cambalear entre um e outro lado, assumir uma posição, ainda que sem o uso da Razão. A vida é competição, vencem os melhores.

A laminação dos elementos constituídos num processual de singularização que a criança é, fazendo com que o processo de clonagem produza indivíduos iguais/equivalentes não é diferente da operação sociopática que faz com que, no capitalismo, produtos tão diferentes quanto uma bicicleta e um saco de feijão sejam vistos como iguais/equivalentes. O valor de uso tem menos peso que o valor de troca, até que a operação de fetichização, o engôdo mágico do capital transforme-os em iguais, ignorando suas características individuadas. Como disse o filosofantes DEGA (Deleuze & Guattari), n´O Anti-Édipo, era impossível que os primeiros capitalistas não percebessem o que faziam. No capitalismo chamado pós-moderno, a produçao em massa de indivíduos, os clones, segue a mesma operação patológica.

Daí o “se dar bem” seja o modo de existir disseminado. A partir da indiferenciação com o outro, não é a coletividade que se fortalece, mas a ilusão da não-relação de causalidade e de comum-unidade entre as pessoas. Não é uma indiferenciação com o outro, mas do outro. A lógica do meu pirão primeiro.

No entanto, nada disso lhe captura de forma insuperável ou inevitável. Sartre, o filosofante francês que estudou as relações da consciência, e vislumbrou a consciência malograda do burguês, sabia que a escolha é feita sempre em liberdade. Escolher o já constituído, ser capturado pela lâmina da privação, é agir na má-fé. Uma consciência que não se dilui no Real como elemento ativo e construtor, mas se coloca ao sabor dos elementos que encontra. Uma insuportável consequência. E ser uma consequência traz suas consequências.

DANIEL DANTAS E GILMAR MENDES: uma semiologia patológica.

Ao ser abordado pelo delegado Protógenes no seu escritório, o “orelhudo” Dantas tomou o seu tranquilizante. Mesmo cercado pelas certezas que o mundo (dele) lhe dá (a imprensa favorável, juízes e desembargadores comprados, políticos profissionais aqui e ali, todos no mesmo bolso), ele sentiu. O sintoma de que algo nas certezas que constituem o seu Ser se abalou. Dantas entrou num território desconhecido. Até então, carregava a certeza de que todos têm seu preço.

Ao ver o seu habeas corpus se esfacelando frente ao brilhante trabalho da equipe do juiz De Sanctis, e da eficiência da PFR (Polícia Federal Republicana – sem tucanismos/pefelismos e sem petismos dirceuzados), Gilmar Mendes paranoicizou escutas na sala da presidência, a qual toma como sua. Se, para a psiquiatria, um policial sem farda é como uma criança desamparada e insegura, como ficaria o vetusto ministro sem a toga? Que verdades ele crê ocultar, que as supostas escutas da PFR não podem saber? Para Gilmar Mendes, só há um segredo (que é segredo para ele): tudo está na cara.

Patologias. Sintomas. Paranóia. Insegurança. Pânico. Nem os milhões roubados são capazes de comprar a segurança existencial que não se construiu ao enfraquecer as “certezas” do mundo. Aquele conformismo bem ao estilo classe média, que critica os políticos corruptos, mas explora a empregada doméstica, tiraniza os filhos, aniquila a esposa/o marido. Não há nada que incomode mais um patologizado pela imobilidade decadente do que ser tocado por um corpo democratizante, que carrega fluxos libertos. Por isso o “orelhudo” precisa do calmante. Por isso Gilmar Mendes precisa atropelar o sistema judiciário brasileiro para confirmar sua subserviência ao seu patrão, e se incomoda com o existir de um juiz De Sanctis. Dessa prisão, que eles construíram para si, não há habeas corpus que liberte.

Por isso é necessário não o conformismo do sorriso amarelo e da frase ressentida: “eu não falei?”, mas o humor, a alegria, a inteligência e a postura de eticidade, a fim de tocar na patologia social não apenas através de seus sintomas, mas em suas causas. Eis aí uma medicina filosofante (Nietzsche/Spinoza) que pode debelar essa patologia social, que permite o surgimento e a existência de um Daniel Dantas e de um Gilmar Mendes.

Em vez de serem apenas bons, esforcem-se

Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade

Ou melhor: que a torne supérflua!

Em vez de serem apenas livres, esforcem-se

Para criar um estado de coisas que liberte a todos

E também o amor à liberdade

Torne supérfluo!

Em vez de serem apenas razoáveis, esforcem-se

Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo

Um mau negócio.

(Bertolt Brecht)

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