Quando os militares tomaram o Estado Brasileiro em 64 fizeram um apanhado de tudo que acreditavam ser contra a segurança interna do país. Prenderam pessoas, livros, revistas, jornais, discos, filmes, censuraram meios de comunicação. No afã da defesa ideológica, os principais personagens inimigos para eles eram os comunistas, ou talvez comunistas, ou quem deixasse transparecer o sentimento democrata. Alguns fugiram, outros foram exilados, e outros cassados. Entre os cassados estavam aqueles que não eram ideólogos de qualquer causa de liberdade política-social. Foram cassados por outros motivos. Entre os cassados por outros motivos, estava o ex-governador Gilberto Mestrinho, que como pena de banimento fora obrigado passar seu ‘sofrido’ exílio no Rio de Janeiro, para voltar vitorioso com a complacência e conivência da escotômica dita esquerda Amazonense.

Hoje, em tempos de eleição para prefeito, depois de alguns mandatos beneficiados pelo pós-ditadura amazonense, o poli ex-governador Gilberto Mestrinho anuncia seu apoio ao candidato Omar Aziz, vice-governador de Braga, gerado por Amazonino, que fora gerado por Gilberto. Para defender sua posição apoiante, afirmou que assim fazia porque quando foi candidato contra a ditadura o então jovem líder estudantil, Omar, lhe apoiara.

GÉLIDOS RUMORES DITATORIAIS

Há duas maneiras de entender rumores. Uma, como corte na linguagem dominante, como pensam Barthes e Deleuze/Guattari. Um devir-signo que desvia os objetivos da linguagem arborescente: selecionadora, classificadora e hierarquizadora. Duas, um rumor-memória ecolálico, ressonante, que se pretende fantasmagoricamente perpetrar um signo de um estado de coisa inexistente. Este segundo, o recorrido pelo ex-governador. Observemos. Em 83, quando Gilberto foi candidato, já não havia mais ditadura. Ninguém era mais preso, muito menos pegava um só cascudo da Polícia Militar, quanto mais do Exército, Marinha ou Aeronáutica. Além de que, Mestrinho concorreu contra Josuezinho, radialista, filho de um grande amigo seu. Boyzinho que não ganhava nem do Carrapeta. Para quem não sabe, Carrapeta era um cantor-vereador, filho de D. Raimunda, uma boa e amiga senhora. Então, não havia ditadura. A não ser na fantasia de alguns estudantes que estavam surgindo delirantemente no seio escolar, acreditando que o mundo havia começado naquele momento. Uma espécie de egolatria destrambelhante.

Quanto ao líder estudantil, Omar, no entendimento político e epistemológico de líder, deixando de lado o mistificado, o apoiador do ‘rebelde’ Mestrinho, não possuía essas faculdades imprescindíveis para quem, engajado, luta junto com as categorias, consignando as liberdades. Ativistas daquela época, como Rui Brito, Humsilka, Marivom, Guto, Ilmar, entre outros, que vinham de lutas das décadas de 60 e 70, com suas presenças, impediam que qualquer Omar despontasse como líder. Pegar um megafone e gritar palavras de ordem, “Quem sabe faz a hora” (quando Vandré já nem existia) movido por impulso familialismo-teológico-edipiano é não ter examinado a história marxistamente. Nada mudou no Amazonas em sua subjetividade dominante-alienante, e quem fez o exame marxista na época continua construindo processuais de novas existências. Não tergiversou de que o homem não é para passar privações.

Entretanto, há um signo verdadeiro no rumor eleitoral de Gilberto. Como Omar foi um dos primeiros a sentir as primícias da força capitalista da ‘boa’ direita reacionária, e por isso passou de malas e cuias para o território de Gilberto e Amazonino, o ex- governador, previu que ele, ao apoiá-lo, era um dos seus, e que em brevíssimo futuro sentaria a sua mão direita. O que se prolongaria até hoje. Gilberto foi o grande profeta do fim de feira da ditadura. E vendo hoje, não só Omar, abraçado com a direitaça, como o PCdoB e parte do PT, Gilberto era um Deus Nos Pague.

Olhando de 2008 para 83, Omar não transgrediu às esquerdas – muitos apoiaram: PCdoB, PCB, menos o PT – para apoiar Gilberto, estava apenas mostrando o seu comunismo: o que é comum nos grupos capitalistas.

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