!!!!! O MUNDO É GAY !!!!!
A DISCRIMINAÇÃO E A PRODUÇÃO DE COMUNIDADES.
Duas notícias, da área da saúde, aparentemente sem relação, se tocam num aspecto que é difícil de ser abordado sem uma análise menos superficial da produção de subjetividade. A primeira, de algumas semanas atrás, mostra que o número de pessoas atendidas no SUS e que foram vítimas das condições mínimas para se viver em uma cidade chega a 20%. Desde a calçada precária (ou inexistente, no caso de Manaus) até a violência urbana, passando pelo desemprego, trânsito, poluições de toda ordem, falta de condições de trabalho, dentre outros males cotidianos formam as armadilhas sociais que os políticos armam para os cidadãos. A segunda notícia, publicada esta semana, mostra que, de acordo com um levantamento feito pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, 59% dos jovens homoeróticos não procura os locais apropriados para tratamento de doenças ou procura somente em último caso. A razão? Medo da homofobia.
São dois sintomas de um mesmo problema: a prevalência de uma subjetividade nociva à qualquer modo de existência que divirja do homem consumidor do capitalismo pós-século XXI, e a dificuldade de criação de linhas de fuga que enfraqueçam esta subjetividade.
Par a Sociologia e a Ciência Política de gabinete, a palavra comunidade se refere a um nicho social formado por uma organização arquitetônica, urbana, povoada e que faça parte da constituição demográfica, social e econômica de uma cidade. No entanto, uma comunidade é uma produção subjetiva, que engloba os elementos acima citados, mas não se reduz a eles. Que tipo de produções de modos de existir, de comportamentos, de percepções, compreensões e visões de mundo são engendradas a partir desse “nicho social”? Como eles se inter-relacionam?
Se a democracia no sentido espinosista é o encontro das liberdades individuadas num plano de coexistência, produtor de uma potência de ação política que aumenta à medida em que os encontros produzem bons afetos, então, diante de uma saúde que é sobrecarregada pelos males advindos de uma cidade-armadilha para seus cidadãos e que é homofóbica, não podemos afirmar que vivemos em uma democracia. Se a democracia é o Bem Comum, então podemos afirmar que ela é homossocial. Não é compatível, portanto, com homofobia. Nem com um sistema de saúde que serve para evidenciar a doença produzida por um sociocapitalismo que produz igualdades onde uns são mais iguais que outros.
Democraticamente, somos todos responsáveis pelo mundo em que vivemos, ainda que, quando viemos a ele, já estivesse do jeito que está. No plano da gestão pública de uma cidade, portanto, só é possível falar em comunidade quando todas as pessoas podem agir livremente na produção de elementos materiais e imateriais que promovam o Bem Comum. Nada a ver com governos presos ao edipianismo burguês, o qual resulta no assistencialismo paternal, onde o governo é totalmente responsável pelo modo de existir da cidade e os cidadão aceitam passivamente as deliberações dos governantes e não atuam politicamente. Nem dar o peixe, nem ensinar a pescar, mas produzir outros modos de matar a fome, é esse o sentido da Democracia como devir, e não como estrutura de poder.
Daí inferirmos, ainda espinosianamente, que a função de um governo organicamente democrático não é decidir pelas pessoas, mas criar as condições para que seus habitantes possam agir em comum-unidade, produzindo desta forma comunidades mais vastas, de saberes e desejos, como enuncia o filosofante Antonio Negri. O que tenta fazer o governo Lula, com acertos e equívocos, e o que nem de longe compreendem as administrações imobilizantes do governo do Amazonas e da Prefeitura de Manaus.
Assim, quando o governo cria leis para que o movimento LGBT possa ter um tratamento mais próximo aos seus “desejos e saberes” e ao seu modo de existir (como as cirurgias gratuitas de transgenitalização, o financiamento via Minc para projetos voltados ao público LBGT, o direito a ser tratado pelo nome social nas unidades do SUS, dentre outras), não cria comunidades, já que a lei por si só não é capaz de modificar a pequenez e a (des)compreensão de alguns médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e outros agentes da área da saúde. É da responsabilidade de cada um, não individualmente, mas como individuação, como potência livre na ação coletiva.
Fazendo uma multitude ao invés de uma unidade, é possível enfraquecer essa subjetividade, na qual estão ainda capturados e estupidificados alguns habitantes desta não-cidade que é o mundo (e o Brasil) em que vivemos. Sem alegria, não há movimento. Daí inferir, enfim, que sem os fluxos gays, não há comunidade.
Ui! E agora vamos ver outros sopros gayzísticos (ou não) que passaram no nosso Mundico!
Φ SARGENTO SERÁ SUBMETIDO A EXAME POR CIVIS. Embora não tenha sido libertado, e siga em regime de prisão, o sargento Laci de Araújo será submetido a uma perícia por parte de uma junta médica civil. A decisão ficou a cargo da juíza Zilah Maria Petersen. Ela entende que o exame deve ser feito por alguém de fora: “eu não acredito em um exame pericial feito em uma casa, se há um problema psicológico, ele está lá permanentemente”. Grande saque, maninha! Tens toda a razão em afirmar que o problema é do exército, e não de Laci. E, embora tenha sido arbitrária a prisão, a acusação de deserção não permite que a juíza liberte, mesmo que provisoriamente, o sargento. De qualquer forma, é um passo adiante na resolução deste caso, que tem sua importância em evidenciar os elementos microfascistas que ainda residem na caserna. Quando militares usando pantufas e vestidos de pijamas verde-olivas, tiram a dentadura para exaltar a ditadura, não se trata apenas de um regime político de exceção, mas de um modo de existência que corrompe a democracia e restringe a potência de agir das pessoas. Daí a dificuldade das forças armadas brasileiras em perceber que não há incompatilibidade profissional entre a orientação erótica e o exercício da atividade militar. Embora, cá entre nós, bombonzinhos, quem quer ser um corpo dócil, amestrado para a guerra e diminuído em sua potência de agir, inclusive no campo do sexo? Cruuuuzes, foge desse calvário, Madalena! Sentiu a brisa, Neném?
Φ MAIORIA É A FAVOR DO PLC 122/06. Quando o serviço de atendimento “Alô Senado” percebeu que a maioria das ligações de cidadãos que tratavam sobre o PLC 122/06, que criminaliza a homofobia, eram de pessoas criticando o projeto, por incrível que pareça, vindo de uma instituição que se faz desnecessária na construção da democracia brasileira, a diretoria do Senado resolveu tirar a prova: usou o serviço de pesquisa da casa, o DataSenado, para fazer uma amostragem mais heterogênea, e se surpreendeu. Nos últimos 12 meses, dos cidadãos que ligaram para o serviço (mais de 140 mil), 73% se colocaram contra o projeto. Na pesquisa do DataSenado, 69% se declararam a favor, 26% contra e 30% afirmaram desconhecer o projeto. Descobriu-se então que havia uma campanha em algumas igrejas apocalípticas e em parte da igreja católica incentivando fiéis ovelhinhas a telefonar para o “Alô Senado” e descer o sarrafo no PLC 122/06. O serviço cita o caso de uma senhora que ouviu do pastor que o projeto seria para liberar o casamento gay, por isso ligou se manifestando contrária. Quando foi orientada quanto ao teor da medida, mudou de idéia. Duas inferências rapidinhas: um, a questão da homofobia institucional – não dirigida a partir de uma pessoa, mas de uma instituição, notadamente as igrejas, que sempre foram menos uma forma terrena de alcançar o divino do que uma instituição de controle e inibição das produções ético-estéticas do corpo como realidade política. Outra, o desconhecimento geral das pessoas quanto à temática. Será que as pessoas sabem o que é homofobia, e até que ponto o individualismo exacerbado que prevalece na chamada pós-modernidade (que de pós não tem nada) cria situações de extremos, como a homofobia institucional, que não se reduz às igrejas, mas passa também pelos grupos de intolerância generalizada (neonazistas, ultradireitistas, por exemplo), e a indiferença das pessoas quanto ao que as outras fazem ou deixam de fazer, não por uma análise racional, mas pela mesma indiferença que lhes torna inertes diante de uma violência socializada. De qualquer forma, é um caminho o apontado pela pesquisa: a informação e a inclusão das temáticas das chamadas minorias no rol das discussões de bar, escolas, igrejas, e onde houver alguém batendo um papo. Vamos lá, menin@d@!!! Sentiu a brisa, Neném?
Φ CAMPANHA: “QUERO UM CONVITE DO ORKUT!!!”. Bem que muita gente desconfiava, mas só os íntimos sabiam. O magrinho turco que inventou o site de contatos mais usado no Brasil, Orkut Buyukkokten, vai se casar! E esta coluna lança a campanha para que todos os orkuteiros do Brasil ganhem um convite para a festa! O felizardo é o companheiro de Orkut, Derek Holbrook. Os fofos ficaram noivos e anunciaram na web. Como o fofuxo é figurinha fácil no Brasil, onde o seu site faz sucessaço, inclusive entre os senadores, seria bom que a festa do casamento fosse em terras braziniquins. A entrada, o perfil do orkut impresso. Já pensaram?? A festa ia bombar! Todo mundo se jogandooooooo!!!!! Sentiu a brisa, Neném?
Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:
FAÇA O MUNDO GAY!