O vereador Brás Silva, interpelado por sua compulsão moral pautada na onda do piratear, propôs uma propositura (termo abusado nas falas dos edis) como audiência pública: “A Pirataria no Jornalismo”, com a participação além dos edis, o presidente do sindicato dos jornalistas Cezar Wanderlei, alguns profissionais da área, estudantes e apresentadores de programas.

Como sempre ocorre quando um signo lingüístico que foi construído por meio de uma prática social é desdobrado para outro significante-significado, o termo “pirataria”, por carregar apenas dos corsários dos mares a ação de se apossar de objetos alheios, também mostrou a sua inconsistência lingüística-política na tal audiência pública deslizando por vários igapós, furos e igarapés, mas sem chegar no oceano, muito menos em terras já dantes navegadas. Não por causa do presidente do sindicato dos jornalistas e de poucos representantes da categoria, mas principalmente pela limitação intelectual, e compromisso social (que necessita do intelecto), da maioria dos vereadores, o que já é sabido pela população manauara e por outros que foram à tribuna articular o silêncio: o destrambelhamento fonocognitivo.

A FALA JORNALÍSTICA E A MUDEZ

César Wanderley Como presidente do Sindicato dos Jornalistas, começou, amparado por dois dicionários, a conceituar o que é Pirataria. Mostrou suas implicações jurídicas criminais como produto copiado, suas conseqüências tributárias, além da usurpação trabalhista. Comparou esta prática com a mesma praticada em todas as empresas ditas jornalísticas situadas em Manaus. Exemplificou a quantidade de radialistas que estão trabalhando em rádios sem formação profissional, o abuso profissional e salarial que empresas praticam na exploração de estudantes (estagiários), obrigando-os a exercerem uma função como se fossem um profissional, pagando um mísero salário, empresas que não cumprem com as leis trabalhistas não assinando a carteira profissional de jornalistas, desta forma sonegando seus direitos sociais. Dando nome das empresas de comunicação que praticam esta agressão profissional, citou a Rede Amazônica de Televisão, com quem o sindicato já vem tentando mudar esta situação sem surtir efeito esperado pelos jornalistas. Depreendeu-se de sua fala que a onda piratear é navegada pelos empresários que não cumprem com suas obrigações sociais e trabalhistas, impedindo que a informação (produto original) chegue ao consumidor: o leitor. Estes um dos saques na comunicação brasileira.

Antes do término de sua fala, foi interpelado pelo vereador Gilmar Nascimento, presidente da sessão, exigindo que ele se ativesse apenas à propositura, a pirataria, pois o que ele tinha falado eram questões trabalhistas e isso era assunto com a Delegacia Regional do Trabalho. Qualquer débil mental, inclusive este bloguinho intempestivo, entendeu que a interferência saíra em razão do Cezar haver comentado sobre as empresas de comunicação que possuem um bom trânsito com a maior parte dos edis.

Elias Emanuel Vereador e agente antiqüíssimo da Rede Amazônica, fator, também, de sua eleição, pediu a palavra para repudiar a fala de César Wanderley, que, de acordo com o que se percebia, ofendera a empresa sua empregadora. Teceu loas à mesma, destacando a importância dela para a Amazônia como formadora de grandes profissionais da área. Para quem não mora no Amazonas, esta empresa é retransmissora da Rede Globo. Depois, quando o seu momento de ir à tribuna, teceu mais elogios a sua empresa-patrão.

Sebastião Assante Jornalista, ex-presidente do sindicato, semi-falante e semi-mudo, deixou evidente sua dificuldade de tomar uma posição clara sobre o tema, o que para alguns poderia saltar como um tom articulador, o que em verdade foi uma tentativa de enfraquecer a posição de César. Fica óbvio quando ele orienta o sindicato para conversar com os patrões. Tudo que o sindicato já tem feito. Principalmente com os donos da Rede Amazônica. Seu jeito de bom menino, pouco auxilia nas lutas democráticas dos jornalistas.

Jorge Maia O vereador, que tantas vezes em nossos breves passeios pela câmara nos serve com seu talento para risos, desta vez tomou uma atitude coerentemente democrática. Acusou os meios de comunicação que permitem que certos apresentadores usem os veículos de comunicação como tribuna eleitoral, explorando a miséria do povo para se elegerem e manterem a legislatura.

Joaquim Marinho Advogado-radialista, que está em todas as listas da cultura inútil, acreditando possuir uma original verve piadista, começou chamando atenção para a rampa de acesso à tribuna, que não possui corrimão, e que ele, como idoso de 65, precisava. Lamentou o som que reverbera demais, se dirigindo para o cantador de boi Arlindo Junior, dublê de vereador. Tartamudeou alguns adjetivos, afirmando ser bom o encontro, reclamou que ainda não havia recebido sua homenagem de reconhecimento pela casa por sua brilhante contribuição para a cidade de Manaus, o que já era para ter ocorrido, mas resolveram homenagear primeiro a ministra Dilma. No mais, não houve mais.

Leonel Feitosa Agora como presidente de fato, chamou o Kinzinho à responsabilidade, afirmando que a casa era bem equipada para idosos e deficientes físicos, possuía elevador e rampa. E quanto ao som, era erro de construção. E que o cantor Arlindo Junior, o dublê, cantava era no sambódromo. A contribuição de um presidente para tão nobre propositura.

Wilson Nogueira Jornalista, chamou atenção que aquele encontro não era uma demonstração de corporativismo dos jornalistas, mas uma chamada para a sociedade se envolver com o assunto em que ela também está implicada.

Fabrício Lima Vereador, protegido da Rede Calderaro de Comunicações, grande contribuidor para este bloguinho com tiradas juvenilmente-hilárias, defendeu que estava errado tirar do ar apresentadores de TV e Rádio em tempo de eleição. Sentenciou que em se tratando de pluralidade democrática, os apresentadores tinham direito de permanecerem em seus programas até o dia das eleições. Para sustentar seu argumento juridicamente anti-eleitoral, citou outros profissionais que, mesmo candidatos, continuam exercendo suas profissões. O engraçado edil não entende que os outros profissionais não estão exercendo suas profissões em um veículo de comunicação, uma espécie de tribuna. E que quando do período eleitoral, por lei, torna-se uma tribuna. Território onde os candidatos vão anunciar seus programas. Coisas que estes apresentadores já fazem o ano inteiro.

POR FIM SEM FIM

Apesar da mudez quase que geral, valeu a fala do presidente do Sindicato, César Wanderley, que mostrou que com pirataria ou sem pirataria as empresas de comunicação também fazem parte da jogada que enfraquece a prática do jornalismo profissão cívica.

Enquanto isso, lá no topo do mastro, enrolado em sua bandeira, o Capitão Gancho só…

1 thought on “JORNALISMO E PIRATARIA NA CÂMARA MUNICIPAL DE MANAUS?

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