A UNIVERSIDADE E A POLÍTICA DA MULHER
Algumas pessoas que acreditam no enunciado que determina relações de hierarquia e valor dos saberes a partir das instâncias do conhecimento oficial determinadas pelo Estado tendem a acreditar que há diferença entre o ensino universitário público e o privado. Esse enunciado, que sustenta a divisão dos saberes em uma ordem hierárquica (fundamental, médio, superior, pós-graduação, doutorado, pHDeus…) cria idéias equivocadas a respeito do conhecimento, fortalecendo não uma relação do saber efetiva como corpo constitutivo da democracia, mas como corpo-objeto fetichizado como mercadoria, com valor de uso e de troca nas relações do mercado, independente se “de origem” pública ou privada.
Assim, alguns incautos acreditam que, porque estudaram na “federal”, são melhores do que os que estudaram nas privadas. Esquecem, por exemplo, que os mesmos professores que dão aula na pública, também o fazem na privada, com a mesma “competência”, e que, pior, muitos professores que fazem carreirismo nas universidades privadas foram alunos das federais, e reproduzem lá o que aprenderam, em termos de saber e de prática em sala de aula. Um desastre educacional.
Por isso, talvez apenas a estes incautos soe estranho que UNINORTE, UFAM, Ciesa, UEA e Nilton Lins tenham convidado para falar sobre a atuação da mulher na política a deputada estadual Conceição Sampaio (PP), que foi alçada à cadeira na ALE-AM graças ao seu aprendizado no antigo programa A Hora do Povo, que já era cópia de programas policialescos e de exploração da miséria da população, e do igual Câmera 13, onde continua a usar a condição de miserabilidade criada pelos governos anteriores e atuais, dos quais seu mentor e professor, Francisco Garcia, é aliado, para benefício eleitoral próprio.
Conceição afirma em suas palestras que é preciso fazer o povo gostar de política, porque não gostando, estará sempre condenado a ser governado pelos que gostam. Não fosse a certeza da incapacidade da deputada em produzir humor, diríamos que a frase é um sarro aos vetustos doutores, que ou não entenderam a tirada da deputada, ou compartilham do mesmo conceito de política que ela. Os cursos de jornalismo das universidades também não se manifestaram quanto aos catedráticos considerarem Conceição autoridade intelectual em assuntos diversos, como a condição da mulher na sociedade, ela que se orgulha de ter entrevistado o ex-jogador Roberto Dinamite, ele só de toalha, no vestiário do Vivaldão. Exemplo de jornalismo feminista engajado.
Assim, Conceição e as Universidades ilustram duas situações: a estreiteza intelectual da Academia (pública e privada), que trabalha com saberes inertes, que não tocam a realidade social das pessoas, e que permite a prevalência do microfascismo da política de exploração da miséria praticada por Conceição e da desimportância da própria universidade no existir cotidiano das pessoas, e a inexistência de vida inteligente nos movimentos sociais voltados para as questões de gênero em Manaus, que se calam diante desse episódio. Nem a direita da esquerda, com a emblemática Vanessa Graziotin, se manifestou. Consentiu.