Não foi Uribe, não foram os militares, não foram os paramilitares, não foi a CIA… Dessa vez não foi preciso atentar contra as fronteiras de ninguém. Pedro Antonio Marín, ou Manuel Marulanda, ou Tirofijo, considerado o criador das FARC e seu líder hierárquico maior, morreu no dia 26 de março passado, aos 78 anos, de infarto, em plena selva colombiana. Ele era o líder guerrilheiro mais velho do mundo em atividade. Já faziam mais de 40 anos que ele e um pequeno grupo de pessoas se embrenharam nas selvas, para escapar do extermínio que a brutal ditadura militar impôs à Colômbia, formando a partir daí as FARC ou Ejército del Pueblo, que aumentou em número e poder, tornando-se a mais resistente guerrilha sul-americana.

Dizem que um gato tem sete vidas. Um homem com tantos nomes, só poderia ter várias vidas. Marulanda já tinha sido dado como morto nada menos que 17 vezes. E sempre aparecia novamente para importunar o braço armado e midiático do imperialismo. Quando dava entrevista, era descontraído, bem-humorado, sempre afirmando que sua vida era a selva. E foi assim que em 1964 ante a destituição de todos os princípios do que se pode chamar um estado civil na Colômbia, como estudou Yuri Martins Fontes —, ele instituiu um estado natural de guerra. Muitas vezes as FARC tentaram dialogar para uma entrega de reféns e a possível restituição de um estado civil, mas nenhum governo durante todos estes anos em que viveu Marulanda observou os motivos iniciais da guerrilha e seu trajeto. Se por um lado muitos criticam os seqüestros realizados, por outro lado não percebem a condição de refém de um Álvaro Uribe, primeiro de Pablo Escobar, e agora, como presidente, de Bush Jr.

Mas Marulanda resistia a cada morte. E diante de tantas mortes, talvez reste a dúvida, Marulanda realmente morreu na 18ª? O Marulanda que morreu era o mesmo que fundou a guerrilha? Mais uma morte não seria uma forma de protegê-lo, depois da morte de Reyes, da atual ofensiva de Uribush? Tanto que somente dois meses depois houve notícias de sua morte. De qualquer forma, se sua vida era a selva, transformada em espaço liso, frustrando o sonho despótico de muitos presidentes colombianos e norte-americanos em capturá-lo, lá ele continuará com esse nome ou outro até o dia que não seja mais necessária a existência de guerrilhas e todos possam viver democraticamente num estado de direitos. Por enquanto, parece que Marulanda vai continuar…

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