AOS PREFEITURÁVEIS, PRA NÃO DIZER QUE LULA NÃO VEIO A MANAUS

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A passagem de Lula, ontem, por Manaus, foi repleta de fatos que ilustram o quadro político local. Primeiro, o presidente teve que se desdobrar para cumprir uma agenda dupla: do lado do prefeito Serafim, inaugurar um reservatório de água no bairro Cidade Nova III. Pelo lado do governador Eduardo ‘Guerreiro de Sempre’ Braga, a inauguração de uma etapa do PROSAMIM, no bairro da cachoeirinha. Lula visitou ainda o canteiro de obras da ponte sobre o Rio Negro, financiada pelo BNDES. Este Bloguinho selecionou algumas situações ocorridas nestes eventos, para destacar perspectivas que o leitor intempestivo não irá encontrar na mídia oficial, local e nacional, e que auxiliam na compreensão das práticas administrativas do poder público em Manaus.

POLÍTICOS MODERNOS

O governador Eduardo ‘Guerreiro de Sempre’ Braga já disse certa vez que se considera um político moderno, que rompeu com as práticas tradicionais clientelistas de seus antecessores. Serafim carregou expectativas de mudança no modo de atuação da prefeitura. Mas a modernidade que se viu, tanto no núcleo 23 da Cidade Nova III quanto na Cachoeirinha, eram funcionários públicos tanto do lado estadual quanto do municipal convocados para fazer claque para seus respectivos patrões. No caso do governo do Estado, alunos de escolas das proximidades, da secretaria de cultura, de esporte e lazer, organizados em grupos e com funções definidas. Alguns com o estilo de liderança inspirado no governador, proferiam impropérios em meio às ordens aos claquetes. No lado da prefeitura, fontes intempestivas informaram que os profissionais de diversas secretarias foram convocados a comparecer sem uniforme, e levar cartazes de apoio a Serafim. E ainda tiveram que comprar as cartolinas. Modernidades que já se encontravam nos governos de Álvaro Maia, Gilberto Mestrinho, Amazonino Mendes…

COM AMIGOS COMO ESSES…

Em um dos cartazes carregados por funcionários municipais, se lia: “Serafim, continue sempre assim como você é”. Quem precisa do governo do Estado como inimigo?

A LISTA

Quando foi discursar na inauguração das obras do igarapé da Cachoeirinha, a ministra Dilma levou uma lista de nomes de políticos e autoridades locais, para cumprir o já conhecido ritual de agradecer no início de cada fala os presentes ao discurso. Na lista entregue à ministra haviam nomes de todos os presentes e até alguns ausentes, como o deputado federal Praciano. No entanto, uma ausência foi sentida: a do prefeito Serafim Corrêa. Alguns de seus secretários, presentes à cerimônia, também não estavam na lista. Quem teria sido responsável pela lista, que visivelmente deixou de fora o prefeito e seus secretários? O PT do Amazonas, que tem alas subservientes tanto a um lado quanto a outro, não atentou a este detalhe? Se foi o governo do Estado que elaborou, por que a presença do nome de Praciano, ausente do evento e pré-candidato a prefeito? Teria sido a prefeitura, algum cabo eleitoral do governo do Estado infiltrado? Se foi o cerimonial do governo federal, este recebeu as informações de alguém ou algum órgão local. Quem teria sido? E o PT/AM, como fica nessa gafe pré-eleitoral?

AS VAIAS SERAFINESCAS E O DELÍRIO DO GUERREIRO DE SEMPRE

Serafim, como em quase todos os eventos abertos ao público que comparece como prefeito, se mostrou inseguro e com ar deprimido. É evidente a qualquer observador atento que ele não se sente à vontade. Mais uma vez, foi vaiado, e de nada adiantaram as orquestrações com a claque oficial. Quanto a Braga, aproveitou-se da presença de Lula para alfinetar o senador Arthur ‘5,5%’ Neto, mas não teve coragem para faze-lo abertamente. Ao invés disso, procurou desqualificar as administrações públicas anteriores, citando números relativos à construção de casas e se colocando como mudança. Uma ofensa à memória popular, que sabe das relações íntimas que ele (Braga) teve e continua tendo com as administrações municipais e estaduais anteriores, das quais ele é continuidade, como Serafim.

LULA MOSTRA A IGUALDADE ENTRE BRAGA E OS ANTERIORES

Lula, no seu discurso, comentou que a falta de investimento dos governos anteriores no Amazonas em saneamento básico se deu por que “em cano não se pode colocar nome de parentes. Por isso eles preferiam fazer pontes a colocar canos”. Braga nessa hora se encolheu na cadeira.

ATO FALHO OU CURTIÇÃO? LULA “ESQUECE” SERAFIM

No seu discurso, Lula, sempre com humor, lembrou aos adversários prefeituráveis que uma eleição é uma luta, não uma guerra. Que ao final da disputa, os lados devem se apoiar, tendo como único beneficiário o povo. Disse ainda que o prefeito que for eleito, seja quem for, deverá governar em aliança com os governo estadual e federal. Lula usou a palavra eleito, mas esqueceu-se de Serafim, que poderá ser REeleito. Ato falho, ou percepção de quem conhece a partir das manifestações populares? Lula, com o comentário, mostrou ainda aos ávidos prefeituráveis que percebeu o clima de guerra declarada entre as facções-iguais que estiveram envolvidas no evento, e que não comunga deste tipo de prática.

O POVO MOSTRA QUE A MÍDIA NÃO É A OPINIÃO PÚBLICA

Ao comentar em seu discurso que vai fazer o seu sucessor, Lula foi interrompido pela população com os gritos de “Dilma!! Dilma!! Dilma!!”. Sorrindo, o presidente falou: “Vocês viram que eu tive o cuidado de não citar nomes. Vocês, enxeridos, é que citaram nomes”. Ainda que entre os manifestantes houvessem membros do PT/AM a gritar, a população aos poucos (e com a enorme ajuda da chamada oposição) vai conhecendo a ministra que pode ser candidata a sucessão de Lula.

O HUMOR QUE A DIREITA NÃO SUPORTA

A mulher gosta de uma casa, um homem bonito e trabalhador, um carro e um computador. O marido eu não posso resolver. Agora, a casa, o computador e o carro, na hora em que melhora a condição econômica do País, todo mundo vai poder resolver seu problema” (Lula).

O VAMPIRISMO DOS PREFEITURÁVEIS E O CHARME DE LULA

Todos tentaram tirar proveito da passagem de Lula por Manaus. Os dois eventos, bem característicos das práticas eleitoreiras locais, poderiam ter se prestado à criar uma ligação mnemônica entre Lula e os prefeituráveis. Mas o charme de Lula não é transferível. O filósofo Deleuze diz que o charme é um processual de singularização: algo que a pessoa carrega, fruto de suas produções subjetivas e de seu modo de existir, e que lhe pertence. Só ele pode exprimir esse “algo”. Lula, por não ser igual, tem charme. Os outros não tem sequer o charme do clichê da moda consumista. Até os combalidos Clintons, que andam tomando surra de Barack Obama lá pelas bandas do norte, querem tirar uma casquinha do Sapo Barbudo. Hillary anda dizendo em campanha que irá fazer o Bolsa Família estadunidense se eleita for. Mais: Lula sabe que um governo tem por função menos resolver problemas do que criar as condições para que a própria sociedade os resolva. Um bom governo é aquele que cria distensões e permite a emergência autonômica das pessoas e dos grupos sociais. Um mau governo é aquele que cria resistências ao movimento, que censura a inteligência e fortalece a burocracia, captura os fluxos sociais e enfraquece neles a potência política de ação e mudança. Como fizeram os governos anteriores (como lembrou o próprio Lula, na Cidade Nova, ao comentar que se aquela obra tivesse sido feita há 30 anos atrás, o povo não precisaria passar pelo problema que está passando) e continua fazendo os dois governos atuais, municipal e estadual. De nada adiantou todas as artimanhas, rasteiras, fofocas, futricas, mexericos, picuinhas e outras “inhas” que Braga armou pra Serafim e Serafim para Braga. Enquanto eles se degladiam, Lula só…

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