Se a Vertebral não analisou nada se realizou

Coluna Vertebral

Apresenta

ENTREVISTA COM KARL MARX EM SEU 5 DE MAIO

Há universos. Há matérias. Há cintilações. Há Vida. Não há morte. As composições fazem os seres como contínuos diversificados. Quando o homem é engendrado, a Vida já se dizia. Na Vida não há Cronos, só Aion. O tempo Vida sem divisão. O filósofo Karl Marx estudou a matéria em todas as suas formas e demonstrações. Tem tese sobre os dois filósofos antigos que mostraram a matéria como força produtiva: Demócrito e Epicuro. Ao estudá-la, entendeu que a Vida é um movimento do qual jamais sairemos, pois não há morte. Nisso, ser possível conversar com o filósofo de O Capital neste 5 de maio de 2008, mesmo com seu registro de nascimento de 1818.

Esse, o presente do bloguinho intempestivo aos seus leitores nas festas do filósofo da pré e da possível História. Já que filósofo não aniversaria, é aniversariante. É o pensamento se fazendo no antes, no agora e no depois.

COLUNA VERTEBRAL Tu começaste na jurisprudência, enveredaste pela história, economia e te abraçaste com a filosofia. O que tens a dizer sobre estes que confundem teólogos como professores de filosofia com reais filósofos?

MARX Os filósofos não brotam da terra como cogumelos, eles são frutos da sua época, do seu povo, cujas energias, tanto as mais sutis e preciosas como as menos visíveis, se exprimem nas idéias filosóficas. A filosofia não é exterior ao mundo.

CV E sobre estes que se dizem filósofos, perdendo tempo interpretando o mundo…

M O filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é transformá-lo.

CV O que é o dinheiro?

M O dinheiro não é só um objeto da paixão de enriquecer; ele é o próprio objeto. Essencialmente, esta paixão é a auri sacra fames (a maldita sede do ouro).

CV Daí extrai-se a avareza. O que é a avareza?

M A avareza mantém o tesouro aprisionado, não permitindo ao dinheiro tornar-se meio de circulação, mas a sede do ouro mantém a alma de dinheiro do tesouro, a constante atração que exerce sobre ele a circulação.

O dinheiro não é só um objeto da paixão de enriquecer, ele é o próprio objeto.”

CV O que é isto, a relação dinheiro e poder?

M O poder do dinheiro é meu próprio poder. As propriedades do dinheiro são as minhas do possuidor próprias propriedades e faculdades. Aquilo que sou e posso não é, pois, de modo algum determinado pela minha própria individualidade.

CV Então, com o dinheiro posso mudar toda minha condição que considero inferior?

M Sou feio, mas posso comprar para mim a mais bela mulher. Conseqüentemente, não sou feio, porque o efeito da fealdade, o seu poder de repulsa, é anulado pelo dinheiro. Como indivíduo sou manco, mas o dinheiro fornece-me vinte e quatro pernas; portanto, não sou manco, sou um homem detestável, indigno, sem escrúpulos e estúpido, mas o dinheiro é objeto de honra, por conseguinte, também o seu possuidor. O dinheiro é o bem supremo, e deste modo também o seu possuidor é bom.

CV É um poder patológico?

M O poder de perversão e inversão de todas as qualidades humanas naturais, a capacidade de entre coisas incompatíveis estabelecer a fraternidade, a força divina do dinheiro reside no seu caráter como ser genérico alienado e auto-alienante do homem. Ele é o poder alienado da humanidade.

CV Uma das tuas teses básicas é a relação de produção, como chegaste a esta realidade social?

M A conclusão geral a que cheguei e que, uma vez adquirida, serviu de fio condutor dos meus estudos, pode formular-se resumidamente assim: na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais.

O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política…”

CV O conjunto destas relações são o quê?

M O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e a qual correspondem determinadas formas de consciência social.

CV Assim…

M O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência.

CV E quando uma organização social desaparece para dar lugar a outra de acordo com suas contradições?

M Uma organização social nunca desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela é capaz de conter; nunca relações de produção novas e superiores se lhe substituem antes que as condições materiais de existência destas relações se produzam no próprio seio da velha sociedade. É por isso que a humanidade só levanta os problemas que é capaz de resolver e assim, numa observação atenta, descobrir-se-á que o próprio problema só surgiu quando as condições materiais para o resolver já existiam ou estavam, pelo menos, em vias de aparecer.

CV Pós-modernamente, os partidos que se dizem teus seguidores demonstram à opinião pública risíveis contradições. No caso do Amazonas, apresentam-se comprometidos com governos reacionários. Eles perderam o senso distintivo do privado e das lutas históricas?

M Assim como distinguimos na vida privada aquilo que um homem pensa e diz de si próprio, e aquilo que, na realidade, ele é e faz, do mesmo modo se deve também, e com maior rigor, fazer nas lutas históricas, a distinção entre a fraseologia e as pretensões do partido, e a sua organização, os seus interesses reais, entre aquilo que eles julgam ser e aquilo que são.

CV Hoje, no Brasil, existe uma imensa quantidade de igrejas diretamente ligadas ao mercado capitalista. A cruel venda da religião. O que é a religião?

M A religião é a consciência e o sentimento do homem que ainda não se encontrou ou que já se voltou a perder. A religião não é só o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, como também é o espírito de uma época sem espírito. Ela é o ópio do povo.

CV E qual a relação da religião com o capitalismo?

M Na religião, o homem é dominado por uma criação de seu cérebro; na produção capitalista ele é dominado pelo produto das suas próprias mãos.

CV E qual o propósito da crítica da religião?

M A crítica da religião leva à doutrina de que o homem é o ser supremo para o homem e ao imperativo categórico de destruir todas as relações sociais em que o homem é um ser degradado, escravizado, abandonado, desprezível…

CV O que é o trabalhador besta de carga?

M Um homem que não possa dispor de nenhum tempo livre, cuja vida inteira, à exceção das simples interrupções físicas do sono, das refeições é monopolizado pelo seu trabalho para o capitalista, é menos do que uma besta de carga.

As idéias nada mais são do que as coisas materiais transpostas e traduzidas na cabeça do homem.”

CV Já que tu tens pressa em movimentar teus enunciados políticos, vamos sintetizar umas perguntas. Da Arte…

M Na arte, sabemos que determinados períodos de florescimento não estão de modo algum em relação com o desenvolvimento geral da sociedade, nem, por conseguinte, com a base material, com o esqueleto, por assim dizer, da organização social. Por exemplo, os Gregos comparados com o moderno Shakespeare. (…) A atração que a sua arte (dos Gregos) exerce sobre nós não está em contradição com o fraco desenvolvimento da sociedade em que se produziu. É, pelo contrário, o seu resultado, está indissoluvelmente ligada ao fato de as condições sociais inacabadas em que esta arte nasceu e nas quais apenas ela podia nascer, jamais retornarem.

CV Da Dialética…

M Esta tem como objeto apropriar-se da matéria em pormenor, analisar as diversas formas de desenvolvimento e descobrir todos seus elos internos. É só depois deste trabalho realizado que o movimento real pode ser exposto. Quando se consegue isto, quando a vida da matéria se reflete nas idéias, podemos julgar que estamos perante uma construção ‘a priori’. (…) As idéias nada mais são do que as coisas materiais transpostas e traduzidas nas cabeça do homem.

CV Do Reino da Liberdade…

M O reino da liberdade começa no ponto em que termina o trabalho determinado pela necessidade e os fins exteriores: ele é, pela própria natureza das coisas, exterior à esfera da produção material. (…) A redução do número de horas de trabalho diário é a condição fundamental.

Nota não financeira: Todas as respostas são do próprio filósofo barbudão. E não de nenhum de seus apropriadores, para não dizer seus plagiadores. Inclusive nós.

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