Há menos de 3 meses depois de um barco ter naufragado em Itacoatiara, depois de colidir com uma balsa, com a morte de 16 pessoas, outro barco naufraga nas imediações de Manacapuru, a 86 km de Manaus. Hoje, o barco Comandante Sales ia levando pessoas de uma festa ocorrida na comunidade do Pesqueiro, na outra margem do Solimões, em frente a Manacapuru e, provavelmente devido a fortes ondas, naufragou por volta de 5:30h da manhã. Muitas pessoas sobreviveram nadando até a margem, mas até o momento já foram encontrados 12 corpos sem vida. Segundo a Marinha do Brasil, o barco não possuía inscrição na Capitania dos Portos e até fora apreendida em janeiro passado por não possuir documentação e tripulação habilitada. No caso do naufrágio de hoje não se sabe ao certo sequer o número de pessoas, pois não havia uma lista de passageiros embarcados, fala-se em 80, 100 e em notícia televisiva até se cogitou que estivesse superlotado com 150 passageiros.

É a fúria do rio, diria um Ferreira de Castro ou um realista retrógrado da inexistente literatura amazonense, os antropomorfizadores da natureza. Mas a questão é mesmo da ordem do capital. O que interessa é o lucro proveniente do maior número de passageiros; corre-se o risco de se navegar em locais impróprios, em condições impróprias, em embarcações sem a mínima condição para a navegação. Portanto, os homens utilizam o rio para sua locomoção, mas não querem observar racionalmente as condições adequadas para isso, daí todos estes naufrágios que se sucedem, sempre com um grande número de vítimas fatais. Mas o rio não é furioso, não é revoltoso, nem calmo, não tem como carregar nenhuma culpa. A questão é para ser resolvida entre os homens, na modificação do olhar que um homem tem sobre outro não apenas como meio de atingir um fim. O lucro. Neste caso do barco Comandante Sales, uma das questões é como uma embarcação com tantos problemas estava ainda navegando. Enquanto isso, a vida humana vem sendo negligenciada no seu navegar.

1 thought on “O RIO E O CAPITAL

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