!!!!! O MUNDO É GAY !!!!!
A LESBOS O QUE É DE LESBOS, AO MUNDO O QUE É DO MUNDO (GAY)
Algumas habitantes da ilha grega de Lesbos temem perder sua identidade: não querem que as homoeróticas do gênero feminino usem mais a palavra “lésbica”.
O adjetivo “lésbica” se refere às habitantes da ilha grega ou às fêmeas que se relacionam eroticamente com outrasfêmeas humanas?
Acontece que o sentido de uma palavra sofre alterações através da pragmática da língua. A fala modifica a significação da palavra. Ela pode continuar um adjetivo (que carrega um valor ou qualidade), mas pode tornar-se um nome.
Nomear algo não é um trabalho individual: o nome é um exercício, uma práxis. Requer o trabalho de despersonalização, se livrar dos conteúdos semânticos cristalizados desde antes do nascimento, enfraquecer os clichês que insistem em se adesivar à existência. Somente a partir daí é possível ampliar o afeto, produzir encontros que aumentem as potências até a produção subjetiva emergir como práxis coletiva: o acontecimento (hecceidade – Deleuze). Uma individuação sem sujeito, o fluxo intensivo do amor que ultrapassou a identidade homem-mulher e não se reduz à sexualidade ou ao sexo, nem ao número, pois é intensidade.
Assim, naquela pequena ilha grega, a poetisa Safo nasce como corpo biológico. E aprende a fazer política com o corpo e a linguagem: é exilada por Pítaco. Dizem os historiadores que injustamente, já que ela jamais se envolveu em política. Ledo engano: o amor de Safo transbordou o corpo e a existência, e na poesia e no ato, Safo incomodou o Estado. Exilada em Pirra e depois na Sicília, voltou a Lesbos viúva e rica, onde montou uma escola de poesia, música e dança, onde instruía as hetairas (companheiras) nas belas artes, e onde o amor homoerótico se mostrou visível. Safo não o inventou, mas o acontecimento-Safo tornou visível o invisível. Aconteceu.
No século XI, a igreja queimou todos os manuscritos de Safo. Somente no XIX arqueólogos encontrariam outros fragmentos. Mesmo assim, Safo de Lesbos persistiu como um acontecimento que a ordem humana, demasiado humana não é capaz de apagar. No século XVI, dizem, Pierre de Bourdeille compilaria poesias de amor homoerótico feminino num livro intitulado As Lésbicas, que teria popularizado o termo. Hoje, as Nações Unidas, os cientistas e a comunidade GLBT (com algumas exceções) reconhecem o termo “lésbica”, mesmo quando alguns de seus membros sequer sabem a origem.
Não será a primeira vez que um grupo tenta impedir o uso de uma palavra com o sentido que a pragmática da fala cunhou. Uma palavra não pertence a ninguém, sendo ela um estigma ou um nome. Nem aos habitantes da Ilha de Lesbos, nem às homoeróticas.
Mas que o nome é lindíssimo, isso é, meus amores! Com vocês, Safo de Lesbos:
A uma mulher amada
Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.
Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.
Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala… eu quase morro… eu tremo.
(Trad. Joaquim Fontes, em Eros, Tecelão de Mitos. São Paulo: Estação Liberdade, 1991, daqui)
E agora vamos ver os sopros gayzísticos (ou não) que passaram no nosso Mundico!
Φ Igreja do Equador Respeita Homoerotismo. Mesmo mantendo o dogma de incompatibilidade entre homoerotismo e fé católica, a Conferência Episcopal Equatoriana (a CNBB de lá) apresentou texto à Assembléia Constituinte daquele país onde se mostra não-contrária à inclusão dos direitos inerentes à união civil entre os homos na Carta Magna. Embora ser não-contrário e ser a favor sejam coisas um tantinho diferentes, já é um avanço para uma instituição que em quase dois mil anos de existência estabeleceu normas e ajudou a construir a subjetividade homofóbica do mundo ocidental. Por isso, o Vaticano teme mais os sacerdotes progressistas da América do Sul (ligados à Teologia da Librtação) do que os padres pedófilos estadunidenses. Expulsa e excomunga os primeiros, e é conivente com os segundos. É na idéia de salvação após a morte que ela assenta seus princípios de controle social. Alguns padres sulamericanos não pretendem esperar tanto tempo, e querem o paraíso na Terra mesmo. Nós também, amém! Sentiu a brisa, Neném?
Φ Austrália aprova União Civil. Desde que assumiu o governo australiano, a esquerda (ou a versão local e moderada dela), através do seu premier, Kevin Ruud, tem promovido mudanças no país. A mais nova mudança foi a adoção dos direitos civis inerentes à união estável também para os homoeróticos. Até então, somente nos estados da Tasmânia e Vitória existiam leis que davam este direito, mas agora o governo federal estendeu a todo o território do país. Embora não preveja o casamento em si, a lei dá os mesmos direitos no tocante à pensão, seguro social e taxas. Depois disso tudo, casar pra quê, maninha? Tá uóooooltimo! Sentiu a brisa, Neném?
Φ Cidadão Deixa de Ser Francês por Ser Gay. Na terra da Liberté, Igalité, Fraternité, ser gay é optar por outra nacionalidade. Ao menos foi o que aconteceu com Frédéric Minvielle, 37 anos. Ele vive na Holanda e desde 1997 convive com seu companheiro, que é empresário. Minvielle se naturalizou holandês para poder se casar. Após o casamento, foi informado pela embaixada francesa que perderia sua cidadania, e que teria de devolver seu passaporte e identidade. O caso é que a França não reconhece matrimônios homoeróticos, e o convênio que garante a binacionalidade não prevê, do lado francês, o casamento homo. A decisão conseguiu o que poucos haviam conseguido nas últimas décadas: uniu políticos à esquerda e à direita em torno da discussão sobre a igualdade de direitos entre heteros e homos. Enquanto medidas práticas não vem, depende do chefe maior do executivo francês restituir a cidadania a Minvielle. Será que Sarko segura essa? Sentiu a brisa, Neném?
Φ Conferências Estaduais Continuam Pegando Fogo… Esta semana tivemos a conferência do Distrito Federal, com a abertura feira pelo ministro da justiça, Tarso Genro. Hoje e amanhã, acontece a de Sergipe. Em todo o Brasil, os movimentos sociais ligados à causa GLBT e outros interessados têm participado, e os delegados indicados para a Conferência Nacional, a ser realizada nos dias 06, 07 e 08 de julho. Ainda faltam Rio de Janeiro (05/07 de maio), Maranhão (08 a 10/05), Ceará (09 e 10/05), Espírito Santo (27 e 28/05), Roraima (06 a 08/05) e Paraná (16 a 18/05). No Amazonas, como esta coluna já abordou, a conferência não teve nenhuma visibilidade midiática ou social, e os delegados indicados são todos ligados diretamente ao governo do Estado, além de serem hetero. O que leva esta coluna a questionar, e chegar à conclusão de que: ou o Amazonas não faz parte do Brasil, ou não tem gay no Amazonas. Será? Sentiu a brisa, Neném?
Φ III Parada da Diversidade de Florianópolis! Bombou! Bombou! UUUUUUUUUIIII! Sucessaço a III Parada da Diversidade de Floripa! Com o tema “NÓS TAMBÉM VOTAMOS!! Pela Igualdade de Direitos Civis”, a parada foi organizada pela AEGLBTS/SC e lotou a Av. Beira-Mar Norte. O evento mostrou o engajamento da meninada de Floripa, que trouxe como novidade deste ano a Neutralização da Parada: foi feito o levantamento da produção de CO2 que seria produzido pelo evento, e será feito o platio de árvores em quantidade suficiente para neutralizar essa emissão, ta pra ti, mana? Te mete com as bichas inteligentes, belíssimas e engajadas de Santa Catarina! O evento fecha a semana de atividades culturais envolvendo música, cinema e discussões, desde o dia 28, e nossas correspondentes especialíssimas fotografaram tudo e mandaram os clicks para a nossa coluna conferir o arraso. É de gamar! Confiram! Sentiu a brisa, Neném?
Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:
FAÇA O MUNDO GAY!