O HIPER-BEIJO E O REAL

Há amor em um beijo que não é beijo? Quando os lábios se colam, a saliva se mistura, o calor aumenta, o tesão emerge, mas tudo isso não é sentido, mas apenas sugerido pela fria telinha da tevê, houve o beijo?

O autor novelístico está esfuziante! “A bicharada está em polvorosa, a audiência vai sair pelo cu!”, pensa. Não sabe que a inteligência não passa pelo hiper-real. Tolinho!

O hiper-real é o faz-de-conta do faz-de-conta. É o real tão artificializado que desaparece com a significância. Nada mais tem motivo. É tudo significante: o vazio. Não há nada do outro lado da cortina. Nem debaixo da saia.

A Globo já sacou a força consumista do chamado público GLBT. Assim como simula a existência de personagens substanciais de outras categorias (a mocinha que luta e consegue seus objetivos, a malvada que é movida pelo ódio cego, o gay que sofre com o preconceito, a mulher submissa, o machão, e por aí vai), as novelas também são campeãs do hiper-real: o não-amor. Um beijo na telinha, não importa a ferramenta da sexualidade que o corpo carregue e como ela é usada por este corpo, é sempre um significante, o vazio, a ausência de um beijo. Não há sequer o rastro…

Na ausência, pela dor, o videota-consumidor é capturado e se deixa levar. “Finalmente aparecemos na telinha! Mil vivas à Vênus Platinada, estamos na telinha global, ou na telinha do bispo, ou não importa onde. Temos representação, vez e voz!”. O beijo enquadrado na tela e esvaziado da sua corporeidade. É um produto-emotivo, um pacote que confirma o enfraquecimento dos afetos (estes sim, produções dos encontros dos corpos que modificam e criam modos de ser). O beijo-clone, todos iguais e nenhum acontecimento.

Se um beijo é constitutivo do ato erótico, como explicar que as novelas sejam eficientes meios de controle de natalidade? Onde está o furor erótico das cenas e beijos de língua da novela afetando os videotas? “Hoje em dia, é possível encontrar sexualidade em tudo, menos no sexo”, já sacava Baudrillard. Não há nada, nem encontro, nem saliva, nem hormônios, nem tesão. Só o encontro da imagem formada pelos pixels da telinha com a idéia-abstração da memória-lembrança, capturando e imobilizando a potência erotizante dos corpos.

Sacaram, meus amores? Muito bem!

E agora vamos ver os sopros gayzísticos (ou não) que passaram no nosso Mundico!

Φ Suicídio entre Jovens GLBT. Uma pesquisa promovida pelo Parlamento Europeu envolvendo 44 países descobriu que o maior índice de suicídios entre jovens pertence à vertente GLBT. Cruzes! A pesquisa trata o problema como um caso de saúde pública (não deveria ser doença social?). Mas calma, calma, nenéns. Não é a erotidade que é apontada como causa dos suicídios, mas a discriminação e a estigmatização social. Então o jovem gay, a jovem lésbica não se suicidam, são suicidados! Daí a importância de se discutir o mundo gay para além dos clichês. Por isto, esta coluna entende o mundo gay como o mundo onde a Vida corre fora, onde os fluxos vitais produtores da alegria estão para além da organização social humana, e é preciso produzir modos de existir mais próximos destes fluxos vitais. Inclusive no corpo, no amor e no sexo. Faça a sua parte, meu amor. Salve uma vida. Faça o mundo mais gay! Sentiu a brisa, Neném?

Φ Angela Ro Ro saca do hiper-real. A bela Ângela Ro Ro aproveitou a deixa da não-bela Ana Carolina pra dar uma curtida no mundinho consumista que de gay não tem nada. Enquanto a ruiva canta as dores do amor romântico que cultua a dor, e usa seus relacionamentos como vitrine para a venda de produtos-emotivos, Ro Ro usa o humor e tira uma onda. Inventa um amante-padre-paranormal para brincar. Expor através do humor o engodo mercadológico da ruiva. Afinal, o que temos a ver com a existência erótica-amorosa de Ana Carolina? Na sociedade de consumo dos zumbis que se alimentam da dor alheia, tudo. Mas não Ângela. Ela, nesta, foi pedagoga. Ensinou o amor, a alegria, o humor. Ampliou o mundo gay! Bota na vitrola uma Ro Ro aí, moçada! Sentiu a brisa, Neném?

Φ Preparativos para o “Dia Mundial Contra a Homofobia”. No próximo dia 17 de maio, mais de 600 milhões de pessoas, cerca de 10% da população mundial, estará dizendo não à homofobia em várias manifestações mundico afora. A data, embora simbólica, é mais um dia que expôs a homofobia como doença social do que propriamente uma data de comemoração. Neste dia, em 1990 – somente 18 anos atrás – a OMS declarou a homossexualidade um comportamento normal e a livre orientação sexual um direito humano. Mas antes tarde do que nunca, e o que a OMS fez foi apenas ratificar a luta do movimento social gay. No Brasil, que é campeão mundial de homicídios com motivação homofóbica, ainda há muito por se fazer, e poucos são os movimentos organizados e que pensam a questão para além dos chavões. Em Manaus, isso ainda não existe, e o movimento fica à mercê dos padrinhos e madrinhas de ocasião, ávidos dos votos dos incautos. Independente disso, prepare a sua movimentação, e no dia 17 faça uma festa da política comunitária para enfraquecer o enunciado homofóbico! Sentiu a brisa, Neném?

Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, meninas/os:

FAÇA O MUNDO GAY!

1 thought on “!!!!! O MUNDO É GAY !!!!!

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