A zona hipnogógica é o território nebuloso onde o real e o irreal se confundem. Não confundir com o que afirma o filósofo Deleuze, a passagem do inatual ao atual: o novo. Produção deviriana. A mobilidade das imagens cristal. Mas, sim, zona de confusão onírica. Dificuldade de saber o que é real. Que na falta da certeza, recorre-se à fabulação: as imagens pessoais sobre as sociais. Este, o território nebuloso/fabuloso da direita, o qual pretende que o povo brasileiro promulgue como também seu.

O consenso, o acordo, é o poder social constitutivo da democracia e da paz entre os povos. O que a maioria nomeia como fundação democrática. Realidade social orientadora dos saberes e fazeres da população. A direita pretende magicamente desfazer este consenso. Impor como a realidade social suas fabulações que não encontram eco no exterior. Em psiquiatria, diz-se que uma pessoa está alucinando quando esta pessoa se toma por outra, quase sempre poderosa. Exemplo, se toma como Cristo ou Maria. Quando a direita se toma como poderosa, ela alucina.

Exemplos exemplares de alucinação da direita. Todas as realizações do governo Lula que colocaram o Brasil, tanto interna e externamente, como um país produtivo e respeitado, ela atribui a si. Alucina que tudo isto ia acontecer (Maktub: estava escrito). Lula está apenas colhendo os frutos que ela plantou. Passeemos por esta zona alucinatória. Fernando Henrique ficou dois mandatos. O primeiro imobilizou o país e se preparou para o segundo, daí rasgar a Constituição com a Emenda para a reeleição. Veio o segundo, destruiu o país. Lula formou uma equipe com as maiores sensibilidades e inteligências do país, formada por convidados, profissionais de carreira e mais avulsos. Ergueu o Estado Brasileiro. O segundo mandato, segundo dizem nacional e internacionalmente, está melhor do que o primeiro.

Trabalhar com hipóteses sobre o já ocorrido é também alucinação. Vamos alucinar com a direita para poder melhor entender o quanto ela é desnecessária para o Brasil enquanto não “cair na real”. Se não tivesse ocorrido o segundo mandato de Fernando, e se Lula tivesse sido eleito e tivesse tirado o país da lama (para não escrever a palavra intestinal), lógico, pela lógica alucinada, que ela iria afirmar que ia acontecer: estava tudo preparado. Se (tudo hipotético/passado), por outro lado, Sérgio Motta ainda estivesse vivo no fim do segundo mandato da direita e ordenasse compra de parlamentar para reeleição do Fernando, e no terceiro o Brasil fosse direto para o esgoto, o que ela diria? “Precisamos de mais tempo para tirar o país da crise que há séculos está atolado”. Morreria o povo brasileiro. E não teria elementos para atribuir a Lula o ocorrido, pois não haveria governo Lula, e sim o cataclismo imposto ao país pela insuficiência administrativa. Mas há Lula. Este, o objeto do desejo alucinatório dela. Sem Lula ela não seria conhecida. Quem a conhecia antes de Lula? Essa, ela está devendo a Lula.

Agora, sem hipóteses. Na República, quando foi que um governo da direita construiu um Brasil produtivo e respeitado? Nunca. A direita, simulando ser marxista, diria: “Ainda não havia chegado o tempo. Os ventos do progresso externo ainda não estavam soprando”. Como alucinação não move montanhas, como diria Dante, e nem move moinhos, como diria Cervantes, a realidade é o governo Lula e o povo que “está fazendo a hora”. A hora é produção, produto da força de trabalho dos operários que modifica e cria realidades. Então, sobra para direita o consolo da alucinação, atribuir a si o que nunca ocorreu: o seu terceiro mandato. O povo é sábio e justo.

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