CLINAMEN
___ oblíquas variações infinitas dos corpos ___
______________________Tangentes sonoridades cores entrelaçamentos imagens retroversos O poeta põe palavras, não o ser. As palavras do poeta são para o não-ser. O não-ser corre com o poeta na duração-indivisível. A contigüidade do poeta em não-ser anula a discursividade da palavra-ordem. _____ Sirlan é um artista mineiro dos velhos e sádicos tempos da ditadura. Em 1979 lançou um disco com composições juntas com Fernando Brant, Humberto Carneiro e Murilo Antunes: Profissão de Fé. “O que me fez, me fará e me faz as palavras juntar, meus dramas contar. O que me fez, me fará e me faz esse estranho ou vulgar, cantor popular, a dissecar pelo som as feridas que todos escondem…” O convite à vida. “Se você quiser chorar de amor não tenha medo. Se quiser gritar de dor e amargura. Não esconda o rosto, não se engane toda vida… Se você se cala a dor é certa, é morte lenta… Pelo menos chora o seu medo. Pelo menos o seu medo não será em vão a sua dor. O seu medo lhe dará coragem para lutar…” Pelo meio. “Esse meu sangue fervendo de amor. Aterrisam os falcões onde estou. Carabinas, sorriso onde estou”: Arte: “Viva Zapátria”. Todo censurado. Sirlan fez outros percursos. Outros não choraram, o sangue não ferveu e não choraram de dor e amargura. Arthur Neto, em seus ciclos pontuados mais dos 60 anos, nos parece um destes. Ditadura, um longo período para férias contínuas nas praias cariocas, como Aécio Neves. Nada de canto Sirlan. “Se aprovar, aprovou. Se não aprovar, não aprovou, dane-se!” O alheamento ditatorial deixou seqüelas. Hoje, um homem ressentido, intrigante, algoz da democracia. Mimado, protegido, guardado, não viu a ditadura. Se tivesse visto talvez repetisse Wittgenstein, se o conhecesse — impossível —, “A tirania não provoca em mi nenhuma indignação”. Pautando passos tirânicos, não se indigna. Arthur não serve para democracia. Serve à ditadura. _____________ __________ ___ ________ “Mas o ressentido, ao contrário daquele que odeia, é uma eterna vítima imaginária em busca de um carrasco. Vivenciando mal o fato de ser quem é — desfavorecido ou desgracioso —, ele imagina sofrer um grave preconceito por parte seja lá de quem ou do que for, e a isto não para de perseguir, para acusá-lo ou maltratá-lo” Frédéric Schiffter Só passa o que em mínimo instante foi ocasião. Para o Brasil Fernando Henrique nunca foi ocasião. Recalcitrantes querem tê-lo nas produções do governo Lula. O filósofo Platão, em suas interessantes manias filosóficas, afirmava que os atores e pintores não eram artistas. Aqueles que fazem a passagem do não ser para o ser, o poietai. Mas sim, meros imitadores. Os primeiros dos sentimentos dos homens e dos deuses. Os segundos da natureza. Opondo a essência à aparência, Platão tinha em conta mais a idéia do que a imagem. Toda cópia é sem essência ideal: não gradua o espírito, o Noús, o intelecto. Aguinaldo Silva o telenovelangelista da Globo se sentiu afetado com a afirmação do jornalista que viu plágio de seriado da TV americana em sua novela. Argumentou que não plagia, e se plagiasse ganharia como os de Hollywood. Esperteza venal: o que se vende. Infeliz da indústria de consumo com sua oferta de entretenimento se não houvesse o plágio: não teria se firmado. O segredo do sucesso é sempre a repetição. As telenovelangelizações só são possíveis por causa do plágio: a repetição do inútil. Seja quem for o autor. De silva a Prata. Os caricatos tipos mantém a audiência. O mesmo com outros ramos consumogelizantes. Charlie Brown Jr está nos Paralamas, como estes estão nos Titãs, como estes estão no Roberto, como este está na Marina, como está na Calcanhoto, como está na Sandy, como está no Jairzinho… É a lei do plágio. Sem ela não há indústria de entretenimento de consumo. Já dizia o filósofo Adorno. ________
_______________________ “Quando alguém se submete à análise, acredita falar e aceita pagar por esta crença. Na verdade, não se tem a menor chance de falar. A psicanálise é inteiramente construída para impedir as pessoas de falarem e para lhes retirar todas as condições de enunciação verdadeira” Deleuze Lula mostrou ser um governante atleta da política: passou, horizontalmente, por baixo da parte mais baixa de uma cerca. A Folha mostrou a foto como uma grotesca queda. A Folha continua ao vento. “A moral política não pode oferecer à sociedade qualquer vantagem perdurável, se não estiver baseada em sentimentos indeléveis do coração do homem” Beccaria A Polícia Federal prende quadrilha que vendia diplomas. Um diploma relacionado a uma instituição é uma prova de saber. Marx diz que o dinheiro se metamorfoseia em múltiplos objetos. Nisso é possível comprar o objeto-sensível diploma. Mas o saber? Só a experiência produz. Nossas universidades tratam mais da memória-imaginação e pouco das experiências, o que faz mudar a realidade ideal-objetal anterior. Logo, nossas universidades também vendem diplomas. A Prova! A limitação da atuação profissional na sociedade, o que produz o Bem Comum: a democracia criadora. “Renasce em mim uma triste doçura de viver. Noto o gosto do tabaco, o sabor do café, e a atmosfera do lar do soldado. Todos os problemas dos sentimentos, mágoa, alegria, indiferença, dependem da intensidade dos graus do presente. Esta manhã surpreendi-me com esta exigência universal: querer ser amado” Sartre