O MEDIUM TELEVISIVO E A OPINIÃO PÚBLICA

MÍDIA: O NÃO-LUGAR DA POLÍTICA
A mídia, em geral, é uma instituição social. E como tal, estando relacionada à construção de opiniões, teria que está em reciprocidade com o que é público: criação de um espaço onde as opiniões são partículas constitutivas das composições que se dão pelos encontros dos acasos. E o que é público é político. Mas não político enquanto signo-clichê do poder que se limita a questões técnicas e burocráticas do Estado. Mas enquanto movimentação da res publica, para o bem coletivo. Ao contrário disto, pode-se perceber a mídia como um espaço de privações sociais: todos fechados ao alastramento das atividades das instituições transnacionais e ao mercado mundial. O que compromete suas informações, posto que estas sejam direcionadas de forma circunscrita às palavras de ordem do grande capital. Na mídia limitada cognitivamente, a política como criação do espaço público, não existe. Ela se assenta como o não-lugar da política. É daí que a mídia exerce boa parte de sua função de controle social. Suas enunciações não obedecem mais a interesses internos de instituições particulares (por mais que ainda tenha grande influência sobre elas), mas inclinam-se a um controle universal onde todos os veículos midiáticos, nativos e internacionais, realizam ecos da informação/padrão, onde as notícias são repetidas, segundo o seu maior grau de conservação da subjetividade capitalística.
O Caso da Renúncia de Fidel Castro
A renúncia do Presidente do Conselho de Estado e Comandante em Chefe de Cuba, Fidel Castro, ecoou na mídia seqüelada confirmando o seu estado de não-lugar político. A TV Globo, a Folha e a TV Bandeirantes, demonstrando seus laços com a direitaça internacional, continuaram taxando Fidel de ditador, assim como fazem com Hugo Chávez, por preservarem em seus países uma política que não obedece aos ditames da ordem imposta pelos Estados Unidos. Outros veículos midiáticos tiveram suas matérias (que praticamente não se diferenciavam muito umas das outras) focadas na quantidade de anos (49) em que Fidel esteve à frente da administração de Cuba — o que caracteriza um discurso indireto com objetivo claro — e na repercussão internacional da renúncia, dando ênfase às frases de Bush sobre a necessidade de uma transição democrática.
Escultura de
Oscar Niemeyer,
presenteada a Fidel Castro:
“Na defesa da soberania
(de Cuba) contra o monstro
imperialista”.
O que não pode ser discutido pela mídia reacionária foi a organização mundial que gira em torno dos Estados Unidos, de acordo com a lógica do capitalismo ordenado nas transnacionais e no mercado mundial. Por isso, não conseguiu perceber as contradições que estavam a noticiar, como as frases de Bush sobre democracia e liberdade. Fecharam as notícias sobre a renúncia de Fidel Castro nas limitadas referências que permite à mídia o uso da palavra ditador. Mas eles não compreendem um regime ditatorial para além da contagem numérica de anos. É difícil para a mídia o entendimento que um ditador é quem não consegue organizar um espaço onde as coisas passem do privado ao público a partir da necessidade de se garantir a existência da coletividade, sem privações. E mais difícil ainda é para a mídia golpista sair de sua condição de dependente da ordem mercadológica. Ela até perde em não fazer análises sobre as condições que se encontra Cuba, que poderiam oferecer um entendimento sobre o socialismo lá existente. Mas isto só se tornará possível quando a mídia for independente, livre, inteligente e democrática. Coisas que não são permitidas no império capitalista.
Esta coluna acredita na possibilidade da expansão da consciência pelas experiências autênticas que fazem soltar novas percepções, a criação de novos olhares sobre o mundo. Na alegria-estética de perceber o medium televisivo como uma violência à inteligência coletiva, contamos com a sua contribuição.