DA AFETIVIDADE À ECONOMIA NATALINA FANTÁSTICA

Dos Conceitos

& Fantástico. Do grego phantastikós. Enquanto adjetivo, pode ser algo criado pela fantasia, fictício ou falso; mas seu sentido mais usado é como qualidade que identifica algo fora do comum, algo extraordinário.

Fantástico: um programa ordinário

Fantástico é o nome que a “Revista Eletrônica” da Rede Globo de Televisão (RGTV), que é transmitida aos domingos recebe. A escalada (organização e distribuição das notícias ao longo do programa) deste programa dominical faz com que o significado da palavra “fantástico” se esvazie e se torne um signo capturado pela subjetividade lingüística capitalística. Veiculada como signo representativo da forma de informar e comunicar peculiar a RGTV (manter a comunicação/informação como elemento de falseamento da efetividade da realidade, impotencializando a ação dos tele-espectadores), a palavra “fantástico” adentra no escalonamento de significantes ordinários próprios à não informação do médium televisivo. Todas as notícias veiculadas por este programa não escapam do estado comum da ordem estabelecida, ele inscreve em seu corpo comunicacional a freqüência do cotidiano preso à redundância. Suas noticias não causam a informação como criação do novo no mundo, mas adesiva todo o ordinário (o que é habitual, comum, dentro da ordem, mediano) à sua estrutura de programa televisivo.

O Natal Ordinário do Programa Fantástico

Entre as notícias que formaram a programação do Fantástico no último domingo, em sua edição especial de natal, famílias que estavam distantes de seus familiares de diferentes estados brasileiros apareciam para comunicar palavras de afeto e desejar um feliz natal àqueles queridos por eles e física-geograficamente separados. A câmera focalizava a pessoa ou família que emitia a mensagem natalina, que só era interrompida pelos pronunciamentos do repórter que indicava local e o horário que estes espaços que serviam de cenário para a reportagem estariam funcionando. Estes locais eram os principais shoppings das cidades da reportagem. Ao fundo das pessoas as imagens eram de enfeites natalinos, dos presentes e das lojas. O programa dominical da RGTV uniu o afeto típico ao significado do natal com os recursos econômicos próprios à data simbólica que é o natal. As famílias (visivelmente de classe média alta) dispunham de suas emoções à medida que o programa realizava o significante econômico natalino. Mesmo havendo outras reportagens neste mesmo programa que esperavam explorar o afeto natalino, o que vigorou foi o signo econômico do natal como uma data benéfica ao Mercado. As próprias emoções se tornaram mercadoria quando as famílias ligavam suas falas a compras de presentes, tendo como fundo um dos principais símbolos do capitalismo e do ultraliberalismo global: o shopping.

Esta prática é comum ao médium televisivo. Ele impõe a informação dentro dos modelos da economia de mercado e assim faz com que o significado de palavras e ações seja reduzido à imposição da ordem que exige o ordinário como elemento necessário para a conservação das emoções e da passividade televisiva.

Sendo a televisão uma estrutura propriamente ordinária, como ela haveria de entender o natal para além da data simbólica estipulada cronologicamente? Como ela haveria de compreender que quando Jesus, filho de Maria e do operário José, nasce, o que é anunciado não é o nascimento do salvador, mas a de uma criança no mundo, no meio de nós, pois é o nascimento do Novo?

Esta coluna acredita na possibilidade da expansão da consciência pelas experiências autênticas que fazem soltar novas percepções, a criação de novos olhares sobre o mundo. Na alegria-estética de perceber o medium televisivo como uma violência à inteligência coletiva, contamos com a sua contribuição.

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