CHAGÃO! ESPECIAL – O MUNDIAL DE CLUBES
Há exatos 47 anos, os campeões europeu e sudamericano se enfrentam para saber quem leva a taça internacional. O primeiro torneio que deu origem ao atual Mundial de Clubes FIFA era chamado de Taça Intercontinental (nome mais adequado do que a pecha de “mundial”, adotada anos depois, já que não havia representatividade mundial). As pelejas eram em ida e volta, com uma partida em território europeu, e outra na América do Sul. O primeiro confronto, em 1960, foi entre Real Madrid (Espanha) e Peñarol (Uruguai), respectivamente campeão da Copa dos Campeões da Europa (atual Champions League), e da Copa Libertadores da América. Os espanhóis venceram este, e de lá pra cá, já arrendaram três títulos.
Dos anos 80 em diante, a copa passou a ser patrocinada pela empresa Toyota, e se chamar Copa Européia/Sulamericana, ou simplesmente Copa Toyota, passando a ser disputada em jogo único, no Japão. Somente em 2000, depois de perceber que tanto europeus quanto americanos se degladiavam ferozmente pela vaga em Tóquio/Yokohama, a FIFA resolveu entrar nesse lucrativo jogo, e organizou o famigerado Campeonato Mundial de Clubes da FIFA, ocorrido no Brasil, e com a vitória do Corinthians. Depois disso, e com a Copa Toyota ocorrendo em paralelo, e com mais respaldo entre clubes e torcedores, a FIFA passou a organizar em conjunto com a montadora o Mundial de Clubes FIFA.
Como a FIFA se quer suma representante espaço-temporal do futebol no mundo (vã ilusão, já demonstrou Evo Moralez), não quis de início reconhecer os confrontos anteriores. Hoje, são considerados campeões os times que disputaram e venceram as edições, desde 1960 (veja aqui a lista completa de campeões).
EDIÇÃO 2007
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Para chegarem até esta final, A.C. Milan e C. A. Boca Juniors encararam e venceram os campeonatos continentais da temporada 2006-2007. Cada um encontrou, nas preliminares do torneio, clubes também campeões continentais, e tiveram dificuldades para chegar à final. O clube italiano venceu o Urawa Reds pelo placar de 1-0, enquanto os xeneizes derrotaram o Etoile Du Sahel, da Tunísia, também por 1-0. Os clubes protagonizam a final nesta manhã de domingo, 8:30h (Brasília). Quem vencer levanta pela quarta vez a taça, sagrando-se o time mais vezes campeão do mundo. Recentemente houve um levantamento de títulos internacionais feito pela FIFA, e o Boca Juniors foi considerado o maior campeão internacional, superando o Real Madrid de Di Stéfano e o Milan do trio holandês Van Basten – Gullit – Rijkaard. Em 2003, os times disputaram a final, com empate em 1 a 1 no tempo normal, e vitória dos boquenses por 3 a 1 nas penalidades.
MILAN – BOCA: SEMELHANÇAS CONSERVADORAS.
Não é apenas nos gramados que a história de Milan e Boca Jrs se encontram. A política – que permeia o futebol e o atravessa mais do que acreditam os “apolíticos” jogadores – também tomou rumos parecidos em Milão e Buenos Aires.
No time italiano, tradicionalmente associado ao antifascismo (suas cores e sua torcida inspiraram a criação das Brigate Rosse, movimento de luta antifascista ligado às esquerdas, e que posteriormente degenerou para a violência, como seqüestros e a morte de Aldo Moro, presidente da Democracia Cristã, em 1978), a tradição esquerdista e de aglutinação dos movimentos libertários deu lugar ao palco midiático de Silvio Berlusconi. No site do clube, em português, pode-se observar a ênfase quase divina dada à presença do ex-premier, conhecido como Il Caimano (O Crocodilo). Berlusconi transformou o clube em mais uma de seus empreendimentos, investiu em marketing e ampliação das fronteiras de atuação. Juntamente com o Manchester United, é um dos clubes de maior torcida no mundo. Premier de 1994 a 1995, e novamente de 2001 a 2006, Berlusconi tem uma lista de acusações de corrupção, muitas delas comprovadas. Tem empresas na área de comunicação e marketing, além de ser dono de financeiras. Se você deve ou algum dia ficou devendo à FININVEST, Berlusconi era seu credo. Em ambas as campanhas eleitorais, Berlusconi usou o futebol (seu partido chamava-se Forza, Itália!, o grito de incentivo à seleção nacional) e principalmente o Milan. Recentemente, o atual líder da oposição italiana foi acusado pela promotoria de Nápoles de tentar corromper senadores, um dos diretores da RAI (televisão estatal italiana) e de planejar golpes contra o governo do atual primeiro-ministro, Romano Prodi.
Já nas quebradas Del Sur, o time do Boca Juniors foi fundado por imigrantes italianos do tradicional bairro de Boca. Sempre ligado às camadas mais pobres da população, é um dos times mais populares da Argentina e do mundo. Recém licenciado da presidência do clube, Mauricio Macri foi presidente do C.A. Boca Juniors durante o período mais vitorioso em termos de títulos. Modernizou o clube, e embora não seja seu dono, usou a imagem de gestor bem sucedido para se candidatar e vencer as eleições municipais da cidade de Buenos Aires no meio deste ano. Do mesmo partido do ex-presidente Carlos Menem, admirador das políticas neoliberais de Menem, e fã declarado de FHC, Macri é a esperança de uma classe média argentina que se vê cada vez mais, como eles mesmos dizem, “sulamericanizados”, ou seja, sem os privilégios econômicos obtidos através da venda das riquezas do país ao exterior, e ao custo da desigualdade social e da miséria, como nos mostra o excelente documentário de Fernando Solanas, Memorias Del Saqueo (2004). A ascensão de Macri – que não conseguiu organizar a oposição portenha, sendo surrada nas urnas pela atual presidenta, Cristina Fernández – constitui os resquícios da onda neoliberal e de manutenção do Estado Mínimo na América Latina.
I O QUI QUISSO TEIN A VÊ CUM FUTIBÓU?
Tudo. O futebol, ou o futebusiness da FIFA hoje é um dos grandes celeiros da lavagem de dinheiro e de operações fraudulentas no mercado financeiro. As operações de transferência de jogadores, por exemplo, são um prato cheio para este tipo de fraude, haja vista o interesse de grandes empresários – como o russo Abramovitch – em times. A famigerada parceria Corinthians-MSI, que deu um título comprado ao time paulista, em 2005, abandonou o barco dois anos depois, com o cerco da Polícia Federal, e deixou um time à míngua e que irá disputar a segunda divisão em 2008.
O torcedor que não compreende estas relações e que adesiva as frustrações cotidianas ao futebol acaba direta ou indiretamente por engrossar o fascismo (ou microfascismos) que o futebol carrega. Ou pelo menos, se transforma num torcedor kakazístico, para que “futebol e política não se misturam”.
PROGNÓSTICOS DA PELEJA
Uma vez comentadas as questões que o leitor intempestivo não vai ler nas resenhas esportivas sobre o Mundial de Clubes, a coluna ‘Chagão!’ informa que a partida será transmitida em TV a Cabo e Aberta na manhã deste domingo. Você pode acompanhar também o minuto-a-minuto no companheiro-boleiro, ‘Blog Impedimento!’. A resenha esportiva da final você lê na sua edição domingueira-segundeira deste Chagão! E se você, leitor intempestivo, quiser enviar a sua resenha para ser publicada aqui neste chagão, mande para afinsophiaitin@yahoo.com.br.
Bom Jogo!
etoile du sahel is the best
Tranks, Amine.
Here we can have more of the tunisian club that´s played the FIFA’s World Cup of Clubs.
http://www.etoile-du-sahel.com/fr/