O FALSO CONTRÁRIO MEDIÁTICO

Dos Conceitos

& Contrário. Oposto. O que está em desacordo com algo em específico. Apresenta elementos diferentes em sua estrutura de um outro conjunto. não segue uma linha justaposta, sucessiva, mas cria embate com pontos e graus diferentes uns dos outros e se torna adverso ao que foi posto como recomendado por ordem, norma ou imposição. Para o filósofo Heráclito de Éfeso, o contrário é o que leva a gênese que é a guerra e a discórdia. Da guerra e da discórdia advém a criação. “Heráclito (dizendo que) o contrário é convergente e dos divergentes nasce a mais bela harmonia, e tudo segundo a discórdia” (A Ética a Nicômoco, Aristóteles).

& Audiência. Do latim Audientia. No seu sentido semântico, é audição, atenção que se presta a quem fala. Nesse sentido, o emissor recebe uma atenção por parte do receptor no processo que se dá na transmissão da comunicação/informação. Ao receber a fala do emissor, o receptor decodifica a mensagem. Assim há a efetivação dos dois pólos da comunicação/informação. Entretanto, no médio televisivo, havendo a hegemonia do emissor sobre o receptor, não há atenção à mensagem vinculada pelo emissor, uma vez que a comunicação/informação é imposta como palavra de ordem pela tevê, realizando a redundância do signo significante, deixando a mensagem rasteira, sobrecodificada e sem sentido para um esforço de atenção. É a própria estrutura da tevê que faz da audiência televisiva uma audição vazia de siguinificado, necessário aparato de mensuração do ibope televisivo.

& Ibope. Índice numérico que mede a audiência televisiva. Número-índice-quantitativo que mensura a relação entre a programação das redes de tevê e a economia de mercado a partir do binômio produtor-consumidor. Estrutura a programação televisiva identificando e dividindo, através de pesquisas de opinião, a audiência do público em escalas de censura, faixa etária, classes sociais, etnias, horários e preferências de entretenimento para garantir os contratos firmados entre os donos temporários de concessões de canais abertos e empresas privadas.

O Médium Televisivo e a Luta por Audiência

O que caracteriza uma Luta é a oposição entre contrários. De maneira heterogênea, elementos diferentes são postos em combate, onde o confronto tem por princípio os contrários, de onde sai uma desconstrução criadora. Assim, não pode haver Luta entre iguais. Como o médium televisivo está preso à economia de mercado, ele se encontra preso à homogeneidade da lógica do capital, não importando a ele uma diversidade de elementos únicos que sejam contrários uns aos outros. A diferença posta pelas programações do médium televisivo, a qual se coloca uma pretensa luta por audiência entre as redes de tevê, não existe como Luta que movimenta contrários em linhas intensivas de corte que criam novos modos de existência. O médium televisivo não realiza uma guerra entre contrários. Ele apenas impõe o jogo do não jogar entre imitações de imitadores constituindo uma identidade passiva nos conteúdos transmitidos aos tele-espectadores, uma falsa luta em busca da padronização das emoções que vem da padronização das programações televisivas.

A Imitação dos Imitadores

Bem aventurado os meus imitadores, pois deles serão os meus erros”! Alguém podia dizer sobre o médium televisivo e sua programação fechada na busca de audiência para a conquista de um ibope positivo. Para que haja imitação é necessário um original. É de um original que as cópias tornam-se reais. Elas partem como uma espécie de duplo de um original que chegando ao mundo prolifera a reprodução como nova necessidade a um mercado. A reprodução expõe o excedente, uma vez que a mercadoria deixa de ser de uso particular e passa a ser para a troca: a mercadoria agora é exposta aos outros como signo que tem um valor específico dentro das relações sociais da existência. A comunicação/informação vinculada pelo médium televisivo nem sequer pode ser considerada uma série de imitações, pois de novo nela nada existe de onde uma cópia possa sair. O que existe neste médium é um excedente de comunicação/informação concentrada em um excessivo número (quantidade concreta e não função abstrata matemática que surge pelo pensamento) de informação que tem como objetivo não informar. Se é o excedente que inicia as relações de posse e troca comercial do capitalismo, o médium televisivo pratica o excedente da informação veiculando esta em série como em uma linha de montagem. O principal é que tudo seja perfeitamente igual como em uma fábrica onde a mercadoria por excelência é a informação que desinforma. Então não pode haver imitadores no médium televisivo, sua programação nada pode criar, pois está atrofiada na igualdade capitalista. Aberlardo Barbosa, o Chacrinha, então se equivocou quando disse que na TV nada se cria tudo se copia. Talvez, para o médium televisivo seja mais adequada outra máxima: na tevê nada se pode copiar, pois nela nada se cria!

2 thoughts on “O MEDIUM TELEVISIVO E A OPINIÃO PÚBLICA

  1. Srs. boa noite!
    Estou com dúvida entre ordem legal e norma. Qual é a diferença ou não existe. Ex: descuprimento de instrução – descumpri uma Ordem Legal ou uma Norma?
    Atenciosamente
    Antônio.

  2. Caro companheiro Antônio,
    Existe sim uma diferença. Primeiro surgem práticas preocupadas em manter a sobrevivência de um grupo que acaba por criar preceitos que se tornam costumes e hábitos e constituem uma norma como modelo de organização. Já a ordem legal é a regularização, realizada pelo Estado, destes preceitos constituídos em códigos jurídicos preocupados em conservar não mais a sobrevivência do grupo, mas as convenções que foram dispostas por consenso ou imposta, dependendo do regime de governo existente.

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