0 A declaração do Delegado Geral da Polícia Civil (demitido) do estado do Pará, Raimundo Benalussy, de que a menor presa em uma cela com vinte homens, teria debilidade mental por não falar de sua menoridade, não só causou perplexidade na população, inferindo do enunciado a certeza que se fosse de maior não estaria errado, como também coloca em suspeição a instituição universitária que lhe outorgou o discurso jurídico social. Autoridade-lei. A voz do censor. Desconhecimento elementar dos códigos penal e civil. Além, de expor sua rigidez jurídica sobre o humano que nega o conceito ético de vivência racional comunitária. Entretanto, o caso do ex-delegado Benalussy não é um caso isolado, para o desespero maior da população, existem no Brasil um grande número de delegados alienados do discurso jurídico social necessário à construção da democracia. O que exige uma análise sobre a prática pedagógica na formação dos alunos dos cursos de Direito.

 0 O ditador do Paquistão Pervez Musharraf, depois de quarenta anos de vida militar, deixou o comando das Forças Armadas desse país. Em seu discurso de separação do cargo, afirmou ser a farda sua segunda pele. Um enunciado palavra de ordem remetente a duas leituras: 1ª leitura – Texto do entendimento de que carreira militar é sintetizada em crueldade, perseguição, assassinato e subserviência-entregacionista às potências imperiais, como no caso de sua ditadura, ao antidemocrata Bush. Tudo que é contrário à verdadeira carreira militar de um Estado independente. 2ª leitura – Texto da epiderme: a pele real não é a genética, mas sim a social. A tecida pelas combinações dos percursos que o sujeito experimenta. O que depende do estágio histórico que se vive. Em seu caso, a necessidade imperiosa da ambigüidade política: avilta seu povo ao mesmo tempo que é aviltado pelas forças do império. Patologia tida pela psicanálise como sado-masoquista. Daí sua sentença casar com a ironia do teatrólogo/poeta Brecht: “Todo homem se sente melhor em sua própria pele”. Sua farda é tão sua segunda pele, que o estado de emergência imposto ao povo pela veste pele/farda, ainda permanece. O hábito da pele faz o monstro.

 0 Depois de assassinar a gramática e causar gracejos até entre seus pares, o fantasioso exibicionista sociólogo das relações imóveis Fernando Henrique, veio a público: “Se errei, peço perdão e corrijo”. Para quem delira ser rei, errou trinamente, construindo a lógica da tríplice coroa da contradição. 1ª coroa: “Se errei” revela a prepotência de quem ainda não acredita que errou. Portanto, o reconhecimento do erro não existe. Para si não existe erro. Errado são os gramáticos. 2ª coroa: O “peço perdão”, outro erro, pois o erro é uma experiência que passa pelo sistema nervoso central. O perdão é um ato moral saído da imaginação, uma superstição, portanto não apaga a experiência. Como tem pavor do filósofo Nietzsche, não entende o blefe moral do perdão. 3ª coroa: O “corrijo” é mais uma trapaça democrática para ocultar, em vão, sua arrogância, já que é incapaz de se achar passível de erro. Como não erra, não se corrige. Não há nenhum ato a reparar. E como se corrigir é se tomar em outra escolha, outro movimento, outra direção, e como ele cabe em si mesmo, com sua estrutura rígida, jamais irar mudar. Jamais será um democrata. Continuará o resmungão invejoso perambulando em sua torre de marfim vaidoso. Logo, não errou. Razão de sua péssima administração da educação pública.

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