Dos Conceitos

& Mídia advém de Medium, intermediário entre quem fala e outro que ouve (emissor e receptor). Sua efetiva realização reside em tornar possível a troca entre quem emite um sistema de sinais (imagens, sons, letras, etc.) e quem os recebe. No caso da televisão, trata-se de um intermediário eletrônico.

& Opinião vem do grego doxa, aparência, opinião. É uma derivação do verbo Dokio, conjeturar. São os sofistas (séc V a.C, Grécia antiga) os primeiros a movimentar a doxa na vida pública da cidade. Com este conceito os sofistas rompem com a teoria dos dois mundos de Platão e colocam a realidade como uma construção a partir do movimento das aparências. Com a doxa os sofistas inauguram uma nova maneira de linguagem: prática, concreta de classe, artificio de oratório para a defesa de interesses privados e públicos, política.

& Público é tudo aquilo que pode ser visto e ouvido por todos com o maior alastramento possível. É movimento contínuo das ações humanas que se mostram e engendram a cidade e suas conjunções materiais e imateriais.

Televisão e Economia de Mercado

O medium televisivo é um sistema informativo homólogo aos códigos da economia de mercado, sustenta o filosofante Muniz Sodré. A tevê funciona junto a uma indústria de bens materiais e culturais. Ela é homogênea às relações entre produtor e consumidor. Assim como os modos de produção são formados a partir de uma demanda de consumidores, o medium televisivo organiza seu sistema identificando para dividir, classificando para censurar e serializando para lucrar. Daí a estrutura deste sistema funcionar apoiado em pesquisas de opinião para selar contratos entre emissoras e empresas na venda de espaço e tempo televisivo em comerciais. O medium televisivo age de acordo com a economia de mercado à medida que faz de seu sistema informativo um modo de produção que determina consumidores, em níveis diferentes, em uma realidade constituída econômica-social.

Televisão e Informação

A dicotomia emissor/receptor da teoria da informação na televisão é inexistente. A linguagem formada na tevê não cria um espaço de diálogo, seus significantes (sempre rasteiros) são apenas transportados da realidade constituída e direcionados de forma univoca. Se o que configura as relações sociais são as trocas em seus mais variados níveis da sociedade, a tevê impede esta troca, anulando a opinião do receptor (no entanto, conserva a troca dentro dos códigos do mercado que definem produtor e consumidor). A tevê não comunica ou informa, mas impõem. Seu entendimento de comunicação e informação está dentro dos limites da produção, da disciplina e do controle social.

A Televisão e a Palavra de Ordem

O enunciado, unidade elementar da linguagem, é a palavra de ordem (Deleuze e Guattari). O que o tele-espectador recebe do sistema de sinais da tevê são imposições, não há preocupação alguma em que o tele-espectador concorde ou não com os conteúdos emitidos, mas apenas em recebê-los como ordens remetidas de outras ordens, redundância. O tele-espectador se configura como sujeito de enunciado, pois está capturado e preso aos códigos dominantes da lógica mercadológica. Os enunciados emitidos pela tevê são palavras de ordem porque fazem de seu espaço lingüístico-informativo um marcador de poder, uma função linguagem que ordena, que estabelece vereditos.

Televisão e Opinião Pública.

A tevê não emite a opinião pública. O medium televisivo faz da opinião pública uma quimera, um não ente (Espinosa). A tevê transforma a opinião pública em uma mercadoria de troca. Por isto ela é o resultado de sondagens feitas por instituições contratadas ou não (mas sempre dentro da ordem do capital) pelas próprias emissoras que organizam seu público e suas programações de acordo com a necessidade de se alcançar o ibope (medida televisiva que mensura a relação entre redes de tevê e mercado) pretendido. A opinião enquanto artificio composto pelo movimento efetivo dos encontros dos acasos no espaço público, na tevê, em razão de seu claro interesse mercadológico, torna-se impossível.

A Mídia Televisiva e a Opinião Pública

Começa a partir de hoje neste bloguinho intempestivo a coluna intitulada A Mídia a a Opinião Pública. Será movimentada uma análise sobre o medium televisivo e suas implicações no dia-a-dia. Sua linguagem, seu sistema de sinais, sua realidade mercadológica e suas interferências nas várias instituições sociais (família, escola, religião, igreja, partidos políticos, etc.). A quem quiser contribuir com esta coluna com quaisquer tipo de opinião (seja doxa ou impositiva) este espaço é aberto e público.

5 thoughts on “A MÍDIA TELEVISIVA E A OPINIÃO PÚBLICA

  1. Valeu companheiro Carlinhos,
    A corrupção (no sentido aristotélico de alastramento) que a tevê realiza sobre as mentes está para além do sentido cognitivo, mas toca nos blocos de afetos que a subjetividade do capital criou.
    Abraços!

  2. Midia televisiva: o mago hipnótico escravisador de mentes, que faz com que o telespectador desavisado viva num mundo ilusório alienado completamente daquilo que realmente é!

  3. Gostaria de saber a razão de não haverem debates coerentes (com replicas, treplicas)sobre a Pl 122 com pessoas que pertencem aos dois lados(contra e a favor). Sabemos que a midia é em sua grande maioria a favor, mas deveria ser coerente e permitir que as pessoas tivessem a chance de escolher. Que tal a seguinte sugestão: Chame o Pastor Silas e o Deputado Jean, por exemplo.Noticiem e vejam o resultado.

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