BUSH: PARALISIA NA FACE DO CAPITALISMO
O barco do governo Bush continua fazendo água, os ratos fugiram, e parece que o comandante do navio está disposto a continuar inexoravelmente navegando rumo à terra da Liberdade e da Democracia Eternas. Alienado dos acontecimentos e seus efeitos, o comandante continua acreditando – e acreditou desde o início, quanta ilusão – que está com o Leme nas mãos. Nunca esteve.
Como já colocado aqui neste bloguinho, o governo Bush é a expressão de uma forma de produção do capital à qual interessa a especulação financeira e os investimentos sem nenhum tipo de risco. São os atuais capitalistas, cujas decisões são tomadas apenas levando em conta a relação do lucro, em detrimento dos efeitos sociais e políticos. Como no episódio do estouro da bolha do mercado imobiliário americano, onde bancos centrais da Europa (principalmente na Alemanha) tiveram sérios prejuízos, sendo obrigados a repor as perdas dos investidores que venderam casas a quem não podia pagar, sabendo que não podiam pagar, e mais ainda, sabendo que os governos entrariam no negócio arcando com os prejuízos.
O governo de Bush, após duas investidas desastrosas no Oriente Médio (Afeganistão e Iraque), que mais fortaleceram os chamados inimigos do que estabeleceram modelos de democracia à luz do sonho americano, tenta salvar o que ainda resta da sua política internacional cometendo os mesmos equívocos que antecessores já haviam cometido, e que, com muito esforço, alguns antecessores de Júnior conseguiram minimizar com diplomacia e negociação.
ALVOS: IRÃ, VENEZUELA, CUBA, MAR CÁSPIO
Existe muita cortina de fumaça em torno das verdadeiras questões em jogo. Enquanto os mídias colocam a questão EUA-Europa-Irã em termos morais, e até certo ponto de maneira pueril, querendo fazer as pessoas acreditarem que o problema é o desenvolvimento de tecnologia nuclear por parte do país governado pelos aiatolás, a questão central – mais uma vez – é o petróleo. Mais precisamente as reservas sob a região do Mar Cáspio (mais de 140 mil milhões de barris, pelos cálculos mais modestos). Russia, China e os próprios EUA querem avidamente o controle da região. Para tal, no mapa da política internacional, os americanos mantém o controle direto do Afeganistão, Israel e Iraque, e tem influência forte no Paquistão, Turquia, Geórgia e Ucrânia. E quer o Irã. Aos russos, resta confiar na liderança do ex-KGBesta Vladimir Putin, que planeja ‘manter a paz’ na região através do acordo de conveniência com a China, e a influência em países como o Azerbaijão, Turcomenistão e o Casaquistão. Para isso, russos e chineses são constantemente aliados na luta para que o Conselho de Segurança da ONU não tome sanções contra o Irã. Putin não quer conflitos na região, e para isso conta com alguns aliados na Europa, ainda que sua imagem controversa desperte nos vizinhos a ojeriza dos grandes czares de outrora.
Em relação à Venezuela, Bush já tentou retirar o presidente eleito, reeleito e re-reeleito democraticamente, Hugo Chávez, à força, financiando um golpe de estado em 2002 que fracassou. A Venezuela é uma peça importante neste jogo, já que tem uma das maiores reservas de petróleo, e um presidente que insiste em duvidar das boas intenções e da competência dos norte-americanos para com a proteção do mundo. Chávez acredita que a América Latina precisa de autonomia, e insiste ainda mais na necessidade da presença do Estado na economia, para garantia dos direitos civis e do acesso das pessoas aos seus direitos garantidos pela constituição. Para tal, pretende aprovar uma nova constituição que, dentre outras coisas, altera o conceito de propriedade e garante o direito a reeleição indefinidamente. Para os americanos, uma heresia que compromete o próprio conceito de democracia. Embora no Paquistão e no Egito – aliados dos EUA – possa, na Venezuela não pode. Mesmo que sejam eleições diretas, com auditoria internacional. Prova de que os americanos não sabem o que é democracia.
Cuba é caso antigo. Desde a revolução que os americanos aguardam pelo fim do regime da ilha que já foi prostíbulo de luxo dos milionários ianques. Há pelo menos 50 anos, “fontes bem informadas de Washington anunciam a iminente queda de Fidel Castro, que ia despencar em questão de horas”, ironiza, com fino humor, o Obdulio Varela das letras uruguaias, Eduardo Galeano. Bush ainda acredita. Com a aproximação das eleições na ilha – que é exemplo de civilidade e democracia para os EUA e o mundo, diferente das norte-americanas – Bush aproveita para requentar as eternas ameaças. Agora planeja compor um fundo internacional, que seria doado ao país, caso Fidel e a revolução sejam eliminados. Como desconhece que as relações se dão num plano para além da economia e da dor, Bush ignora que a revolução toca na existência das pessoas, não apenas em Cuba mas no mundo inteiro, como uma forma de resistência que aumenta as potências de agir e engendra comunalidades, como mostram os cinemas de Benito Zambrano, Habana Blues, e Win Wenders/Ry Cooder, Buena Vista Social Club.
MÍDIA E DECEPÇÃO
Bush, marionete dos interesses internacionais, desconhece a força das palavras que diz. Prisioneiro da dor de uma existência malograda, sua única reação é causar dor. Bush agora, através das palavras e de seus aliados mais importantes – a mídia, proclamam a terceira guerra mundial, caso o Irã consiga a tecnologia do urânio enriquecido.
A mídia, nesse contexto, age com uma estratégia que o filósofo francês Paul Virilio chama de ‘Decepção’: bombardear as pessoas com excesso de informações, sem uma contextualização que permita às pessoas estabelecer uma linha intensiva afetivo-cognitiva com os acontecimentos, a fim de posicioná-los no mundo e poder se posicionar em relação a ele. Dentro desse vazio do significante que é a notícia produzida pela grande mídia, os interesses perpassam sem que as pessoas possam compreender o que leva o presidente de um país rico e armado a temer uma pequena república teocrática do outro lado do mundo.
O que as pessoas também não sabem é que para Bush, o Júnior, tudo também não passa de uma ilusão. Ele também não compreende a abrangência dos atos que comete em nome dos interesses do mercado internacional. Quando usa o nome de Deus para justificar seus atos, ele sabe que está mentindo. Mas quando a questão é capturar o transbordamento, os efeitos destes atos, ele é incapaz de compreender. Com uma capacidade cognitiva limitadíssima, a moral de Bush é impregnada pelo patriarcalismo-burguês-cristão. Mexeu com papai, mexeu comigo. Não por acaso foi fácil imbuí-lo do interesse passional em derrotar e matar o ex-amigo do papai Bush Pai, Sadam Hussein. Não por acaso Bush vê como ameaça qualquer nação ou pessoa que lhe encare de frente. Com uma existência calcada no medo e na insegurança, só lhe resta reagir da forma que aprendeu: com mais violência. E quando suas fantasias paranóides compactuam com o delírio imperial expansionista do capital, abre-se a possibilidade para acontecer o que atualmente está ocorrendo no mundo. A disseminação do medo, o uso da insegurança pelas forças reacionárias para contaminar o mundo com a dor e com a violência, o fanatismo, o desespero.
Somente com a alegria, o humor, a inteligência, a suavidade é que se podem enfraquecer estes blocos reativos.