PROSAMIM – DO MARKETING COMO NEGAÇÃO DA VIDA

Uma potência está tanto maior quanto está mais próxima da Vida. Quando esta potência-corpo é resultado de encontros que produziram afetos que aumentam sua força vital, então pode-se dizer que esta potência se aproximou da Vida. No entanto, ainda que próximo da Vida (ou como diz Spinoza, da Beatitude), o homem não pode alcançá-la. A partir do momento em que entra na ordem do Desejo o homem nega a Vida, e por isso precisa criar para si modos de existir, que podem ser esteticamente produtivos (quando novamente se aproxima do fogo da Vida), ou negadores da Vida, mais próximos da degeneração, causa da dor que se transforma em objeto de adoração.

As cidades são potências. Mesmo as não-cidades são potências, ainda que potências enfraquecidas, com pouca força de ação em razão dos encontros que realizou, das comunalidades que não conseguiram se realizar, dos governantes que não souberam engendrar a política como festa afetante animadora da democracia.

Em Manaus, as gestões dos últimos 30 anos têm, no âmbito estadual e municipal, carregado uma mesmo processo de enfraquecimento gradual das potências-comunalidades que compõem a política de uma cidade em favor de uma gestão de marketing, interessada muito mais no mostrar/ocultar do que favorecer na cidade manifestações autônomas de atuação política.

E como no marketing vale muito mais enfraquecer as palavras, enfatizar o significante para que o texto toque não na razão-afetividade, mas no sentimento cristalizado das pessoas, então fica valendo tudo. Até falar em REVITALIZAÇÃO.

Orgulho do governo, grande peça publicitária da eleição passada, o PROSAMIM (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus) vende a idéia da melhoria da qualidade de vida através da melhoria da saúde e do entorno urbano. Ganha, diz a propaganda, o ribeirinho (sic) e os habitantes da cidade, com a melhoria das condições ambientais sanitárias e urbanísticas. Recentemente, o governo do Estado, em mais uma investida marketológica na TV, mostrou imagens aéreas do igarapé do Educandos, na parte hoje conhecida como praça do PROSAMIM. Um lindo igarapé, despoluído e reluzente. Mas a coluna Manaus: um passeio pela não-cidade, já sabendo o engodo que é toda peça marketista, foi mais perto – sem helicóptero – e traz as imagens que o Marketing desprezou:

HUMOR PROSAMÍNICO

As alternativas de reassentamento são Bônus Moradia, que consiste numa carta de crédito no valor de R$21mil para aquisição de um outro imóvel em qualquer parte da cidade, desde que este esteja localizado em bairro urbanizado e disponha dos serviços públicos básicos como água encanada, luz elétrica regular e asfalto”. – Sem um bairro sequer que possua rede de esgotos, com mais da metade da cidade com abastecimento precário de água, e com o projeto Poseidon em pleno andamento, terão os moradores beneficiados pelo PROSAMIM que ir morar em Belém?

Ao todo o projeto é de 1956 unidades habitacionais com 54m2 de área construída com sala, dois quartos, cozinha, banheiro e entrada independente”. As casas estilo barroco-globolálico, construídas nos igarapés de Manaus, Mestre Chico e também no de Educandos já foram carinhosamente apelidadas pela população, que não perde a piada, de “casinhas LEGO”.

ANEDOTA ELEITORAL PROSAMÍNICA

Em visita a Manaus ano passado, o presidente Lula foi levado para conhecer a nova praça do Prosamim. Em palanque montado em frente à praça de Santa Luzia, esconderam de Lula as toneladas de lixo retiradas do igarapé horas antes do encontro. Também não mostraram a rede que foi atada próximo à entrada do igarapé para que o lixo recém jogado não passasse bem na hora em que o presidente estivesse discursando. Eduardo guerreiro de sempre Braga chegou a se emocionar, quando lembrou os tempos em que corria as pontes do igarapé com crianças doentes, mães e pais de família com as pernas quebradas de quedas das pontes. Mas nada conseguiu abafar o mau cheiro proveniente das águas poluídas quando o vento bateu. Acostumados, os moradores não ligaram. Mas os assessores estaduais ficaram em polvorosa…

DIZERES POPULARES SOBRE O PROSAMIM

DIZEM que à época em que o governador guerreiro de sempre andava nas obras do PROSAMIM, era comum que assessores tivessem que se virar em cumprir as promessas feitas: casas a mais, empréstimos, telha, madeira, cesta básica, tudo fora do orçamento do projeto, mas dentro das práticas eleitorais manauaras.

DIZEM que muita gente recebeu o valor máximo de indenização por casas que não valiam tanto, e outras, o valor mínimo. Dizem ainda que tudo era uma questão de escolher bem o corretor

DIZEM que o grande investidor do PROSAMIM, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento – responsável por 70% dos 200 milhões de dólares, investimento total do projeto – entrou no PROSAMIM já pensando na sua fatia do bolo da internacionalização da Amazônia. Como se ela já não fosse há muito tempo internacionalizada…

DIZEM que, assim como o Zona Franca Verde é clone do 3º Ciclo, o PROSAMIM seria clone do natimorto Nova Veneza (1997). Tudo de pai para filho.

Colabore com a coluna Manaus: um passeio pela não-cidade, e enfraqueça os blocos de afetos e percepções clichezadas que impedem o engendramento das comunalidades. Mande sua sugestão de tema para afinsophiaitin@yahoo.com.br

 

9 thoughts on “MANAUS: UM PASSEIO PELA NÃO-CIDADE

  1. porfavor tanto ver o meu manaus bonito e moderno mais maravilhoso manaus numca me deixe triste te ano manaus

  2. achei esse site muito bom por mostrar alguns lugares de MANAUS poluído e graças a esse site consegui terminar o meu trabalho de história…

  3. Valeu, companheira Lígia!
    Continue despoluindo a educação!
    Volte sempre e convide os colegas de turma, professores, amigos e amigas!
    Abraços!

  4. Interessante notar que dos $140.000.000,00 era destinado para a Bacia do Educando. No entanto, se abril várias frentes do prosamim na compensa.
    Esqueceram, ou não quizeram lembrar, a parte que cabia â Petropolis,(parte também da bacia, um pouquinho depois do início da bacia do Educandos. Isso significa que a tão clamada REVITALIZAÇÃO comecou do fim e não chegou no começo!

  5. que pena que existam tantas alternativas sobre um péssimo saneamento básico em manaus, já estou cansada de apresentar trabalhos na faculdade sobre o lado podre.Gostaria de apresentar trabalhos sobre um ótimo exemplo de saneamento em nossa cidade,espero que não demoe muito….

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