Quando em uma conferência ou em uma aula, tendo como enunciação a Filosofia das Ciências Neuro-Cognitivas, se afirma que a programação da televisão é para imbecil, ou imbecilizar, uma grande parte do público presente entorta os beicinhos, esculpe uma carranca e bate os pezinhos se sentindo ofendido. Pois não acredita que a universidade da classe média, a TV, como deusa do saber, possa ser tão perversa a ponto de distribuir diploma de imbecilidade aos seus mantenedores. Mas quando o editor chefe do Jornal Nacional da Rede Globo, William Bonner, afirma que o perfil do telespectador padrão do dito JN é o mesmo do obtuso, burro e preguiçoso personagem do desenho da tv americana Homer Simpson, será que este público se sente ofendido? Ou será que ele duvida que o professor Bonner jamais ofenderia tão cruelmente seu fervoroso discípulo? Pois bem, esta afirmação mais detalhada, inclusive com a estratégia jornalística da composição do JN, encontra-se em uma matéria na revista Carta Capital (edição 371), escrita pelo sociólogo jornalista, e professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, Laurindo Lalo Leal Filho, um dos convidados “para conhecer um pouco do funcionamento do JN e algumas instalações da empresa”.

Como se trata da insuspeita Carta Capital, uma das poucas, juntamente com a Caros Amigos, a proporcionar exercício de cidadania jornalístico, seria bom que aqueles que não conseguem ler uma frase inteira, como disse Nietzsche, os “eleitores” das revistas e jornais de salão de beleza e motel, as campeãs de venda de intriga e estupidez, fizessem um esforço hercúleo para ler essa matéria e assim, se possível, mensurar sua dignidade.

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