Encontros Casuais

! – Ele considerou sua vida na cidade em que nascera e decidiu não ser justo, chegado ao 30 anos, permanecer em um lugar dominado pelo passado. Então, seguiu para pegar o trem e partir. Chegou atrasado na estação e o trem já havia partido. Soube da notícia: o trem desencarrilhara e todos ocupantes morreram. Tentou no outro dia avião: o mesmo aconteceu. Tentou várias vezes, chegava atrasado, e ficava sabendo dos desastres. Por fim, decifrou o mistério: a cidade lhe aprisionara. Encontrou uma moça, casou e então, aos 40, foi acometido de uma doença cujo tratamento só seria realizado em outro estado. Preso pela cidade passado, sabia que era inútil partir. Mesmo assim entrou no avião. Com trinta minutos de vôo, a tripulação anunciou o perigo que corriam. Pois-se a considerar seu passado. Viu cenas com seus familiares, amigos, muito sofrimento. De repente, percebeu que nada daquilo lhe era empático. Via seus pais como pessoas outras. Sem culpa, dívida, pessoas vivas autônomas. Sorriu. Uma senhora a seu lado gritou que todos iam morrer. Indagou a si o que era a morte. Se ela existia, naquele avião, era ele. Teve certeza: não havia morte. Dormiu, em meio a turbulência.

!! – Era uma vez uma cidadizinha muito pacata. Tão pacata, que além de dominada pelo silêncio, seus moradores quase não se falavam. Pois bem, havendo um rapaz se apaixonado por um linda jovem, e sem coragem de se aproximar dela, resolveu aprender a tocar violão, acreditando que a música falaria para ela de seu profundo amor. Certa madrugada, já um excelente violonista, foi lhe fazer uma serenata. Nos acordes iniciais, ela apareceu na sacada de sua janela e lhe fez um sinal. Logo abriu a porta e saiu tocando um violino. Da casa esquerda saiu uma jovem tocando oboé, e se juntou aos dois. Da casa direita saiu um rapaz tocando violoncelo. Seguiram para a praça e de repente outras pessoas foram chegando tocando outros instrumento. A cidade ficou tocando até o amanhecer. Todos eram músicos, mas nenhum deles sabia, tal o silêncio em que viviam. A partir desta noite a cidadizinha, que vivia na dependência econômica de outras cidades, até mesmo de um dente de alho, se tornou próspera e seu povo viveu feliz. O rapaz e a moça casaram e viveram em grande felicidade. Ele, com uma moça tocadora de bateria, e ela, com um rapaz tocador de clarineta.

!!! – Meia-noite. O rapaz com um berro na mão, parou o senhor no meio da rua, e gritou que era um assalto. O senhor, calmamente, disse que só tinha duas coisas: a vida e 50 reais. E perguntou, qual das duas ele queria. O rapaz, respondeu que os 50 paus, porque uma vida não valia nada. O senhor discordou afirmando que valia para estudar, trabalhar, ganhar dinheiro, e o melhor, amar. O rapaz então, eufórico, disse que ele ficasse com os 50 e lhe passasse a sua vida. O homem, sorriu, e ponderou que se lhe desse sua vida, ficava com o dinheiro, mas sem vida e o dinheiro sem vida, não tem valor de uso. O rapaz ficou por um momento pensando, e depois concordou com o homem afirmando que neste caso, não adiantava ele ficar com os 50, porque ele não tinha vida. E assim, não podia usar o dinheiro. Agradeceu ao senhor, e partiu pensando como seria sua vida.

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