COMUNIDADE ESCOLAR vs MARKETING SEDUC *
O marketing é uma invenção do mercado (market) para criar uma adequação de uma forma significante em um rosto numa totalidade que garantirão sua verdade e sua realidade. Por isso, e assim, a Secretaria Estadual de Educação e Qualidade de Ensino (SEDUC) anda a espalhar por escolas de Manaus um cartaz sobre uma atividade realizada na Escola Estadual Cleomenes do Carmo Chaves, onde teve um desfile para escolha do garoto e garota da escola como sendo uma espécie de demonstração do trabalho político-pedagógico realizado pela Secretaria.
Para além da realidade fabricada, alunos e professores, de uma maneira geral, sofrendo com o merchandaising governamental, mas escapando dele com sua indignação e atitude de desmistificação, relatam e tomam posição, apresentando outras realidade e verdade do Cleomenes e do sistema educacional estadual. Colocamos aqui alguns depoimentos dessas pessoas que vivenciam o estado da escola Cleomenes e da educação pública no estado do Amazonas e que demonstram um outro ponto de vista, diferente do ponto de vista da Secretaria, tanto que em uma enquete na escola, a maioria dos alunos, segundo eles mesmos, colocou a escola como estando “péssima”.
A nossa escola é uma escola nova, tem seis anos de idade, você olhando pra ela parece uma escola de 15, 25 anos, vidro quebrado, salas sem ar condicionado, os banheiros são de péssima qualidade, o bebedor é um dos piores que tem na escola, falta de funcionário no turno da noite, não tem zelador, não tem segurança. O desfile que foi feito aqui na escola foi feito na rua, não foi feito dentro da escola, como no Marquesiano, no IEA, onde são feitos na quadra. Aqui, nem quadra nós temos. Não temos um auditório, não temos um espaço fixo e apropriado para receber um evento desses. (Douglas de Souza, estudante)
Estão aí falando as mil maravilhas da escola, mas até agora nós não vimos nada. Não há nenhum projeto que fale sobre cultura, a nível de escola, a nível de educação. O marketing do secretário é falso, ele fala, mas a gente não vê, os alunos não vêem, nem os professores. (Dantos Magalhães, estudante)
Eu estou no Cleomenes há dois meses, no turno da noite, e até agora não vi nenhum trabalho pedagógico que tenha vindo da Secretaria Estadual de Educação para ser aplicado aqui na escola. O que eu tenho visto ao longo desses dois meses são iniciativas individuais dos professores para se fazer algum trabalho diferenciado, mas da Secretaria Estadual, aqui, eu não conheço. Eu estou no Estado desde 2001 e infelizmente eu não tenho visto nenhum tipo de apoio, de incentivo a projetos dentro das escolas, pelo menos pelas que eu passei. A escola se move, se movimenta por conta das atividades dos professores. Aí quando você tem um gestor que está preocupado com isso, aí você tem todo o apoio do gestor, mas dizer que a gente tem material, livro pra trabalhar… As escolas que eu trabalhei desde 2001 não tem biblioteca; tem biblioteca, mas não tem livro suficiente; não tem bibliotecário para auxiliar os alunos, você não tem uma sala de mídia, você quer apresentar um filme, não tem uma sala de mídia pra você dizer eu vou dar aula hoje na sala de mídia. Eu não vi, nas escolas onde eu trabalhei, eu não vi em nenhuma ter material que você possa fazer uma aula diferenciada porque a escola está te fornecendo isso porque a Secretaria forneceu, eu não vi ainda. (Ana Cláudia, professora)
Na verdade esse marketing não é o que acontece, o Cleomenes não tem de maneira alguma isso que ele [o Secretário] está divulgando, não há nenhuma ação desse tipo. Nunca ouvi falar ou mencionar algo a respeito desse grupo que vem auxiliando, dando força para os professores, eu desconheço. O ensino pra eles é de fachada, de botar alunos na escola, tem alguns professores que fingem que ensinam, alguns alunos que fingem que aprendem. Os poucos projetos culturais que aparecem são formados aqui na própria escola, idéias de alguns professores ou de algumas turmas que se ajudam e tentam que da melhor maneira fazer com que nossas aulas sejam mais descontraídas, mas da SEDUC nós não temos nenhum apoio. Se o Estado, o governo está querendo usar o nome de uma instituição, deveria pelo menos fazer um pequeno projeto pra fingir que está acontecendo, que está patrocinando, que está havendo uma ação na escola, mas na verdade estão só pegando o nome da instituição, fazendo de conta por aí que uma instituição séria, e nós estamos sendo prejudicados na maneira que o nome do Cleomenes está sendo usado. Os alunos se perguntam: que projeto? Como é que está sendo realizado? Quem está na frente disso? Nós ficamos a nos questionar e sem ter uma resposta. (Wilson Santos, estudante)
Numa escola com tantos problemas, onde professores dizem que até para fazer uma sessão de cinema é dificultoso, onde falta até o pincel de quadro, é antiético que sua imagem esteja sendo usada pela Secretaria como exemplo de atividades culturais, principalmente quando se tem um Secretário com formação em filosofia. Mas, como se diz, há uma distância muito grande entre um filósofo e um professor de filosofia, e como afirma Nietzsche, há filósofos que trabalham para o Estado, falsos filósofos que ajudam a manter sua estrutura. Entretanto, como diz o outro filósofo, Michel Foucault, as estruturas do poder são muito frágeis, qualquer sopro as faz desmoronar, e é isso que os professores estão tentando realizar quando se organizam para desenvolver atividades pedagógicas-artísticas-culturais, como as que começaram nesta sexta, mais uma vez sem qualquer incentivo da Secretaria.
* O afinado Maurício Colares, que trabalha na Esc. Est. Cleomenes do Carmo Chaves desde 2003, comprova que estas questões colocadas aqui por alunos e professores persistem todos os anos e nenhuma posição pedagógica foi realizada até hoje pela Secretaria para solucionar ou mesmo amenizar todos estes problemas apresentados.
Agamenon e seu porqueiro
A verdade é a verdade,
diga-a Agamenon ou seu porqueiro.
— Agamenon: De acordo.
— O porqueiro: Não me convence.
Juan de Mairena, pseudônimo do poeta espanhol Antônio Machado, citado em Pedagogia Profana, de Jorge Larrosa
eu estudei na escola desde que inalgurou em 2001 todo ano entra tres quatro diretor isso sem se falar nos professores estou cusando o terceiro ano e ainda nao estudei fisica porque nao tem professorainda nao sair da escola porque se eu for para outra escola vou ficar reprvada porque nao aprendi prticamente nada o encino aqui e de pessima qualidade tem professor que ate se precupa COM O APRENDISADO dos alunos mais tem alguns que nao ta nem ai para os alunos
Ana Cláudia,
veja que esse artigo foi produzido em 2007 e, pra você que estudou lá em 2008 as defasagens apontadas nesse texto só fizeram recrudescer; pior ainda é saber que não é um caso particular, existe quase a totalidade das escolas estaduais nestas condições. Enquanto isso, o governador do estado do Amazonas, Eduardo Braga, ficou famoso, com direito a oscar pela atuação no DVD Renata, que o acusou pelo milionário superfaturamento na compra de combustível, afora violência contra a mulher e outros crimes constantes na gravação. Assim como em 2007, a escola teve calendário especial para entrar em reforma, mas até agora nada. Vai ser preciso que pessoas como você, que entram numa relação comunitária, tentem modificar a ordem das coisas.
Abraços!