TRÊS CURUPIRADAS SEM CURUPIRA
O curupira é um ente lendário da mitologia brasileira. Segundo alguns estudiosos, habita principalmente a floresta amazônica. Dada sua consciência arrojada, é considerado o maior responsável pelas principais travessuras contra as populações deste local. Adora pregar peças nos outros. Daí se afirmar que tudo que acontece de ruim na floresta é arte do curupira. A acusação sobre si é tamanha, que chega a ser responsabilizado até pelo que não faz. Pois bem, o governo federal, com a intenção de proteger e estimular os enunciados culturais, amparados no poder constitucional, criou o Sistema Nacional de Cultura — SNC, de onde foi elaborado o Plano Nacional de Cultura — PNC, que visa colocar em ação as manifestações culturais de todo Brasil, conjuntamente com a sociedade. De acordo com o Plano, todas as expressões populares, sejam elas negras, indígenas, mestiças, em formas de danças, músicas, mamulengos, artesanatos, etc, receberão incentivos para sua manutenção e produção. Entre os estados que aderiram ao Plano, encontra-se o Amazonas, adesão que nos desencanta nos remetendo às curupiradas.
Curupirada 1 — Como historicamente os secretários de cultura do Amazonas nunca tiveram uma compreensão filosófica do que seja cultura, que não precisava nem ser um entendimento nietzscheano ou guattariano, por tal, foram sempre meros executores de tíbios projetos burocráticos ligados ao proselitismo eleitoral e a suas vaidades fálicas, o que impediu auxiliar na fundação de um espírito estético singular, o Plano terá imensa dificuldade de ser implementado dentro de seus propósitos: mostrar a força política e social das criações oriundas dos saberes e dizeres populares.
Curupirada 2 — Como a maioria dos artistas sempre teve uma postura social e política alienada quanto à fundamentação de suas artes como processo transformador e protetor de uma sociedade criativa, o que lhes colocou na posição de inutilidade necessária à proteção destes secretários, já que sempre viveram das míseras migalhas caídas dos banquetes destes “nobres”, o Plano aqui também encontrará impasse: tudo se reduzirá a financiamento de projetos, sem criar um núcleo contínuo de criação artística e público.
Curupirada 3 — Como o Plano trata de manifestações naturais das próprias comunidades, e como, principalmente, Manaus não possui nenhuma criação tida como cultura popular própria, tudo ficará no faz de conta. Ou no: “Mas se a gente analisar profundamente, isto é, sim, de nossa cultura”. Nada. Nem dança, nem música, nem artesanato… Nem sequer iguarias. “Não! O jaraqui frito é nosso!”. Não é. “Mas a tartarugada é!”. Também não é. Nenhuma manifestação tida como nossa saiu dos emaranhados das potências econômica, política e social produzidas historicamente pela práxis dos povos, como aconteceu com o Bumba-Meu-Boi, o Maracatu… no nordeste. Como ocorre com o originário cultural. E o pior: todos os chamados antropólogos e sociólogos que se envolveram com estes temas, ficaram somente nas imagens superficiais necessárias às suas ilusões acadêmicas, sem jamais perceberem o quanto havia de distância entre os conceitos e objetos de suas pesquisas. Por isto, acreditamos que esta o curupira não vai pagar. E como ele é independente demais para assumir o que não fez, é bem certo que dirá aos humanos que assumam seus humanos: mudem seu plano.
essi saite é horivel
Grabiele, lindona,’essi’ não é ‘saite’. Nisto ele se torna seu. Na próxima venha acompanhada, pelo Marcito, Robério Braga,Joaquim Marinho, Zezinho Carrapicho, Ronaldo Tiradentes, Tenorinho, Dori, Sérgio Cardoso,E ‘si der’, traga também Arthur Neto.
Beijos horroríveis!